Nos últimos anos, o congelamento de óvulos vem ganhando destaque como uma solução para mulheres — Foto: Imagem de yanalya no Freepik
"Uma mulher só entende o amor quando tem um filho", "ser mãe é padecer no paraíso", "quando você for mãe, vai entender". Se você é mulher, com certeza já deve ter ouvido algo sobre maternidade. E o tempo não é muito legal com o público feminino. Existe um reloginho biológico que define quando ela não estará mais fértil.
Então, se a mulher quer ter filho, ela precisa correr? Não. Nos últimos anos, o congelamento de óvulos vem ganhando destaque como uma solução para mulheres que desejam postergar a maternidade sem abrir mão da possibilidade de ter filhos biológicos no futuro.
Paolla Oliveira, Grazi Massafera, Mariana Ximenes e Juliette estão entre as famosas que já contaram ter feito o procedimento, que permite que mulheres congelem seus óvulos em um estado saudável para uso posterior, oferecendo maior flexibilidade e controle sobre seu planejamento familiar.
Paolla Oliveira, Mariana Ximenes, Juliette e Grazi Massafera — Foto: Montagem/Reprodução/Instagram
"Está mais do que claro que a população está postergando a gestação, seja por problemas econômicos, estabilidade financeira, falta de parceiro", explica Maria do Carmo Borges de Souza, diretora médica da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana e membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
A médica lembra que a mulher precisa ser informada sobre as questões de fertilidade para ter uma autonomia maior no futuro. "O congelamento é parte de um processo de preservação do potencial de fertilidade".
"Não é sobre não engravidar, mas sobre quando engravidar", completa Alvaro Pigatto Ceschin, presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
Entre 2020 e 2023, o número de óvulos congelados aumentou em quase 100% (96,5%) no país — foi de 56.710 para 111.413, segundo dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Apesar de estar se tornando mais popular, congelar os óvulos não é barato. Em média, o custo de cada ciclo de estimulação ovariana vai de R$ 15 mil a R$ 25 mil. A paciente também paga uma taxa anual para manter os óvulos congelados, que fica em torno de R$ 1 mil por ano.
Nesta reportagem, vamos explicar:
- O que é e como é feito o procedimento
- Existe uma idade limite para a coleta?
- A diferença entre congelamento de óvulo e de embrião
- O congelamento é garantia de gravidez?
- Dá para fazer pelo SUS?
1. O que é e como é feito o procedimento
A princípio, o congelamento de óvulos era destinado a pacientes jovens com câncer. Isso porque os tratamentos oncológicos acabam destruindo os óvulos em formação. Como a tecnologia foi se comprovando efetiva, começou então o "congelamento social".
"A mulher não tem uma doença propriamente dita, mas não quer engravidar no momento, quer engravidar aos 40 anos, por exemplo. Como a mulher nasce com os óvulos contados, com o tempo a quantidade vai diminuindo e vai alterando a qualidade. Quando realizamos o congelamento, acabamos minimizando o efeito da própria idade", explica Alvaro Pigatto Ceschin, presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
Entenda como é feito o congelamento de óvulos — Foto: Luisa Rivas/Infográfico g1
2. Existe uma idade limite para a coleta?
Os médicos recomendam, em geral, que o congelamento seja feito antes dos 35 anos. A partir dessa idade, a reserva ovariana costuma cair. Apesar disso, a mulher pode ter um bom prognóstico até os 37 ou 38 anos.
"Preferimos entre 30 e 35 anos, mas 38 anos é o limite de idade para ter uma boa chance no futuro. Quando chegamos no 40, o prognóstico cai bastante, nem sempre tem uma indicação formal", diz o presidente da SBRA.
Maria do Carmo Borges de Souza explica que a mulher pode fazer a contagem dos folículos e dos hormônios antimulleriano, para saber como está a reserva ovariana. "Com a junção desses exames, saberemos qual medicação usar, quantos óvulos podemos conseguir".
Os óvulos ficam armazenados em nitrogênio líquido — Foto: Divulgação
3. Qual a diferença entre congelamento de óvulo e de embrião?
O óvulo é a gameta feminina, ou seja, carrega o DNA da mulher. Já o embrião é resultado da soma do óvulo com o espermatozoide (gameta masculina). Ou seja, esse embrião é 50% mãe e 50% pai.
E o que escolher? Isso vai depender de diversos fatores, como o status de relacionamento da mulher, por exemplo. Se ela estiver solteira, o melhor é congelar os óvulos. Se ela tem um parceiro definido, pode preferir congelar embriões.
"O congelamento de embriões às vezes é feito para casais que estão em tratamento de reprodução assistida, ou casais que querem engravidar daqui uns anos, com um relacionamento estável. Se a mulher não tem uma relação conjugal, preferimos congelar o óvulo", diz Alvaro Pigatto Ceschin.
Os especialistas lembram que o congelamento de embriões pode envolver questões legais e éticas, especialmente em caso de separação do casal ou mudanças de planos futuros, já que a decisão sobre o uso precisa ser tomada em conjunto.
Profissão Repórter mostrou nova técnica de congelamento de óvulos
4. O congelamento é garantia de gravidez?
Não. Os especialistas ouvidos pelo g1 explicam que quando a mulher opta por congelar óvulo ou embrião, ela está congelando um prognóstico reprodutivo e não existe a segurança de ter uma criança.
"Nós gostaríamos de ter certeza de que a mulher vai engravidar, mas isso não é verdade. As chances são boas dependendo da faixa etária que congelou, mas não é certeza", alerta o presidente da SBRA.
5. Dá para fazer pelo SUS?
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza o congelamento de óvulos para pacientes oncológicas.
"Hoje temos mulheres jovens diagnosticadas com câncer. Elas serão submetidas a tratamentos com quimio, radioterapia. Por isso, é importante o congelamento, para que ela tenha o poder de decisão no futuro", comenta Maria do Carmo.
Já o congelamento social está disponível só em clínicas privadas.
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