Por Louisa Wright, Deutsche Welle


HPV atinge mais 630 milhões de pessoas e é responsável por 5% de todos os cânceres dos homens e 10% dos cânceres em mulheres — Foto: Reprodução/ TV Mirante

Em 2014, Jason Mendelsohn estava se preparando para o pior. Ele gravou vídeos para os filhos, despediu-se e lembrou-os do que era importante na vida. Tinha 44 anos e fora diagnosticado com câncer de amígdala em estágio 4, causado por uma infecção por papilomavírus humano (HPV) – possivelmente ocorrida décadas antes.

Um dia, Mendelsohn encontrou um caroço no pescoço, sem apresentar sintomas anteriores. Os médicos removeram suas amígdalas e 42 nódulos linfáticos. Em seguida, ele passou por sete semanas de quimioterapia e radiação, sendo alimentado por um tubo.

"Eu nunca tinha ouvido falar de câncer na língua, garganta e amígdalas, nem conhecia ninguém que tivesse sido diagnosticado com isso", diz Mendelsohn.

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Seus médicos disseram que ele provavelmente contraiu HPV durante sexo oral. Eles disseram que a infecção por HPV poderia ter ocorrido há 20 anos, quando Mendelsohn estava na universidade.

"O câncer causado pelo HPV pode levar anos para se desenvolver. Eu nunca pensei e acho que ninguém que eu conheço jamais pensou que o sexo oral um dia lhes causaria câncer", diz Mendelsohn.

Mais do que câncer de colo de útero

O HPV está mais frequentemente associado ao câncer de colo de útero. É o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que câncer de colo de útero causou 311 mil mortes em 2018, e 90% delas ocorreram em países de baixa e média renda.

O HPV pode levar ao câncer de vulva, vagina, pênis, ânus, cabeça e pescoço (uma região conhecida como orofaringe), parte posterior da garganta e base da língua e amígdalas e pode afetar homens.

Embora esses tipos de câncer possam afetar todos os sexos, o câncer orofaríngeo e anal estão em alta entre os homens. Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos sugerem que cerca de 70% dos cânceres de orofaringe nos EUA estão relacionados ao HPV.

Cerca de 3.500 novos casos de câncer de cabeça e pescoço relacionados ao HPV são diagnosticados em mulheres e cerca de 16.200 em homens a cada ano nos Estados Unidos. Isso representa quatro vezes mais casos em homens.

O HPV é transmitido através do contato pele a pele e da atividade sexual, incluindo sexo vaginal, anal e oral. Cerca de 80% dos adultos sexualmente ativos tiveram uma infecção por HPV em algum momento de suas vidas, mas o CDC diz que a maioria das pessoas não sabe disso.

Muitas cepas de HPV nem mesmo são prejudiciais aos humanos, e em 90% das vezes o corpo simplesmente elimina a infecção em dois anos.

Mas se isso não acontecer – e o HPV permanecer no corpo – é possível que células infectadas se tornem cancerosas.

Poucos sabem que afeta homens

Um estudo do Reino Unido de 2018 descobriu que 64% dos pais que tinham filhas e filhos tinham ouvido falar do HPV. Mas entre os pais que só tinham meninos, 36% já ouviram falar do HPV.

No geral, 55% dos pais já ouviram falar do HPV. Destes, a maioria sabia que causa câncer de colo de útero em mulheres, mas menos da metade sabia que o HPV causa câncer de garganta e anal, e apenas um terço sabia que causa câncer no pênis. Muito poucos entrevistados mencionaram o sexo oral ou anal como formas de contrair HPV.

Mas assim que descobriram mais sobre o HPV, quase todos os participantes do estudo disseram que seus filhos deveriam tomar a vacina.

Vacina contra câncer?

A rigor, não existem vacinas que previnam o câncer. Mas existem vacinas que previnem vírus que podem levar ao câncer, como o HPV.

Existem três vacinas contra o HPV e todas as três protegem contra as cepas 16 e 18 do HPV. Essas duas cepas causam a maioria dos cânceres relacionados ao HPV. Mas as vacinas não se limitam a essas duas cepas e também protegem contra infecções por HPV que causam verrugas genitais.

Não é possível rastrear cânceres relacionados ao HPV, exceto câncer de colo de útero. Por isso, a única forma de se proteger é por meio da vacinação.

"Se você estiver protegido, você não terá o HPV para transmitir a outra pessoa, então você se torna uma solução para o problema de saúde pública", diz Dianne Harper, professora dos departamentos de medicina familiar e obstetrícia e ginecologia da Universidade de Michigan, nos EUA.

Além de proteger das infecções causadas pelo papilomavírus humano, a medida voltada aos meninos tem o objetivo de contribuir para o aumento da proteção das meninas. — Foto: Secretaria de Saúde do Estado/Divulgação

Mas muitos homens – ou pais de meninos – nem mesmo sabem do problema. E isso pode estar ligado à qualidade dos dados sobre infecções por HPV.

Tipos de câncer de HPV em homens

É difícil ser preciso sobre os tipos de câncer relacionados ao HPV em homens ou grupos de idade e onde eles ocorrem mais no mundo – informações úteis que podem ajudar na hora de decidir sobre a necessidade de consultar um médico ou se vacinar.

Por exemplo, o câncer de cabeça e de pescoço causados ​​pelo HPV parecem ser mais comuns entre os homens em países de alta renda. Mas isso pode ser devido à falta de dados confiáveis ​​em outros lugares.

"Acho que subestimamos o verdadeiro número de casos em países de baixa e média renda", diz Anna Giuliano, diretora fundadora do Centro de Pesquisa de Imunização e Infecção em Câncer do Moffitt Cancer Center, nos Estados Unidos.

E também existe a questão dos tipos de câncer e quem está em risco. Alguns dados sugerem que o câncer relacionado ao HPV em homens está relacionado ao seu tipo de atividade sexual.

"Entre os homens heterossexuais, o mais comum é o câncer orofaríngeo, seguido pelo câncer anal e depois peniano. E para homens que fazem sexo com homens, o que predomina é o câncer anal, seguido pelo câncer orofaríngeo e depois o câncer peniano", diz Giuliano.

Também é possível para uma pessoa com HPV mover o vírus para outras partes do corpo, por exemplo, quando alguém toca na boca e, em seguida, no pênis.

De paciente a militante

Mendelsohn, que sobreviveu ao câncer relacionado ao HPV, quer que mais pessoas sejam vacinadas. Ele criou um site chamado Superman HPV, onde fornece suporte para pacientes com câncer e defende a vacinação de crianças.

"Porque é algo que pode ser prevenido com uma vacina", diz Mendelsohn. "Como pode as pessoas não aprenderem mais sobre isso e darem aos seus filhos?"

A melhor proteção possível é obtida quando alguém é vacinado antes de se tornar sexualmente ativo e exposto ao HPV.

Programas de vacinação contra o HPV começam por volta dos 11 anos nas escolas, onde as vacinas costumam ser gratuitas.

Alguns países, como os EUA, recomendam a vacinação para adultos de até 45 anos. Outros países recomendam consultar um médico para discutir as opções. Pode ser caro se o próprio paciente tiver que pagar pela vacina. Na Alemanha, por exemplo, as vacinas contra o HPV custam até cerca de 500 euros (R$ 3 mil) para quem tem 26 anos ou mais.

Mas pode valer a pena: as vacinas podem fornecer proteção mesmo após uma infecção.

No Brasil, o Ministério da Saúde oferece a vacinação gratuita contra o HPV para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos de idade, além de mulheres imunossuprimidas (com sistema imunológico fragilizado) de 9 a 45 anos e homens imunossuprimidos de 9 a 26 anos.

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