A burocracia para a liberação do seguro-desemprego pode demorar até quatro meses em Campinas (SP), reclama os trabalhadores. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou que está criando um novo sistema que tenta identificar fraudes no benefício e a falta de estrutura da unidade da cidade são motivos do atraso.
A cada 10 pessoas que dão entrada no seguro-desemprego, quatro apresentam alguma restrição e são encaminhadas ao Ministério. Segundo o gerente do MTE em Campinas João Batista Amâncio, o problema ocorre porque não há estrutura para atender essa demanda, por isso o agendamento e concessão do benefício demora meses.
"Só temos duas pessoas atendendo o seguro-desemprego, com um limite de 150 atendimentos por dia. Para termos uma ideia, não temos nem copos descartáveis para oferecermos aos funcionários, estamos sem papel sulfite, então é uma situação de penúria. (...) Estamos sofrendo ameaças de agressão cotidianamente das pessoas, porque nós entendemos o drama de cada uma dessas famílias, que hoje só tem seguro-desemprego", diz.
Campinas (Foto: Reprodução/ EPTV)
Uma equipe do Jornal da EPTV, afiliada da TV Globo, esteve nesta quarta-feira (8) no MTE e flagrou filas e pessoas que não conseguiram atendimento prévio. A operadora de telemarketing Valquíria dos Santos está desempregada há um mês, mas ainda não conseguiu dar entrada no seguro-desemprego. Ela conta que quando foi ao poupatempo apareceu a mensagem: vínculo não encontrado ou divergente.
Valquíria conta ainda que conseguiu agendamento só para setembro. "São quase quatro meses que eu vou ficar esperando e não receber nenhuma única parcela, nem um nada", reclama a desempregada. Além dela há outras pessoas na mesma situação, que acordam cedo e vão para a fila do MTE para saber o por quê da demora.
Viagem para resolver problema
A vendedora Maíra Luana da Silva está em uma situação ainda pior. Ela e o sogro trabalhavam em Valinhos (SP) e se mudaram para o Mato Grosso depois da demisão, como o benefício está bloqueado tiveram que viajar de ônibus para tentar resolver o problema em Campinas.
"Nós gastamos dinheiro atoa para vir. Viajar três dias e não conseguir encaixe, não conseguir nada e com criança pequena ainda. A gente gastou R$ 400 por pessoa para vir", afirma Maíra. A situação tem se repetido todos os dias no MTE, as pessoas enfrentam filas e saem do local sem uma solução.
Tentar a sorte para antecipar agendamento
Muitos trabalhadores fazem o agendamento por telefone, mas vão até o MTE para não ter que esperar tantos meses. A auxiliar de enfermagem Renata Barbosa de Jesus é uma dessas pessoas que não queria esperar até setembro e tentou nesta quarta-feira uma antecipação.
A possibilidade de adiantar surgiu, mas parece uma loteria. "É para eu tentar nesse site, na segunda, terça e quarta, tem que ser às 16h em ponto, tentar por sorte uma das 20 vagas para o outro dia. Ou senão fica agendado para setembro", afirma Renata.
A vendedora Rosiane Mendes Polsak também está indignado com esse descaso pois foi demitida em abril e só tem agendamento para o seguro-desemprego no fim de julho. "Hoje eu estou desempregada, meu marido está desempregado, a gente não está conseguindo um emprego, está extremamente difícil", diz.
Rosiane se preocupa ainda mais pois tem dois filhos de 5 meses e um de 8 anos. "Não tenho da onde tirar o meu sustento, você não consegue dormir, você pensa 'o que eu vou fazer?', você não consegue um serviço, não consegue receber o seguro-desemprego, não consegue nada, é desesperador", afirma a vendedora.
Posição do MTE
A assessoria de imprensa do Mnistério do Trabalho informou à EPTV que o sistema está sendo atualizado, e que isso é necessário para evitar fraudes de cadastros. O problema seria nas divergências de informações entre o Ministério e Caixa Econômica Federal.
Sobre a equipe reduzida, o Ministério afirma que um novo concurso deve ser feito, mas sem data prevista. Já sobre a falta de materiais, como copos plásticos e sulfite, foi confirmada a distribuição.