Por Clara Sganzerla*, g1 Bauru e Marília


Referência nacional: Museu de Paleontologia de Marília comemora 20 anos com mais de 2 mil fósseis — Foto: Prefeitura de Marília/Divulgação

Neste mês de novembro, um local de relevância internacional no interior de São Paulo fez aniversário. São 20 anos do Museu Paleontológico de Marília (SP), que carrega fósseis de dinossauros e de outros seres pré-históricos que viveram na região há cerca de 70 milhões de anos.

O surgimento do local foi impulsionado pelas descobertas do paleontólogo William Nava, que se encantou pela topografia de Marília quando se mudou para a região, na década de 1970, e passou a pesquisar sobre informações do relevo e as rochas existentes na biblioteca do município.

No entanto, foi apenas em 1993 que o primeiro fóssil de dinossauro foi encontrado na cidade, descoberta que colocou Marília no Jornal Nacional, em anúncio feito por Cid Moreira, apresentador do telejornal da Rede Globo na época. A notícia, de junho daquele ano, dizia respeito a um achado em Padre Nóbrega, em Marília, o primeiro por aqui, feito por Willian.

Nava escava rocha contendo fósseis de aves da Era dos Dinossauros — Foto: Willian Roberto Nava/Arquivo pessoal

Em entrevista ao g1, o paleontólogo relembra como o fóssil teve importância e repercussão: "Projetou Marília para todo o Brasil", relembra. Desde então, a região tem revelado ser um dos principais potenciais fossilíferos da América do Sul, fruto do trabalho de mais de 31 anos.

Sem local físico para colocar tantas peças importantes para a história, não existia outra opção sem ser a criação do museu, que é casa de mais de 2 mil fósseis de dinossauros e criaturas pré-históricas. Para marcar a data, o g1 relembra as principais descobertas e momentos do local desde sua criação, em 2004.

Reconhecimento

Dentre os trabalhos notórios de Nava, uma de suas descobertas grandiosas foi feita enquanto vasculhava o solo de Marília em 2009: o paleontólogo descobriu os ossos do mais completo titanossauro já encontrado no Brasil, com 70% do esqueleto preservado, em uma parceria com a Universidade de Brasília (UNB).

Em 2013, os Correios de Marília homenagearam os 20 anos da descoberta do primeiro fóssil no município com a criação de carimbo e selo personalizados, que foram utilizados nas postagens de correspondências oficiais do período.

Correios de Marília (SP) lançaram selo e carimbo comemorativos em 2013 — Foto: Prefeitura de Marília/divulgação

O reconhecimento mais recente foi divulgado no dia 14 de novembro, em uma das revistas de maior prestígio internacional, a Nature, e revelou uma nova espécie de ave pré-histórica. O fóssil foi encontrado no Sítio Paleontológico "José Martin Suárez", no ano de 2015, em Presidente Prudente (SP), também por Willian Nava.

Estudo de descoberta de fóssil inédito de ave é publicado em revista científica

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O paleontólogo encontrou o crânio do pássaro e parte do esqueleto, e surpreendeu-se com a conservação do material, que possibilitou informações relevantes para entender a origem das aves modernas. O nome da espécie, Navaornis hestiae, é uma homenagem a William.

"Foi uma grande surpresa me deparar com ossinhos de morfologia diferente, formando um crânio, contendo, inclusive, o bico preservado, as órbitas e outras estruturas ósseas, tudo preservado em 3D. Crânios fósseis são muito raros de se encontrar nas rochas sedimentares de idade Cretácea do Brasil, portanto, esse achado foi especial", disse Nava.

WIlliam Nava, paleontólogo do Museu de Marília (SP), com sua descoberta de prestígio internacional — Foto: William Nava/Arquivo pessoal

Solo privilegiado

Um dos fatores que colaboram para que as descobertas aconteçam na região de Marília é o relevo colinoso. A área possui uma topografia bem acidentada, cheia de colinas - não à toa, é conhecida como Planalto de Marília.

"Por causa das serras, quando as rochas são cortadas nas obras feitas pelo homem, os sedimentos ficam expostos. Isso facilita a localização de fósseis", explica Nava.

Além de favorecer a descoberta dos ossos, a região ainda ajuda na preservação deles. Isso porque o solo local é rico em carbonato de cálcio, uma substância muito presente nas águas de antigos rios e lagos, na longínqua Era dos Dinossauros.

Paleontólogo William Nava realizando escavação em sítio paleontológico, em Presidente Prudente (SP) — Foto: Leonardo Bosisio/g1

Futuras gerações

Para William, gerir um museu não é fácil, ainda mais se tratando da área de paleontologia, um tema específico e com poucas instituições voltadas a essa ciência no Brasil afora, mas ele se orgulha pelo patamar que a instituição atingiu e pelo compromisso de divulgar os achados fósseis.

O paleontólogo ainda ressalta que o museu tem um diálogo com a população, fomenta o turismo e faz com que jovens e crianças se interessem pela área: "Espero que ele continue vivo para as futuras gerações, com seu acervo científico e sua proposta de expandir o conhecimento", afirma.

"Por tudo isso e outros acontecimento mais, sou muito grato e feliz por estar ajudando no progresso das ciências naturais do Brasil", finaliza.

WIlliam Nava, paleontólogo, é um dos diretores do Museu Paleontológico de Marília (SP) — Foto: Reprodução/Pedro Teixeira

*Colaborou sob supervisão de Mariana Bonora

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