Por Marcelo Gaudio*, g1 Campinas e Região


De livro com 800 anos a edições autografadas: conheça Biblioteca de Obras Raras da Unicamp

De livro com 800 anos a edições autografadas: conheça Biblioteca de Obras Raras da Unicamp

Em Campinas (SP), a Biblioteca de Obras Raras da Unicamp (Bora) tem a responsabilidade de guardar alguns dos itens mais raros da produção bibliográfica do mundo, compondo um acervo de mais de 100 mil exemplares.

Nas salas do prédio, há 27 coleções compostas por livros que vão de um manuscrito do século 13 feito em couro de bezerro a mapas de viagens nunca feitas. Nesta terça-feira (23), Dia Mundial do Livro, o g1 mostra algumas das curiosidades do espaço.

👀 Nesta reportagem você vai ver:

Biblioteca de Obras Raras da Unicamp (Bora) possui mais de 100 mil exemplares — Foto: Marcelo Gaudio/g1

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🐂📚 Páginas com pele de bezerro

Livro mais antigo na Biblioteca de Obras Raras da Unicamp (Bora) é um antifonário do século 13 — Foto: Marcelo Gaudio/g1

O livro mais antigo da biblioteca é um volume medieval litúrgico, denominado como antifonário por reunir músicas e coros. Produzido no século 13, foi manuscrito em couro de bezerro e com detalhes em metal.

'Todo com temas florais. Achamos curiosa a marca do uso do livro, porque esses livros ficavam no púlpito da igreja para o orador da missa”, conta Isabella Nascimento Pereira, bibliotecária responsável pelo acervo.

As dimensões surpreendem. Apesar de ter 330 páginas, o exemplar tem 15 cm de largura e, devido à grossura das páginas, pesa cerca de 20 kg.

🗺️ Mapa de uma viagem não realizada

Um dos primeiros mapas do Brasil publicado em 1565 — Foto: Marcelo Gaudio

Para Pereira, mais interessante que o antifonário é o “Terzo volume delle navigationi et viaggi” de Giovan Battista Ramusio. A obra traz um dos primeiros mapas do Brasil, feito por um viajante do século 16, e reúne textos e imagens de locais onde já havia visitado e outros onde pretendia ir.

"Ele vinha fazer uma viagem pelo mundo novo e fez uma suposição do que seria o Brasil, onde seria, como seria [...] Ele previu a viagem que ia fazer, mas não chegou a concretizar essa vinda para o Brasil", revela.

🔬 Livro escolar de história natural

Escrito em 1648, livro de história natural reúne gravuras só encontradas em biblioteca na Alemanha — Foto: Marcelo Gaudio/g1

O “Historia Naturalis Brasiliae: Auspicio et Beneficio Illustriss” foi escrito em 1648 e reúne gravuras e descrições sobre a fauna e flora do Brasil. Um fato curioso, segundo Pereira, é que uma etiqueta indica que o exemplar foi usado em escolas na Holanda ou na Bélgica.

"Provavelmente esse livro foi de um professor dessa escola, então ele usava para dar aula para as crianças. Está todo anotado, porque era material do professor, e tem vários animais e plantas que a gente conhece: café, goiaba. Percorrendo o livro, a gente vai identificando também capivaras", descreve.

Atualmente, existem apenas 300 unidades pelo mundo, mas a edição guardada na Bora se destaca por conter gravuras adicionadas provavelmente pelo professor. Três delas só existem no exemplar da Unicamp e em outro acervo, que fica em um museu da Alemanha.

📖🖋️ Dedicatórias e primeiras edições

Trilogia do Exílio com autógrafo de Oswald de Andrade — Foto: Marcelo Gaudio/g1

A maioria dos livros mais raros da biblioteca está nas coleções de Paulo Duarte e Sérgio Buarque de Holanda, adquiridas pela Unicamp ainda nas décadas de 1970 e 80.

Além de exemplares que se destacam pela antiguidade, existem primeiras edições de grandes autores nacionais, como Guimarães Rosa, por exemplo, que possuem dedicatórias, entre elas:

  • a primeira edição de “Corpo de Baile”, de Guimarães Rosa, de 1960;
  • a “Trilogia do Exílio”, de Oswald de Andrade, publicada em 1922;
  • e “Claro Enigma”, de Carlos Drummond de Andrade, publicada em 1951.

🌎 As raízes de 'Raízes do Brasil'

Coleção Sérgio Buarque de Holanda na Biblioteca de Obras Raras da Unicamp (Bora). — Foto: Arquivo Bora

A obra “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, é a base de estudos sobre a sociedade brasileira, mas passou por diversas edições antes de chegar à atual edição. A primeira delas, segundo Pereira, está abrigada na Bora.

"A primeira [edição] é completamente diferente e possui as referências que ele revisou e anotou, as mudanças que ele ia fazer para os outros. Tem muita coisa que mudou, principalmente o pensamento e a visão dele em relação ao que tinha escrito anos antes", relata a bibliotecária.

📔🏙️ Raridades de Campinas

Campinas Antiga é uma publicação do início do século 20 com descrições das festas ocorridas na cidade em 184 — Foto: Marcelo Gaudio

A biblioteca também reúne livros de interesse local, como o livro “Campinas antiga: as festas de 1846”, que contém descrições de celebrações na metrópole e foi publicado na Casa do Livro Azul, a primeira tipografia no município.

💭 Histórias em quadrinhos

Dentre as coleções, há também uma só de histórias em quadrinhos, doada por um ex-aluno da Unicamp. Segundo Pereira, o acervo possui cerca de 7 mil itens publicados de 1940 a 1990, e inclui histórias como “Turma da Mônica”, do Maurício de Sousa.

“É uma coleção bem interessante e de um material que também é difícil de se encontrar em outras bibliotecas, porque é um material frágil, mais ou menos como os jornais”.

🏠📚 Sobre a Bora

Fachada da Biblioteca de Obras Raras da Unicamp (Bora) — Foto: Marcelo Gaudio/g1

Criada em 1989, a Bora consiste em um acervo de coleções particulares de livros raros e documentos históricos de pesquisadores, professores e pensadores brasileiros. O objetivo principal, segundo Pereira, é preservar e dar acesso a esse material para pesquisas dentro e fora da universidade.

A biblioteca surgiu da junção da Diretoria de Obras Raras, fundada em 1982, e da iniciativa do professor António Cândido, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), de criar um instituto de estudos brasileiros e um espaço para a “guarda do pensamento brasileiro”.

A partir de então, outras coleções foram adquiridas e organizadas em um prédio próprio, inaugurado em 2020. As visitas à biblioteca são de segunda a sexta, das 9h às 17h, mas a consulta ao acervo precisa ser agendada previamente.

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*Estagiário sob supervisão de Gabriella Ramos.

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