“Nunca pensei que fosse ser pai.” Essa é uma frase que não pode mais ser dita pelo oficial de justiça Erundino Prado Júnior, de 54 anos, pois na manhã do dia 16 de agosto de 2012 uma ligação de sua irmã mudou esse pensamento. Morador do município de São Cristóvão, região da Grande Aracaju, Erundino se tornou o pai adotivo da pequena Marie Cecília, de 1 ano, e conseguiu inclusive direito a licença.
Em janeiro deste ano, Erundino conseguiu ter o pedido de guarda definitiva deferido pela Justiça, e a criança tem na certidão de nascimento o nome do novo pai.
A nova lei da licença maternidade, sancionada em 2002, estendeu o direto para mães adotivas e se restringe apenas às mulheres. A primeira licença após adoção para pais foi concedida a um psicólogo no estado do Maranhão. Erundino foi o segundo a obter a licença. A decisão do Tribunal de Justiça de Sergipe foi baseada nos princípios constitucionais da igualdade e da proteção ao menor.
“Fui pego de surpresa. Minha irmã me ligou e perguntou se eu queria adotar uma criança com apenas 1 mês de nascida, mas precisava decidir rápido porque outra pessoa poderia adotá-la”, recorda.
Muito abalado com a ligação da irmã, o oficial de Justiça revelou o quanto sua religiosidade foi fundamental para tomar a decisão de ser pai. “Eu tive medo, pois cuidar de uma criança sem esperar foi um choque para mim. Passei uns dois dias pensando e, como sou religioso, fui até meu quarto buscar um sinal com Nossa Senhora de Lourdes.”
Os dias se passaram e a decisão de se tornar pai finalmente foi tomada. “Minha imã havia falado que as condições futuras do bebê poderiam não ser das melhores. Então fiquei com aquilo na cabeça e, ao ficar de frente para a santa e orar para Deus, parecia que havia recebido um aviso. Foi daí que tive a certeza que iria ser pai.”
Com a decisão tomada, Erundino procurou os meios legais para tornar sua filha uma cidadã. “Fui ao Ministério Público, que, por sua vez, me encaminhou para o Conselho Tutelar, que preparou toda documentação de praxe. Lá me disseram que seria pai e mãe, pois ia constar do registro. Portanto, aceitei as propostas da lei.”
Segundo ele, a adoção acabou gerando um instinto paternal e maternal ao mesmo tempo. “Hoje eu fico observando outras crianças e, às vezes, fico preocupado se ela está tendo o devido tratamento. Criei um sentimento de superproteção. Não posso ver uma mãe levantar a voz para o filho que fico com vontade de dar uma bronca nela, além de querer criá-lo.”
(Foto: Flávio Antunes/G1)
A paternidade de Erundino já proporcionou momentos importantes na vida dele. O pai da pequena Marie lembra do primeiro aniversário.
"Entreguei minha filha de forma simbólica para ser batizada por Nossa Senhora de Lourdes. Achei tão lindo e fiquei emocionado ao ver a santa como madrinha de Marie. Foi uma emoção igual a realizar o aniversário de um ano dela. Mas o dia em que ela não parava de chorar até vir para meu colo foi o que me realmente fez sentir o quanto tinha que ser pai."