Por Caroline Borges, G1 SC


Marcelo Verondino Duarte no Parque do Rio Vermelho em Florianópolis — Foto: Diorgenes Pandini/NSC

Quando a fúria do fogo começa a se alastrar no Parque Estadual do Rio Vermelho, ao Leste da Ilha de Santa Catarina, o subtenente Marcelo Verondino Duarte é um dos primeiros a ser acionado. Criado em meio à área que é uma Unidade de Conservação de Florianópolis, o policial militar ambiental vê, de perto, os incêndios destruírem o local que guarda a memória da infância e da família.

“Doí, né, porque é uma coisa que tenho como se fosse meu quintal de casa. Eu conheço cada trilha, eu conheço as árvores, eu conheço as pessoas que plantaram determinada árvore”, afirma o agente que trabalha protegendo o local há 28 anos.

Essa é a primeira reportagem que integra a série sobre consequências das queimadas em Santa Catarina. Outras duas falam sobre como uma vegetação invasora coloca em risco espécies no Parque do Rio Vermelho e a situação no Parque da Serra do Tabuleiro.

Foto acima mostra Marcelo (D) com o pai, mãe e irmão (E) na década de 1970. Abaixo, registro de 2012 dentro do Parque do Rio Vermelho. — Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

Quando criança, o pai de Marcelo foi designado para cuidar do espaço verde. Antes de 2007, o local era uma área de vegetação ainda pouco desbravada e onde ficava localizada a Casa de Oficial de Férias dos governadores. Verondino José Duarte mudou-se com a mulher, Ivone Alaíde Duarte, e Marcelo em 1976 para uma das casas construídas.

“Tu imaginas uma criança que mora dentro do parque, era eu”, relembra o policial de 47 anos que, em 1996, se juntou à força de segurança para patrulhar o parque.

Policial Militar Ambiental trabalha protegendo o Parque Estadual do Rio Vermelho

Policial Militar Ambiental trabalha protegendo o Parque Estadual do Rio Vermelho

Anos depois, o irmão mais novo, sargento Adriano Verondino Duarte, juntou-se ao grupo. Atualmente, 12 policiais militares ambientais cuidam do parque.

Marcelo é o chefe do pelotão e monitora os animais. O trabalho do subtenente engloba ainda atividades de educação ambiental, investigação dos incêndios e triagem de animais.

Marcelo Verondino Duarte passeia pelo Parque do Rio Vermelho — Foto: Diógenes Pandini/NSC

"Quando há esses incêndios e a destruição aqui no Parque do Rio Vermelho, me dói assim como se fosse um pedaço da minha vida que foi", disse.

Cada vez mais frequentes, as queimadas no parque prejudicam um dos biomas mais ameaçados do Brasil, segundo o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, de 2018.

O pedaço de Mata Atlântica que abriga espécies com risco de desaparecerem e plantas nativas da capital registrou 26 incêndios até setembro de 2019. No mesmo período de 2020 foram 43 - o que representa um aumento de 60%.

Marcelo Verondino Duarte no Parque do Rio Vermelho, em Florianópolis — Foto: Diógenes Pandini/NSC

Em março, chamas duraram 9 dias

Nos dias que as chamas atingem a unidade e espantam visitantes e animais, o Corpo de Bombeiros também é chamado.

Em março, o reforço foi imenso. Durante nove dias, o parque queimou e as chamas puderam ser vistas até mesmo pelo satélite do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri/Ciram).

Bombeiros trabalharam nove dias no combate às chamas em março de 2020 — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

Iniciado em 11 de março, o incêndio só parou dia 20, após uma gigante operação com 200 pessoas que custou R$ 68 mil ao Estado.

Policial combate o fogo no Rio Vermelho em março de 2020

Policial combate o fogo no Rio Vermelho em março de 2020

Segundo o relatório do Corpo de Bombeiros, 163,4 hectares foram destruídos no período da queimada de março. Conforme a perícia, 11% da área foi destruída. O parque tem 1.532 hectares de vegetação.

Capitão do Corpo de Bombeiros, Fábio Fregapani Silva foi o responsável pela perícia após o incêndio. No documento que deu início às investigações para encontrar os culpados, ele descreve que houve “nítida a ação incendiária”.

Bombeiros trabalharam nove dias no combate às chamas em março, no Rio Vermelho

Bombeiros trabalharam nove dias no combate às chamas em março, no Rio Vermelho

“Tudo que a gente consegue constatar ali são casos relacionados a ação humana [..]. Normalmente alguém vai lá para limpar um terreno ou alguém que quer colocar fogo propositalmente”, disse ao citar que a falta de chuva neste ano piorou a situação. Segundo a Epagri/Ciram, o Estado viveu um forte período de estiagem.

Fogo atingiu vegetação no Parque do Rio Vermelho, em Florianópolis, em 11 de março — Foto: PMA/Divulgação

Perícia realizada pelo Corpo de Bombeiros

“O maior prejuízo se deu para a mata nativa em recuperação, pois as árvores perdem as estruturas da raiz, caindo, enquanto o pinus se mantém, recuperando-se do incêndio. Além disso, as vegetações nativas arbustivas são queimadas em sua totalidade, bem como as rasteiras, onde, causam também eliminação da microbioma do solo, comprometendo por muito tempo a capacidade de recuperação do solo. Valor estimado: incalculável”.

Segundo a Polícia Civil, dois inquéritos estão andamento para tentar localizar os responsáveis pelos incêndios. Até o momento, ninguém foi preso.

Plano de manejo

Para conter o avanço das queimadas, desde o início de 2020 o Instituto do Meio Ambiente (IMA) trabalha na criação do Plano de Manejo da área. O documento, que foi apresentado em dezembro do ano passado, tem as normas e práticas para uso do espaço.

Segundo Adriana Nunes, coordenadora do Parque Estadual do Rio Vermelho e servidora do IMA, a criação do documento foi uma necessidade frente ao aumento dos incêndios.

Parte da área do Parque Estadual do Rio Vermelho atingida por queimada iniciada em 11 de março — Foto: Paulo Mueller/ NSC TV

Desenvolvido a partir de diversos estudos, como diagnósticos do meio físico, biológico e social, o Plano de Manejo, além de prezar pela biodiversidade local, visando minimizar os impactos negativos sobre a unidade, busca também a promoção da integração do parque com a vida econômica e social das comunidades vizinhas.

Segundo Adriana, os moradores também sofrem com as queimadas. Em março, o grande incêndio provocou problemas de saúde e alergia na comunidade. "As oficinas são com a comunidade, inclusive que sofre com por causa da fumaça", explica.

Desde o início do ano, o IMA também monitora a região semanalmente. Por terra, os servidores do instituto fazem varreduras no local. No céu, drones são usados para localizar pequenos fogos de chama.

Vista área de área afetada por queimada no Parque Estadual do Rio Vermelho em março — Foto: Corpo de Bombeiros/ Divulgação

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