Cigarro eletrônico atrai adolescentes em SC
O uso dos cigarros eletrônicos por adolescentes tem preocupado médicos em Santa Catarina. Mesmo com venda proibida no Brasil, esses dispositivos são oferecidos em lojas e na internet.
Conhecidos como "Vapes" ou "Pods", surgiram com a promessa de ajudar fumantes a largar o vício do cigarro convencional. Contudo, segundo pneumologistas, o dispositivo eletrônico não ajuda a parar.
"O que mudou foi o dispositivo, o veículo, mas a droga continua sendo a mesma que é a nicotina. Existe um tratamento pra você ficar livre disso. O cigarro eletrônico você vai continuar usando nicotina e vai continuar dependente da droga", explica a médica pneumologista Renata Viana.
Os dispositivos podem ser recarregáveis, com bateria, e até descartáveis. Eles podem possuir até sabor de fruta, o que atrai novos consumidores como os adolescentes (veja mais abaixo).
"A indústria percebeu que vinha perdendo ao longo das últimas décadas muitos usuários do cigarro convencional. Todo mundo sabe que o cigarro faz muito mal, mas quando você traz uma nova cara pra mesma droga, de preferência um instrumento tecnológico, com designer bonito, cores diferentes, isso acaba atraindo novos usuários", pondera a médica pneumologista Renata Viana.
A diferença entre a dispositivo em um cigarro comum é que, ao invés de queimar, a nicotina é vaporizada. A dosagem de nicotina, que tem alto poder viciante, varia de acordo com o fabricante. O Instituto Nacional de Câncer, o INCA, afirma que esses dispositivos não são seguros e possuem outras substâncias tóxicas além da nicotina.
Uso por novos usuários
Além de não resolver o problema do vício, segundo os especialistas, o cigarro eletrônico está atraindo quem nunca havia fumado antes, como os adolescentes. A filha de uma moradora de Florianópolis, que preferiu não se identificar, conheceu o cigarro eletrônico na própria escola.
"Nossa filha tem 14 anos, e como ela adora uma doçurinha, ela foi fisgada por causa disso. E para ela era algo extremamente gostoso. Ela experimentou, ela teve esse contato e pediu para um amigo pra comprar outro", disse a mãe da adolescente.
"Esses jovens são expostos a conteúdos que podem influenciar a forma que eles se comportam. Porque geralmente eles são passados por pessoas que têm bastante influência na sociedade, são muito bem vistas por status ou por serem muito populares nas redes sociais", explica a psicóloga Daniela Barone.
"A chance de ficar dependente dela [droga] é grande. Especialmente nesses dispositivos que têm uma concentração às vezes até maior de nicotina. Então, é um potencial enorme de fazer uma dependência, especialmente num cérebro jovem", alerta a médica pneumologista, Renata Viana.
Venda proibida
Apesar de o consumo não ser proibido no Brasil, a venda dos cigarro eletrônicos é. A resolução de 2009 da Anvisa, que regulamenta a proibição, informa que não há dados científicos que comprovem a eficácia e segurança dos dispositivos eletrônicos.
Apesar da proibição, um vídeo flagrou a venda irregular de substância no Centro de Florianópolis (veja no vídeo acima). A reportagem entrou em contato com um vendedor da substância na região e adquiriu o produto. Com o conhecimento de autoridades de fiscalização, foram realizadas duas compras do produto.
Confira um trecho da conversa:
Produtor: "Os descartáveis é quanto, assim? Qual é o"
Vendedor: De R$ 50 a R$ 150
Produtor: Essência, tem vários tipos?
Vendedor: Ai tu escolhe mano, tem uva, cereja, babalú....
Durante a conversa o próprio vendedor atende o produtor da NSC TV fumando e garante que o produto ajuda a largar o cigarro comum.
Nos Estados Unidos a venda do cigarro eletrônico é liberada. Contudo, em 2019, mais de 2 mil pessoas foram hospitalizadas no país americano com lesões no pulmão associadas ao uso do cigarro eletrônico.
Fiscalização
O Procon é o órgão que faz a fiscalização da venda do produto em Santa Catarina.
"Esses produtos são recolhidos e também é encaminhada a cópia do processo administrativo para polícia e para o Ministério Público para apurar os crimes. A multa varia muito do faturamento do estabelecimento, mas ela pode chegar de 20 a 60 mil reais para o estabelecimento que está comercializando esse produto" explica o diretor do Procon Estadual, Tiago Silva.