Campo e negócios

Por Joana Caldas e Allan Borges, g1 SC e NSC TV


Estiagem compromete produção de maçã em SC

Estiagem compromete produção de maçã em SC

Diferente do que ocorre em diversas partes do país, onde a chuva causa estragos, em Santa Catarina a estiagem é uma preocupação. Ela afeta a agricultura, a pecuária, o abastecimento de água e o preço dos alimentos.

"Essa estiagem se arrasta há três anos basicamente, com escassez, com déficit hídrico. Ela vem do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e o Sul do Mato Grosso, que são regiões extremamente produtivas [na agropecuária] e que não só vendem para outros estados, mas exportam para outros países", afirmou a presidente da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Edilene Steinwandter.

Confira abaixo oito pontos para entender como a estiagem afeta o estado.

  1. Perdas nas safras
  2. Frutos menores
  3. Maior custo de produção
  4. Menor ganho para o produtor
  5. Preço mais alto dos alimentos para o consumidor final
  6. Nível dos rios
  7. Abastecimento de água
  8. Estiagem deve continuar

1. Perdas nas safras

Impactos da estiagem são analisados pela Epagri

Impactos da estiagem são analisados pela Epagri

Milho, soja, hortaliças, fruticultura, principalmente a maçã, e produção de leite e carne animal estão entre as culturas prejudicadas, conforme Edilene Steinwandter.

“Hoje o estado chega a uma estimativa de mais de R$ 4,2 bilhões de perdas estimadas. Esse valor é sim traduzido lá na prateleira, na ponta pros consumidores", afirmou a presidente da Epagri.

Essas perdas bilionárias são referentes apenas às culturas de milho e soja, já que ainda não foram calculados os prejuízos com outras produções.

Os agricultures lamentam. Nelson Totelli Filho, de São Joaquim, na Serra catarinense, teve perdas de 100% em algumas áreas da propriedade na produção de maçã.

"O que que a seca afetou? Ela segurou toda a alimentação da planta, portanto a planta vai perder folha, vai estragar o fruto, não vai deixar o fruto crescer. Aí é perda total, praticamente”, afirmou.

“A gente se sente totalmente frustrado. Você trabalha o ano inteiro, de julho a julho, e chega agora, neste momento, para você colher o resultado do teu trabalho, está totalmente perdido. Então você gastou o ano inteiro, você custeou o ano inteiro para chegar a zero”, lamentou o produtor.

2. Frutos menores

A falta de chuva e o calor afetam o tamanho dos alimentos. “A estiagem tem causado nos pomares uma perda de calibre, ou seja, menor tamanho de frutos. Porque essa estiagem ocorreu agora de dezembro até meados de janeiro num período em que os frutos estão em pleno desenvolvimento", afirmou a extensionista da Epagri Maeve Branco.

Produtor mostra diferença entre maçã cujo crescimento foi prejudicado pela estiagem (fruta à esquerda) e uma normal — Foto: Reprodução/NSC TV

"Essa fruta de menor calibre, menor tamanho, tem um menor valor de mercado. Não reduz a qualidade dela, a qualidade dela se mantém, mas o valor de comercialização dessa fruta com calibre menor é também menor", explicou.

3. Maior custo de produção

Para contonar a estiagem, o agricultor Lauro Zandonadi, de São Joaquim, investiu em uma tecnologia de irrigação para a produção de maçãs.

"A cada 70 centímetros, ela tem um bico gotejador. A cada uma hora, ele nos dá 1.2 mililitros de irrigação. Aqui a gente sempre faz o manejo deixando oito horas, daí nos dá 9.6 mililitros de irrigação", explicou.

Mangueira de irrigação em produção de maçã — Foto: Reprodução/NSC TV

Porém, é preciso acionar a tecnologia muitas vezes, o que acaba elevando o custo da produção.

"Eu a ligo todo dia, conforme a necessidade. Tem o painel automático, que calcula a evapotranspiração da área. Nos meses de novembro e dezembro, foram quase todos os dias tendo a necessidade de irrigar", disse o produtor.

4. Menor ganho para o produtor

Apesar de investir na tecnologia de irrigação, não foi possível para Lando colocá-la em toda a propriedade. Por isso, parte da produção de maçã foi prejudicada, com frutos menores. Estes não são vendidos nos mercados, vão direto para a indústria.

Produção de maçã em São Joaquim — Foto: Reprodução/NSC TV

“Quando ela vai para a categoria de indústria, vamos receber R$ 0,40, R$ 0,30. Enquanto se ela fosse comercializada in natura, ela ia a R$ 0,90, R$ 1. Então a gente tem aí quase 50%, 60% de desvalorização do fruto”, afirmou o produtor. Os valores são por quilo.

5. Preço mais alto dos alimentos para o consumidor final

O valor das hortaliças no mercado ficou mais caro nas últimas semanas em Santa Catarina. “O reflexo vai sim chegar ao consumidor porque nós estamos tendo diminuição da produção, elevado custo de produção. Consequentemente, os valores tendem sim a subir", afirmou a presidente da Epagri.

SC registra aumento no preço das hortaliças

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Na Central de Abastecimento de Santa Catarina (Ceasa), os efeitos da estiagem foram sentidos. “Com o período de seca, a insolação é muito forte. E aí os prejuízos que isso vem dando são enormes. Por exemplo, o chuchu. Essas temperaturas altas provocam um abortamento das flores. Então praticamente 90% da florada do chuchu foram dizimadas”, afirmou o diretor-presidente da Ceasa, Gilmar Germano.

Com produtores trazendo menos hortaliças para o mercado, o preço se eleva para o consumidor final.

"O chuchu, a couve-flor, o brócolis e a cenoura tiveram problemas em função do florescimento, em função de uma série de questões. Baixou a oferta, aumentaram os preços", resumiu Germano.

6. Nível dos rios

Com a estiagem, o nível dos rios baixa e alguns estão em situação emergencial, conforme classificação da Epagri/Ciram, órgão que monitora as condições do tempo no estado.

Confira abaixo os casos mais críticos entre os rios catarinenses, de acordo com o mapa de quarta-feira (2).

Mapa da situação dos rios em SC — Foto: Reprodução/Epagri/Ciram

Emergência (em vermelho) - Linha Jataí, em Mondaí (Oeste), Porto FAE Novo, em Coronel Freitas (Oeste), Chapadão do Lageado (Vale do Itajaí) e São João Batista (Grande Florianópolis).

Alerta (em laranja) - Guatapara de Baixo, em Guaraciaba (Oeste), Ponte do Sargento, em Romelândia (Oeste), Itapiranga (Oeste), Passo Pio X, em Pinhalzinho (Oeste) e Saltinho, em Alfredo Wagner (Grande Florianópolis).

Atenção (em amarelo) - Saudades (Oeste).

7. Abastecimento de água

O prejuízo no abastecimento de água tem preocupado algumas cidades catarinenses. Em Chapecó, no Oeste, a Companhia Catarinenses de Águas e Saneamento (Casan) adotou um sistema de rodízio. Dessa forma, 14 bairros recebem água durante 12 horas, a partir das 7h, e nas outras 12, não.

É importante que moradores tenham como fazer o armazenamento, para quando o abastecimento ocorrer.

Estiagem no Oeste de SC prejudica moradores

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O superintendente regional da Casan, Daniel Scharf, explicou que o objetivo do rodízio é preservar os manancias que fornecem água para a região, principalmente o São José. "Dadas as poucas chuvas que estão tendo na região, não tendo uma recarga nos níveis dos mananciais, então foi necessária, nesse momento, a gente iniciar manobras", disse.

Cidades do Oeste de SC fazem racionamento de água para resistir à estiagem

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8. Estiagem deve continuar

A previsão da Epagri/Ciram é de chuva abaixo da média até abril, mal distribuída em todas as regiões. Por essa razão, a situação da estiagem deve se agravar, principalmente no Oeste.

Para fevereiro, deve haver mais chuva no litoral, Vale do Itajaí e Norte, por causa da umidade do mar em direção ao continente. Também está prevista a influência de um sistema responsável por chuva.

Nuvens escuras no céu de Florianópolis em 27 de janeiro — Foto: Anaísa Catucci/G1

Além da falta de precipitação, é prevista temperatura acima da média no estado. Em fevereiro e março, isso deve ocorrer por causa das massas de ar quente. Há a possibilidade de mais uma onda de calor, com dias consecutivos de temperatura alta, inclusive à noite. Essas massas de ar quente devem ser mais secas no Oeste.

VÍDEOS: Veja prejuízos com a estiagem em SC

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