Por Valéria Martins, G1 SC


Baleia-jubarte é avistada em Florianópolis/Imagens: Rafael Costa

Baleia-jubarte é avistada em Florianópolis/Imagens: Rafael Costa

Mais baleias-jubarte estão sendo avistadas em maio de 2021 no litoral catarinense do que no mesmo mês dos últimos 20 anos, segundo o Instituto Australis/ProFranca, que monitora e trabalha para proteção de baleias.

"Nunca tivemos tantas avistagens de jubarte assim perto da costa por tanto tempo", afirma a bióloga Karina Groch, que coordena o projeto.

"Este ano, não se compara: é a primeira vez que há tantas avistagens de jubarte desde sempre, desde que a gente atua na região. Assim, como este ano, de termos tantas delas próximo da costa, de poder ver a partir de terra e receber tantos registros, nunca tinha acontecido", diz Karina.

Entre as possíveis causas para o aumento pode estar uma anomalia na temperatura da água, segundo informou o Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri/Ciram) na sexta (28) (veja mais abaixo).

O mergulho de uma dessas jubartes foi flagrado na região da Ilha do Campeche na quinta (27) na capital- veja no vídeo acima. Só no último domingo (23), 13 foram vistas em Florianópolis. Elas também apareceram neste mês em Imbituba, no Sul catarinense, e em São Francisco do Sul, no Norte.

O trabalho para proteção de baleias-francas na região Sul completa 40 anos em 2022. Neste período, outras espécies foram monitoradas. "Mas mais sistematicamente, que a gente está presente direto aqui ao longo de toda a temporada da baleia-franca, é desde o início dos anos 2000. Então desde ali a gente não tinha visto tanta baleia-jubarte como agora neste mês de maio", detalha Karina.

Baleia-jubarte foi avistada também próximo á Ilha do Campeche, em Florianópolis — Foto: Rafael Costa/Reprodução

O registro de quinta-feira (27) foi feito por Rafael Costa quando estava na Ilha do Campeche. Ele conta que já tinha visto a jubarte outras vezes, mas ainda não tão de perto.

Para não assustar o animal, desligou o motor da embarcação. "Frequento aqui [Ilha do Campeche] todos os anos, acabo tendo essa sorte quase todos os invernos. [...] Essa foi a primeira que veio perto", disse.

As imagens feitas por ele e também por outras pessoas na região, assim como registros dos próprios pesquisadores, são analisados. Assim, é possível saber se o mesmo individuo foi visto em locais diferentes, definir números e também obter outras informações que ajudam no trabalho de conservação da espécie. Além de acompanhar as jubartes, o Instituto, junto com diversas outras entidades, integra a Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, espécie foco do projeto.

"As francas normalmente chegam a partir de julho, mas algumas podem aparecer antes, ainda em junho, então estamos ainda esperando. As jubartes nos pegaram de surpresa", conta a coordenadora. Em 2020, menos baleias-francas estiveram em Santa Catarina em comparação ao ano anterior.

Anomalia no mar e recuperação das jubartes

Como as baleias procuram águas mais quentes para reproduzir, um aumento da temperatura na superfície do mar pode ter influenciado na presença delas. A informação foi divulgada na sexta-feira (28) pelo órgão estadual que monitora o tempo no estado.

"No início de maio foi observada uma anomalia positiva na temperatura de superfície do mar no litoral de Santa Catarina, associada a uma anomalia negativa na região oceânica. Esse fenômeno pode ajudar a explicar a presença das baleias jubartes tão próximas do litoral de Santa Catarina esse ano", informou a Epagri/Ciram.

Anomalia da temperatura de superfície do mar no litoral de Santa Catarina em 04 de maio de 2021 — Foto: EOSDIS Worldview/ Reprodução Epagri/Ciram

Não foi detalhado de quantos graus seria esta diferença de temperatura constatada. Outra possível causa para o aumento da presença desses animais em águas catarinense é positiva.

"Provavelmente, decorrente da recuperação populacional das jubartes. Elas estão ampliando a área de distribuição, já saíram da lista de espécies ameaçadas de extinção no Brasil e estão ocupando áreas adjacentes à principal área de concentração reprodutiva, que é em Abrolhos [entre o sul da Bahia e Norte do Espírito Santo]".

Baleia-jubarte avistada em Florianópolis no domingo (23) — Foto: Emanuel Ferreira/R3 Animal

Ainda segundo Karina, Santa Catarina está na rota migratória. A diferença é que agora as baleias, que geralmente transitam por alto mar, estão se aproximando mais da costa. Ainda não se sabe se este fluxo pode ter também relação com disponibilidade de alimentos.

Desde 2014, tem aumentado o número de baleias-jubarte vistas no litoral catarinense. "Em 2015, começamos a ter encalhes de baleia-jubarte. Aí passamos a ter avistagens, esporadicamente, de vez em quando tem, mas avistagens aleatórias e encalhes de vez em quando de baleias mortas", reforça Karina sobre o diferencial deste ano. Em 2020 não houve relatos de avistagens.

Monitoramento e ajuda aos animais presos a redes

Baleia-jubarte emalhada avistada em Florianópolis — Foto: Emanuel Ferreira/R3 Animal

Além do Instituto Autralis, mais equipes ligadas ao Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) têm realizado monitoramento na região, como a R3 Animal em Florianópolis. Na última semana, foram duas avistagens de baleias-jubartes com artefatos de pesca presos ao corpo enquanto nadavam no mar em Florianópolis.

Na quarta (26), uma baleia-jubarte foi encontrada morta no mar, mas apenas após o encalhe deste animal morto é que será possível ter certeza se ele era ou não um dos animais vistos antes presos a materiais de pesca. A suspeita é que não seja uma baleia avistada antes. "Importante ressaltar que todo o grupo de desemalhe está fazendo um trabalho sério e o melhor que pode para ajudar essas baleias", informou Karina.

Pesquisadores monitoraram essas situações para acompanhar quando é necessário ou não interferência humana para desprender o material de pesca.

"O procedimento para retirada de rede é arriscado tanto para a baleia como para as pessoas e só deve ser realizado por pessoal treinado, devidamente equipado e oficialmente autorizado", reforça a R3 Animal.

Equipes realizam monitoramento de baleias no litoral catarinense — Foto: Emanuel Ferreira/R3 Animal

Orientações para observar baleias

A portaria 117/96 do Instituto do Meio Ambiente (Ibama) define regras relativas à prevenção do molestamento de cetáceos encontrados em áreas brasileiras (veja algumas regras):

  • Respeite as distâncias de aproximação embarcada (desligar ou colocar os motores em neutro a 100m);
  • nunca avance bruscamente na direção das baleias;
  • não se aproxime por detrás das baleias, nem intercepte o seu curso, mantenha-se afastado em posição lateral;
  • não separe grupos de baleias ou mães de filhotes;
  • nunca religue os motores sem avistar claramente os animais na superfície;
  • não faça ruídos desnecessários, nem jogue qualquer objeto na água;
  • não permaneça junto às baleias por mais de 30 minutos.

O que posso fazer se encontrar um animal marinho morto ou debilitado?

  • Caso encontre um mamífero, ave ou tartaruga marinha debilitada ou morta na praia, ligue 0800 642 3341;
  • mantenha distância e ajude a isolar a área;
  • evite contato desses mamíferos ou outros animais silvestres com bichos de estimação, pois eles podem transmitir doença entre si. Os cachorros também podem atacar o animal.
  • evite tirar fotos com o uso de flash, nem forneça alimentos ou force o animal a entrar na água.

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