Por Gabriella Ramos, g1 Campinas e Região


SÃO PAULO: Manifestantes fazem ato pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff na Avenida Paulista — Foto: Miguel Schincariol/AFP

Qual foi o papel da classe média nos protestos acerca do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff? Para responder essa pergunta, um pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) analisou o perfil socioeconômico, ideológico e político dos manifestantes e constatou uma divisão da classe média em duas categorias:

  • Classe média alta: trabalhadores caracterizados como intelectuais, que exercem autonomia e criatividade no dia a dia, como médicos, advogados, engenheiros e professores universitários. Foram predominantes em manifestações a favor do impeachment.
  • Classe média baixa: trabalhadores que também exercem atividades predominantementes mentais, mas que não têm caráter criativo ou inovador. Foram predominantes em manifestações contra o impeachment.

➡️ Como a pesquisa foi feita?

A tese de doutorado desenvolvida pelo cientista social Gustavo Casasanta Firmino usou como fonte as pesquisas realizadas pelo Instituto Datafolha nos protestos de 2015 e 2016. Os levantamentos trouxeram dados como cor da pele, ocupação, renda e escolaridade dos manifestantes.

O pesquisador também considerou levantamentos coordenados por professores das universidades de São Paulo (USP) e Federal de São Paulo (Unifesp). Além disso, foram realizadas entrevistas com manifestantes e lideranças dos principais movimentos à época: Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Frente Brasil Popular.

➡️ Qual era o perfil socioeconômico dos manifestantes?

  • Considerando os cinco principais atos de rua a favor do impeachment, entre 76% e 81% dos manifestantes passaram pelo ensino superior; 65,05% declararam renda familiar acima de 5 salários mínimos; 74,74% eram brancos; e 58,77% eram homens.
  • Quanto ao perfil ocupacional, 32,92% eram assalariados e registrados; 12,27% informaram ser profissionais autônomos regularizados; e 12,48% eram empresários.
  • Já nas manifestações contra o impeachment, o índice de participantes com ensino superior variou entre 52% e 78%; 45,34% dos manifestantes declararam renda familiar acima de 5 salários mínimos.
  • Os autodeclarados brancos representaram, em média, 55,91% dos presentes. Quanto à ocupação, 25,98% eram funcionários públicos; 31,59% eram assalariados com registro em carteira; e 4,14% eram empresários.

Multidão se reune na Avenida Paulista, em São Paulo, durante protesto contra o governo do presidente em exercício Michel Temer e contra o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff — Foto: Kevin David/A7 Press/Estadão Conteúdo

➡️ Como a presença da classe média influenciou as manifestações?

De acordo com Firmino, as classes médias tiveram um papel ativo e relevante durante a crise do impeachment. A alta classe média, por exemplo, atuou como força motriz dos protestos e foi a única presente de maneira massiva nos atos de rua do período.

"Quanto à baixa classe média, embora ela tenha tido uma participação importante nas manifestações contra o impeachment, não foi em massa para a rua defender o governo da presidente Dilma. A sobrerrepresentação de segmentos nas manifestações contra o impeachment é bastante específica", complementa o pesquisador.

➡️ Por que a divisão da classe média é relevante?

Firmino ressalta que é comum a narrativa que aponta uma sociedade dividida em elite e trabalhadores manuais, "e se desconsidera que existe a classe média, ou então se diz que é muito pequena, são trabalhadores muito específicos, o que eu acho que não é o caso".

"Ou então uma outra perspectiva que entende a classe média como um bloco monolítico e sem fissuras. [...] Quando, na verdade, a pesquisa histórica e a pesquisa sociológica no Brasil já mostram, pelo menos desde a crise de 64, que levou à instalação da ditadura militar, que em momentos de crise política, a classe média tende a se dividir", explica.

Vista geral do plenário do Senado, em Brasília, durante sessão do julgamento final do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

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