"Eu estava sem dormir esses dias, pensando que ele estava fazendo essas coisas só comigo. Não tinha contado para ninguém porque achei que ninguém ia acreditar em mim. Vendo na TV ele preso, peguei o cartão, conferi o nome dele e corri para a delegacia. Alguém tem que parar esse homem".
O depoimento acima é de uma mulher de 56 anos, uma das quatro que decidiram registrar boletins de ocorrência nesta terça-feira (16) em Florianópolis, após saberem da prisão do médico Omar César Ferreira de Castro, de 66 anos, suspeito de abuso sexual contra 14 pacientes.
"Ele me agarrou, me beijou e fez massagem à força", contou a vítima em reportagem exibida pelo RBS Notícias. Ela contou que os abusos ocorreram nas duas vezes em que se consultou com o nutrólogo, em janeiro deste ano. "Ele falou que eu era muito ansiosa, mandou eu ficar de costas, veio fazendo massagem no meu pescoço. Por trás ele me encostava muito".
O médico foi preso pela manhã ao chegar ao consultório, em um conhecido conjunto comercial no Centro de Florianópolis. Policiais também cumpriram mandados de busca e apreensão na casa dele. Foram apreendidos dois computadores. O consultório ficou fechado.
Transferência para presídio
A 6ª Delegacia de Polícia da Capital informou que o médico suspeito foi transferido por volta das 16h para o complexo da Agronômica. Ele deve ficar preso por pelo menos 30 dias. A defesa do suspeito informou que não irá falar sobre o caso.
Além dos quatro novos boletins de ocorrência, outras pessoas ligaram para a delegacia para saber como proceder. O inquérito está sob sigilo. Na tarde desta terça, o delegado ouviu o suspeito e tomou mais depoimentos.
"Estamos acompanhando este caso desde novembro do ano passado. As diligências foram realizadas e submetidas ao poder judiciário, que finalmente acatou as nossas argumentações e decretou a prisão temporária desse médico", afirmou o delegado responsável pelo caso, Ricardo Thomé, à RBS TV.
"A demora é justamente para a gente amadurecer os argumentos e fazer uma prova decisiva que foi realmente convincente ao juiz", completou.
70 consultas por dia
O advogado Francisco Ferreira, que representa cinco das vítimas, diz que é possível que mais mulheres tenham sido abusadas. “Ele se declara anestesiologista, endocrinologista e nutrólogo. A informação que temos é de que chegava a atender 70 consultas ao dia", disse Ferreira.
"Era muito procurado por mulheres queriam emagrecer com uso de medicamentos como sibutramina. Por isso, o número de vítimas tende a crescer”, relatou.
Relato de estupro em consultório
Segundo Ferreira, uma das vítimas relatou ter sido estuprada no consultório. “Ele ministrou um líquido à paciente, ela entrou em estado de fraqueza e sonolência. Então, o médico pediu para que ela se deitasse para ser examinada e estuprou a moça”, afirmou o advogado.
Conforme Francisco Ferreira, a paciente vítima de estupro registrou boletim de ocorrência e está com laudos e exames periciais que comprovam o crime. A jovem está sendo acompanhada por psicólogos para superar o trauma.
Em outros casos, segundo o advogado das vítimas, o médico tentava beijá-las e agarrá-las. "Pedi ao Conselho Regional de Medicina para que instaure um inquérito para apurar o caso e cassar o registro desse profissional”, completou.
À RBS TV, o Conselho Regional de Medicina informou que vai abrir uma sindicância para apurar a conduta do médico. De acordo como CRM, o médico já recebeu denúncias, mas nenhuma de crimes sexuais.
De acordo com a delegada Patrícia D'Avila, coordenadora Estadual das Delegias de Proteção à Mulher, é possível que o médico tenha se aproveitado da fragilidade das pacientes que buscavam emagrecimento e chegavam ao consultório com a auto-estima abalada. Segundo Patrícia, o depoimento das vítimas são provas importantes,
"Se a mulher vence a vergonha do primeiro momento, confia na polícia, faz a denúncia, a delegacia consegue fazer o seu trabalho e esse tipo de abusador acaba não incidindo na prática do crime", disse Patrícia.