Pesquisadores encontraram glitter em amostra dentro de ostra em Santa Catarina — Foto: IFSC/Arquivo Pessoal
Duas semanas após o carnaval de 2023, uma ostra que chegou ao laboratório do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), em Itajaí, foi observada no microscópio. Imediatamente, pesquisadores perceberam pontos de brilho no alimento: Era glitter. Na mesma pesquisa que motivou a análise, microplásticos também foram encontrados em mariscos no Estado - que é o maior produtor nacional dos moluscos.
A análise que permitiu os estudantes do curso técnico em Recursos Pesqueiros encontrar os brilhos dentro da ostra faz parte da pesquisa chamada 'Investigação da presença de microplásticos em moluscos de cultivo em Santa Catarina'. Ela é desenvolvida pelo instituto desde fevereiro.
Três meses depois, o grupo já analisou cerca de 60 amostras dos alimentos cultivados no mar das cidades de Penha e Bombinhas, no Litoral Norte catarinense. Em todas elas, os pesquisadores encontraram ao menos um fragmento de microplástico.
Coordenador da pesquisa, o professor Thiago Pereira Alves explica que a proposta do grupo é realizar análises das ostras e mexilhões em cada uma das estações do ano para sensibilizar e alertar a população sobre os riscos do consumo do microplástico. Isso ocorre porque, segundo o especialista, os animais ingerem a substância que está cada vez mais presente no oceano durante a alimentação.
"Tanto os mexilhões, que a gente chama de marisco, quanto as ostras filtram a água para tirar o alimento, que é fitoplâncton que a gente chama de microalga. A problemática é que durante o processo de degradação do plástico, essas partículas se misturam com o alimento do molusco", afirma.
Imagem da direita mostra que filamento vermelho é fibra plástica. Da esquerda, fragmento azul é plástico de 100 micrômetros ou 0,1 milímetro — Foto: IFSC/Divulgação
Segundo a Epagri/Ciram, é em Santa Catarina que se produz a quase totalidade da produção nacional de mexilhões, ostras e vieiras. O estado é responsável por mais de 95% da produção nacional, proporção que se mantém praticamente constante desde 2013, segundo o órgão.
Apesar de contar com apenas 1,2% do território nacional, Santa Catarina se destaca na produção da aquicultura. Além de Bombinhas e Penha, Florianópolis e Palhoça também têm grande percentual na produção dos mexilhões.
Os perigos do microplástico
Por conta da grande produção dos animais no marítimo catarinense, o professor explica que há preocupação em relação ao futuro da espécie, além do consumo desses animais pelo ser humano.
“O plástico num fragmento pequeno continua sendo plástico. O plástico a gente não digere, ele pode passar pelo trato digestivo e, durante esse processo, pode liberar substâncias que podem ocasionar problema crônico de longo prazo”, afirma.
Foto: Walter Ruggeri Waldman, professor associado da Universidade Federal de São Carlos, SP; Maíra Carneiro Proietti, professora adjunta do Instituto de Oceanografia - Universidade Federal de Rio Grande; Geyer et al. (2017); Plastic Soup Foundation | Infografia: Ben Ami Scopinho
Foto: Walter Ruggeri Waldman, professor associado da Universidade Federal de São Carlos, SP; Maíra Carneiro Proietti, professora adjunta do Instituto de Oceanografia - Universidade Federal de Rio Grande; Geyer et al. (2017); Plastic Soup Foundation | Infografia: Ben Ami Scopinho
Para Alves, a pesquisa não busca apenas contabilizar o número de fragmentos de plástico dentro das ostras e mariscos no litoral catarinense, mas também debater sobre a questão da poluição dos mares. Segundo ele, o estudo mostra que o plástico "afeta o ecossistema marinho e todos os organismos que dependem do ecossistema para se alimentar.
“O objetivo é a gente sensibilizar e alertar a população de que os nossos hábitos, nossas práticas de não dar uma destinação correta pro nosso lixo, acaba fazendo com que esses resíduos cheguem nos rios, cheguem nos mares”, explica.
Foto: Walter Ruggeri Waldman, professor associado da Universidade Federal de São Carlos, SP; Maíra Carneiro Proietti, professora adjunta do Instituto de Oceanografia - Universidade Federal de Rio Grande; Geyer et al. (2017); Plastic Soup Foundation | Infografia: Ben Ami Scopinho
Além do professor Alves, participam da pesquisa cinco estudantes do ensino médio do IFSC. A expectativa é terminar a pesquisa até o fim do ano.
Como é feita a pesquisa
Quando chegam ao Laboratório Oficial de Análise de Resíduos e Contaminantes em Recursos Pesqueiros (Laqua), no Câmpus Itajaí, os moluscos são abertos e os pesquisadores retiram o trato digestivo dos animais para iniciar a análise. O material é colocado em solução alcalina por 48 horas e, após esse período, passa por um processo de filtração onde que ficam apenas os microplásticos.
Segundo a pesquisa, os resíduos têm cerca de cinquenta micrômetros e não podem ser vistos a olho nu. Os materiais têm diferentes colorações, o que leva os estudantes a suspeitar que os verdes, por exemplo, remetem ao plástico de garrafa PET. Já os pontos que parecem trançado lembram resíduos de corda de pesca ou de maricultura.
Maiores produtores de lixo (2016) — Foto: Walter Ruggeri Waldman, professor associado da Universidade Federal de São Carlos, SP; Maíra Carneiro Proietti, professora adjunta do Instituto de Oceanografia - Universidade Federal de Rio Grande; Geyer et al. (2017); Plastic Soup Foundation | Infografia: Ben Ami Scopinho
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