Por Joana Caldas, g1 SC


Veja imagens da evolução dos arranha-céus em Balneário Camboriú

Veja imagens da evolução dos arranha-céus em Balneário Camboriú

O turismo, o tamanho limitado da cidade e a compra de apartamentos como investimento são alguns dos fatores apontados por especialistas para que Balneário Camboriú, no Litoral Norte, atraia construções de arranha-céus.

A cidade tem dois dos três edifícios prontos com maior altura do país, segundo o site The Skyscraper Center. Os especialistas ouvidos pelo g1 também declaram que a tendência de prédios altos deve continuar.

"Os prédios de luxo, as torres, têm muito a ver com o perfil da cidade, esse turismo. Para o público D e C, já tinham prédios mais simples [anteriormente]. A cidade começou a se destacar, as empreiteiras grandes quiseram se especializar no público A e B", diz a historiadora Mariana Schilickmann.

Vista dos prédios na orla da Praia Central de Balneário Camboriú após alargamento da faixa de areia — Foto: Clarìssa Batìstela/g1

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Histórico

Balneário Camboriú foi fundada em 1964, emancipando-se da vizinha Camboriú. A historiadora Mariana Schilickmann, que escreveu o livro "Do Arraial do Bonsucesso a Balneário Camboriú", diz que a característica de prédios altos na cidade começou mais forte já na primeira década de existência do município.

"Nos anos 1950 e 1960, tinha pouquíssimos prédios em Balneário Camboriú. O primeiro residencial é o Edifício Eliane, de quatro andares, sem elevador", afirma.

Esse edifício surgiu em 1959.

Hotel Fischer em 1970 — Foto: Reprodução/Arquivo Histórico Municipal de Balneário Camboriú

Antes dele, o destaque da cidade em termos de prédio alto era o Hotel Fischer, inaugurado em 1957, e considerado o primeiro de luxo de Balneário Camboriú, conforme o livro. "Foi construído em duas etapas. Primeiro, tinha quatro andares. Na segunda etapa, nos anos 1970, teve mais de 10 andares", afirma a historiadora. O hotel já foi demolido e haverá outro prédio, agora mais alto, no lugar, na Barra Sul.

Hotel Fisher, demolido em 2012, à esquerda, e Fischer Dreams, à direita, que está sendo feito em Balneário Camboriú — Foto: Procave

Turismo

Foi na década de 1960 que houve uma alta no turismo, o que, inclusive, ajudou na emancipação de Balneário Camboriú, conforme a historiadora. Com ele, surgiu a necessidade de mais locais para abrigar o visitante.

Prédios na orla da Praia Central durante corrida de calhambeques em 1974 — Foto: Reprodução/Arquivo Histórico Municipal de Balneário Camboriú

Nesse quesito, torna-se importante uma outra característica da cidade: o tamanho. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área territorial de Balneário Camboriú é de 45,214 quilômetros quadrados. Significa que é o segundo menor município de Santa Catarina, atrás apenas de Bombinhas, na mesma região, que possui 35,143 quilômetros quadrados.

Praia Central de Balneário Camboriú em 1965 — Foto: Carlos Alberto Schlup/Arquivo pessoal

Tanto a historiadora quanto o professor de gestão financeira da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) Crisanto Soares Ribeiro afirmam que o tamanho limitado da cidade estimulou a construção de prédios. E eles também influenciam em outro fator: a segurança.

"Para o turismo, precisa ter espaço, mais segurança. Algumas das construções mais antigas vêm essa tradição. Nos prédios, uma coisa vai puxando a outra. A arquitetura chama a atenção, que chama turismo. O turismo chama as pessoas, que vêm e querem ficar", resumiu a historiadora.

Praia Central de Balneário Camboriú, já com diversos prédios, na década de 1990 — Foto: Prefeitura de Balneário Camboriú/Divulgação

Para os turistas, estar perto do que se pretende visitar também conta, argumenta o professor. "As praias trazem um atrativo a mais para as pessoas, proximidade. Muitas áreas de Balneário Camboriú são possíveis de visitar com caminhadas. Isso favorece maior concentração [de pessoas], o que favorece os prédios".

Edifícios altos e alto padrão

Um fator mais atual da cidade relacionado aos prédios é o preço do metro quadrado. Uma pesquisa com 50 cidades brasileiras, o Índice FipeZap, divulgou em 5 de abril que Balneário Camboriú tem o metro quadrado mais caro na média de venda de imóveis residenciais. O preço médio é de R$ 9.888 o metro quadrado. A cidade catarinense ultrapassou São Paulo, que ficou em segundo lugar na lista.

O professor afirma que o alargamento da faixa de areia da Praia Central, que ficou pronto em dezembro, tem relação com a alta nos preços. "Esse incremento que a gente percebeu se deu muito pela obra de alargamento. Esse foi um fator que traz possibilidade de melhor infraestrutura turística", resume.

Barra Sul, na Praia Central, em Balneário Camboriú — Foto: Ana Lucia Arantes/Arquivo pessoal

Mariana Schilickmann destaca também fatores históricos para a existência dos prédios de alto padrão na cidade.

"Nos anos 1990 e 2000, começaram a crescer os prédios de alto padrão. Antes, eram mais simples, para essa ideia do veraneio. O turista passa um feriadão, as férias, um fim de semana. O veranista passa três meses na cidade. Por isso, os prédios eram muito mais simples. As pessoas mal ficavam dentro dos apartamentos, ficavam na rua. Os apartamentos eram mais para dormitórios", explica a historiadora.

Barra Sul durante obra de alargamento da faixa de areia da Praia Central — Foto: Divulgação PMBC

O professor enfatiza também a compra do apartamento como investimento. "Os atrativos de Balneário Camboriú, por ser um polo turístico, favorecem investimentos nessa área. Muitos investidores estrangeiros e de outras regiões investem em face do turismo mais acentuado", afirma.

Tanto ele quanto Schilickmann pensam que a cidade provavelmente vai continuar com a construção dos prédios altos. "Acredito que esta tendência vai continuar, sim. Contudo, acredito que pela realidade do país, devem ter mais prédios de padrão médio", diz o professor.

A historiadora também cita a questão econômica. "Esses superedifícios de alto padrão puxam o valor dos imóveis para a estratosfera e as pessoas comuns, da classe média as mais baixas, não têm condições de viver em Balneário [Camboriú], que usa as cidade vizinhas como dormitório", afirma.

O g1 entrou em contato também com a prefeitura e não havia obtido retorno até a última atualização desta reportagem.

VÍDEOS: Alargamento da faixa de areia em Balneário Camboriú

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