Escolher uma profissão para seguir não é tarefa fácil para ninguém, ainda mais para quem acabou deixar a vida escolar e está prestes a iniciar a “vida adulta”. Para dois estudantes de Bauru, a confirmação da primeira opção do vestibular 2014 da Unesp foi marcada por incertezas.
Apesar de ter apenas 19 anos, Rennan Eduardo Campoy, se prepara para tentar entrar no terceiro curso superior. Morador de Pederneiras (SP), o jovem intensifica os estudos no cursinho promovido pela Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação (Faac) para prestar a prova para ciências da computação, que conta com 24,6 candidatos por vaga.
Mas, antes de decidir por ciências da computação, Rennan fez um ano de administração em uma faculdade particular da cidade onde mora e cursa o primeiro ano de matemática, que este ano tem a concorrência de 4,3 candidatos por vaga, também na Unesp. Segundo o jovem, a escolha por administração não veio do nada e foi definida por questões financeiras e familiares. “Fiz um acordo com a minha família e escolhi administração em Pederneiras. Cursei um ano, mas não deixei de estudar. Prestei o vestibular novamente e entrei em matemática, foi quando eu resolvi trancar a faculdade”, diz.
Ao contrário dos outros estudantes, que procuram profissões de acordo com suas afinidades, Rennan "remou contra a maré" e escolheu a matemática, disciplina que tinha mais dificuldade na época de colegial. “Sempre vi que não sabia o suficiente de matemática e pensei que: por que não fazer algo que eu não sei? Não me vejo como indeciso, e sim alguém que procura por novas oportunidades”, ressalta. Se passar em ciências da computação, o jovem vai deixar o curso de matemática.
Apesar das matérias serem diferentes, Rennan acredita que todos os três cursos superiores se complementam. "Mesmo sendo diferentes, sei que os cursos vão me acrescentar muito. Por exemplo, a administração será útil para meu futuro negócio, a matemática para o raciocínio e o sonho de ciências da computação para trabalhar com programação de softwares”.
artes cênicas (Foto: Ana Carolina Levorato/G1)
Psicologia ou artes cênicas?
A estudante Amanda Moraes também teve dificuldade em confirmar a primeira opção para o vestibular 2014 da Unesp. Moradora de Duartina (SP), a jovem de 18 anos escolheu psicologia, mas se diz “muito propensa” ao curso de artes cênicas.
Apesar da grande diferença entre os cursos, Amanda explica que a intenção do estudo é a mesma. “Procurei a psicologia como uma oportunidade de estudar uma matéria que envolva o corpo humano. Não sei se é algo em que eu quero atuar, mas tenho muito interesse em aprender como funciona a mente das pessoas. Já artes cênicas é uma questão de amor. Tenho paixão pelo palco e por atuar."
A predileção por artes cênicas surgiu após ter sido convidada para fazer parte do elenco em uma peça teatral. No entanto, Amanda diz que nunca conseguiu fazer aulas de teatro. “Tentei estudar teatro em Bauru, mas não deu certo. Meus pais ficaram preocupados de eu viajar todos os dias. Então, na faculdade, acho que seria uma oportunidade perfeita para juntar o que eu amo”, comenta. Apesar da opção pela psicologia em primeiro lugar no vestibular da Unesp, ela prestou vestibular para artes cênicas este ano na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e aguarda a A lista dos classificados para a segunda fase, que sai no dia 22 de novembro.
Fazendo cursinho, Amanda conta que encontrou uma sala repleta de alunos divididos entre as opções de medicina e engenharia, e que suas escolhas, um tanto quanto inusitadas, causaram estranheza nos candidatos. “A minha dúvida foi na questão de qual caminho seguir e não se uma profissão ganhava mais dinheiro que a outra. Alguns riram quando eu falei de artes cênicas, mas tenho o apoio dos meus pais que sempre me incentivaram a procurar o que eu gosto."
Apesar de escolher duas opções de carreiras distintas, a jovem de 18 anos ainda pretende fazer vários outros cursos. “É apenas uma prova, mas é impressionante ver o quanto a gente fica estressado. Só quero que essa fase passe logo. A ansiedade é muito grande. Tenho vontade de fazer música, jornalismo e filosofia. Com tudo o que eu quero fazer, acho que só vou me formar com 50 anos”, brinca.
'Comunicação é certeza!'
Enquanto alguns estão em dúvida, a estudante Vitória Sá tem uma certeza há muito tempo: prestará vestibular para cursos na área de comunicação. Com 20 anos, a estudante está no segundo cursinho e prestará, este ano na Unesp, Relações Públicas. Ela também tentará Fuvest, mas para o curso de jornalismo.
Por conta da concorrência de 13,2 candidatos por vaga, Vitória intensificou a revisão dos exercícios e mantém a véspera da prova uma rotina apertada de oito horas de estudo em casa e mais quatro horas de aulas no cursinho. “Estou tensa desde do começo e agora na reta final é manter o foco e estudar ainda mais”, diz.
comunicação (Foto: Ana Carolina Levorato/G1)
Segundo a estudante a não exigência do diploma para jornalismo desde 2009, curso que está como segunda opção na Unesp, não influenciou na sua decisão. “Sempre quis comunicação. Algumas pessoas criticam porque jornalismo não precisava de diploma, mas nunca liguei para isso porque quero fazer o que amo”, comenta. “As pessoas querem que eu parta para profissões que façam concurso público, mas nunca pensei nisso. Queria uma profissão que tivesse sempre em contato com o ser humano, que não tivesse rotina e que pudesse me surpreender sempre. Encontrei isso na comunicação e não tenho outras opções."
A escolha da estudante pode ter uma ajuda a mais da legislação, já que na terça-feira (12) a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) aprovou proposta de emenda à Constituição que estabelece a exigência do diploma de curso superior em jornalismo como requisito para o exercício da profissão. Em 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a exigência do diploma para jornalistas, mas não havia regra explícita sobre o assunto na Constituição Federal.
Autoconhecimento
Para a psicóloga Luciana Silva Vanelato, especialista em psicologia organizacional do trabalho, a dúvida na hora de escolher uma profissão ou que curso prestar no vestibular passa pela dificuldade em identificar as habilidades e falta de autoconhecimento.
“Descobrir o que não gosta de fazer já é um grande passo, você já consegue eliminar várias ocupações. Mas o importante é buscar informação, descobrir o que se faz em determinada profissão. Uma fonte legal é o Código Brasileiro de Ocupação e também buscar diálogo com profissionais. Descobrir como é o dia a dia de um médico, de um engenheiro, ir atrás das informações e conhecimento”, destaca.
Começar vários cursos e mudar, de acordo com a psicóloga, faz parte da busca pelo autoconhecimento, por aquilo que gosta de fazer, mas é preciso ter equilíbrio para não criar frustrações e angústias acerca do futuro profissional. “Se isso for uma busca muito longa, a pessoa começa um curso, depois outro e tempo passando talvez seja o momento de procurar um profissional, uma orientação vocacional. A busca da auto realização profissional é importante, mas não pode ser algo crônico”, explica.
Luciana destaca ainda a importância dos pais e professores nesse processo. “Eles tem uma responsabilidade importante em ajudar o jovem a desenvolver suas habilidades e buscar nelas uma profissão”, finaliza.