Por Silvana Reis, g1


Músculos são a farmácia do corpo: contração muscular faz o organismo produzir ‘remédios naturais’ — Foto: Adobe Stock

Fazer musculação pode significar menos idas à farmácia? Os defensores da atividade física usam a metáfora de que os músculos são a farmácia do corpo porque, além de produzirem força e movimento, eles também atuam como glândulas endócrinas, gerando substâncias chamadas miocinas, uma espécia de "remédio natural" produzido pelo corpo.

As miocinas contribuem para:

  • Redução da inflamação sistêmica, comum em doenças reumáticas e autoimunes
  • Melhora da sensibilidade à insulina
  • Modulação da função imunológica
  • Melhora da saúde neurológica

Por isso, a contração muscular contribui para a saúde geral e a prevenção de doenças crônicas, incluindo doenças cardiovasculares, neurológicas, inflamatórias, autoimunes, neurodegenerativas e diabetes.

As miocinas atuam como mediadores de comunicação entre o músculo em atividade e outros órgãos, exercendo efeitos nas próprias células, em células próximas e em células distantes, por meio da corrente sanguínea.

“Essas substâncias destacam o papel do músculo como um importante órgão endócrino, contribuindo para a regulação do metabolismo energético, da inflamação, da saúde cardiovascular e do equilíbrio metabólico geral. A musculação e o exercício físico são um estímulo-chave para a liberação de miocinas, promovendo benefícios sistêmicos à saúde”, destaca o professor de medicina esportiva da Escola Paulista de Medicina Alberto de Castro Pochini.

As miocinas permitem a interação entre o músculo esquelético e outros órgãos, como o fígado, o tecido adiposo e o sistema cardiovascular, promovendo uma resposta integrada que melhora a saúde geral e a resiliência do organismo.

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A contração muscular durante o exercício físico estimula a liberação de várias miocinas, como a interleucina-6 (IL-6), que é uma das mais estudadas e conhecidas por suas propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras.

Além disso, outras miocinas, como a irisina e o fator neurotrófico também são produzidas em resposta ao exercício e têm sido associadas a efeitos benéficos na regulação da inflamação e na saúde metabólica, destaca o médico da medicina esportiva do Instituto de Ortopedia do HCFMUSP Romão Sampaio Monteiro Sobrinho.

O especialista em joelho e mestre em ortopedista pela USP Sérgio Costa defende a musculação como uma prática universal, como comer e dormir: “Não pense nela apenas como um esporte ou algo restrito a quem deseja um corpo forte. Musculação é uma ferramenta essencial para viver melhor e por mais tempo. Quer nadar bem? Faça musculação. Quer jogar futebol com mais potência? Faça musculação. Quer apenas viver sem cair, subir escadas sem esforço, ou aproveitar a velhice com independência? Faça musculação”, declara Costa.

Estudos mostram que pessoas com maior força muscular têm menor risco de mortalidade por todas as causas. Um aumento na força e na massa muscular está associado a:

  • Redução de 20% no risco de mortalidade por doenças cardiovasculares
  • Melhora da expectativa de vida mesmo em pessoas com doenças crônicas

Entre as principais miocinas e substâncias secretadas pelo músculo, destacam-se as miocinas, peptídeos e hormônios metabólicos. Entenda a ação destas substâncias no organismo:

MIOCINAS

  • Irisina: estimula a transformação de gordura branca (armazenada como reserva energética) em gordura marrom (aliada em processos de emagrecimento), induzindo termogênese e aumento do gasto energético.
  • Interleucina-6 (IL-6): pode regular o metabolismo da glicose e dos lipídios e tem efeitos anti-inflamatórios
  • Interleucina-15 (IL-15): está relacionada ao aumento da massa muscular e redução do tecido adiposo.
  • FGF21 (fator de crescimento de fibroblastos-21): está relacionado ao metabolismo energético e à sensibilidade à insulina.
  • BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro): contribui para a plasticidade neural (capacidade do cérebro de se reorganizar e remodelar suas conexões neurais) e o metabolismo energético.
  • Oncostatina M: participa do equilíbrio do metabolismo energético e da regeneração muscular.
  • Decorina: está envolvida na regulação do crescimento muscular, neutralizando a miostatina*.
  • Miostatina (GDF-8): Atua inibindo o crescimento muscular, sendo estímulo negativo a hipertrofia muscular.

PEPTÍDEOS E HORMÔNIOS METABÓLICOS

  • Ácido Lático: composto que causa a sensação de cãibra
  • Glutamina: atua no sistema imunológico e no metabolismo energético.

FATORES DE CRESCIMENTO

  • IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1): Estimula a hipertrofia muscular
  • VEGF (fator de crescimento endotelial vascular): promove angiogênese em resposta ao exercício físico (melhora o fluxo sanguíneo e a quantidade de vasos no músculo para que possa ter a chegada de nutrientes no músculo durante a atividade física)

PROTEÍNAS INFLAMATÓRIAS E ANTI-INFLAMATÓRIAS

  • TNF-α (fator de necrose tumoral-alfa): em excesso, está associado à resistência à insulina e à inflamação crônica.
  • IL-10: liberada após exercícios para suprimir respostas inflamatórias.

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