Campo e negócios

Por Agro 5.0

Desde que começou a atuar na propriedade adquirida na década de 50 pelos avós, que vieram do Rio Grande do Sul, a rotina de Ezequiel Giaretta, de Arvoredo, no Oeste catarinense, mudou de forma expressiva. Com o passar dos anos, ele, a mãe e a irmã assumiram a produção com hortaliças, gado de leite e suínos.

“Sempre trabalhamos com hortaliças para comercialização de maneira orgânica. Nossa propriedade não é certificada orgânica, mas nós não trabalhamos com nenhum produto químico”.

Com receitas da mãe que fizeram sucesso na vizinhança, a família de produtores rurais montou uma agroindústria de panificação, com pães, bolachas e outros produtos relacionados aos insumos produzidos localmente.

Hoje, contam com o auxílio de mais duas funcionárias e fazem parte de uma cooperativa como filial da marca Sabor Colonial.

“Nosso forte de comercialização é em feiras de agricultores familiares, participamos de uma feira regional e uma na Unochapecó todas às quartas. Produzimos 160 itens de panificados dentro da agroindústria. Pelo menos dez, são 100% orgânicos, com trigo, soja e açúcar. Estamos pensando em certificar os panificados orgânicos no futuro para obter esse selo”.

Geração de empregos

Assim como a família Giaretta, o agronegócio catarinense proporciona emprego e renda para milhares de colaboradores, entre eles produtores, trabalhadores de agroindústrias, cooperados, entre outros.

No primeiro semestre deste ano, a agropecuária foi responsável pelo saldo positivo com geração de 381 novas vagas de trabalho formais no estado de Santa Catarina, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). No ano passado, a agropecuária teve um saldo positivo de 666 empregos.

A agroindústria sustenta cerca de 60 mil empregos diretos e 480 mil empregos indiretos, além de uma base formada por 66 mil produtores rurais integrados, conforme informações da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).

Considerando cooperados e integrados no setor agroindustrial, são pelo menos mais 100 mil pessoas, conforme o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne-SC).

“Tudo que isso representa como movimento econômico das cidades é bastante impactante ao nosso setor, movimenta muito a economia das cidades”, reforça José Antonio Ribas Junior, presidente do Sindicarne.

O presidente do Sindicarne alerta para a necessidade de um olhar mais atento para a mão-de-obra no setor. Para melhores práticas em nutrição, genética e ambiência com os animais, por exemplo, a mão-de-obra precisa estar à altura dos investimentos, em sua visão.

“Precisamos de qualidade também, tem sido uma trava importante. É preciso fomentar escolas profissionalizantes, acesso à formação profissional. Um operador de granja, por exemplo, não pode não ter um patamar mínimo de educação, pois vai manusear computadores, ipads, outros itens tecnológicos e ainda vai tratar dos animais”.

Enori Barbieri, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), afirma que, nas agroindústrias catarinenses, trabalham cerca de 23 mil colaboradores estrangeiros, entre venezuelanos, haitianos e de outras nacionalidades.

Barbieri reforça que o setor conta com vagas abertas, mas enfrenta problemas recentemente para encontrar candidatos. Ao todo, somente em Chapecó, são 1,5 postos de emprego.

“Estamos começando a ter problemas sérios de trabalhadores nessas atividades, não temos mais contingente de trabalhadores. O volume de postos de trabalho disponíveis aumenta e, cada dia mais, há menos gente disponível para ajudar na área produtiva. É um processo bem dramático, porque não sabemos até quando vai acontecer e se não será impeditivo para continuar crescendo”.

Turismo rural na propriedade agrícola: Novas formas de geração de renda

Ainda que muitas propriedades tenham belezas naturais que podem passar despercebidas pelos próprios produtores, a realidade está mudando. Contar a história da atuação no setor, proporcionar bons momentos, refeições deliciosas e feitas com o amor de quem ali vive - a adequação do agro para o turismo já é uma realidade.

O desenvolvimento de estratégias de turismo rural vem fomentando alternativas para geração de emprego e otimização da renda no setor agro, destaca Karla Hall, consultora de turismo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-SC).

O primeiro benefício é a valorização do processo produtivo e das propriedades rurais, pois antes dos projetos, muitos produtores dizem que não tem nada de bonito no local, questionam o que poderia ser um atrativo.

“Quando trabalhamos nossa metodologia, por meio de etapas, e a propriedade fica pronta para receber turistas, existe uma satisfação muito grande, porque eles conseguem enxergar realmente tudo aquilo que a propriedade tem de bom e que já tinha antes, só precisava ser lapidada”, conta.

O retorno financeiro também é citado, pois as visitas, de forma geral, são cobradas - e ainda levam à venda de outros produtos relacionados à propriedade, como mel, geléia, entre outros.

Segundo a especialista, há uma demanda crescente de municípios e de propriedades rurais que visam trabalhar o turismo rural como forma de geração de renda, principalmente no Oeste de Santa Catarina.

Hall aponta ainda que são aproveitados espaços existentes na maior parte dos casos, com estrutura diferenciada para receber os turistas - seja promovendo alterações em uma garagem, porão, criando condições para valorizar o local e tornar a propriedade rural bonita e atrativa para visitantes.

Ainda, são definidas estratégias para formação do preço de venda - a entrada para conhecer a propriedade, qual será o custo do almoço, café e demais itens.

“Sempre trabalhamos as rotas com temáticas, para diferenciar uma da outra. Temos a Rota Encantos Rurais de Quilombo, que trabalha com pequenas agroindústrias no meio rural, temos Rota do Arvoredo, com turismo de compras no meio rural, e estamos também na finalização da Rota de Nova Erechim, também com gastronomia e contemplação. Em Anchieta, que é a capital da semente crioula, trabalhamos valorizando o cultivo das sementes e a questão da produção orgânica. Ainda trabalhamos a Rota da Ovelha e seus sabores, de Lageado Grande, que tem produtos de altíssima qualidade a partir do leite de ovelha”, exemplifica.

Além do da geração de emprego e renda, outro benefício é o intercâmbio de pessoas de diversas cidades no meio rural, com culturas e experiências distintas - que fotografam, recomendam, marcam a propriedade e sua localização nas redes sociais, gerando maior engajamento e levando a cadeia de valor para um momento de melhores resultados por vir.

Há cerca de quatro anos, Giaretta passou a trabalhar com o Sebrae para fomentar o turismo rural relacionado à produção agrícola.

“Sempre foi um sonho nosso trabalhar com turismo, fazer com que as pessoas viessem até a nossa propriedade e consumissem os nossos alimentos. Foi o que despertou nosso interesse em fazer parte da Rota Delícias de Arvoredo. Recebemos de dois a três grupos no mês. Mostramos o produto, as pessoas conhecem as mãos, nossos produtos são bem artesanais, é trabalhoso”, completa o produtor.

Leia também

Agro 5.0

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!