invadiram a reitoria (Foto: Kleber Tomaz/G1)
A Polícia Civil concluiu nesta semana que não há provas contra três estudantes investigados em um inquérito aberto no 23º Distrito Policial que apurava suposto crime de tráfico de drogas.
A investigação foi aberta após a reitoria da PUC Pontíficia Universidade de São Paulo (PUC-SP) apontar o trio como organizador de festa para a qual circulava convite por e-mail que fazia apologia ao consumo de drogas no campus de Perdizes.
A PUC alega que não acusou o trio como responsável por tráfico (veja pedido abaixo).
O arquivamento do inquérito contra esses estudantes é uma das exigências dos cerca de 50 alunos que ocuparam a reitoria na noite de terça-feira (17).
Eles também pedem redução das mensalidades e dos preços dos alimentos nos restaurantes da universidade. A Justiça pediu a reintegração de posse da reitoria nesta quinta-feira (19).
"O inquérito foi concluído e relatado nesta terça-feira e encaminhado para apreciação do Ministério Público no Fórum Criminal de Justiça da Barra Funda", disse o delegado Lupércio Dimov, titular do 23º Distrito Policial, em Perdizes. O MP poderá pedir à Justiça o arquivamento do inquérito, por falta de provas, ou requisitar à polícia novas investigações sobre o caso.
Segundo a universidade, a reitoria recebeu uma cópia de um convite divulgado em redes sociais de uma festa marcada para setembro do ano passado no campus de Perdizes. O convite supostamente fazia apologia ao uso de drogas e de bebida alcoólica no evento e, por isso, comunicou a Polícia Civil sobre o assunto.
De acordo com o delegado, a investigação não encontrou elementos para incriminar o trio. O inquérito aberto tratava da apuração do crime de tráfico de drogas. "Mas a única coisa que confirmamos é que eles e outras pessoas pularam um muro para fazer a festa sem autorização da PUC", completou.
Durante as investigações, os três alunos negaram em depoimento à polícia o comércio de entorpecentes no campus. Um representante da PUC também foi ouvido e não confirmou o consumo de drogas no local. Um morador de um prédio vizinho falou à polícia que tinha visto uso de bebidas, mas não de entorpecentes. "Além das testemunhas não terem reconhecido o trio como traficante, imagens do circuito de segurança não mostram os três e nem venda ou consumo de drogas", disse o delegado.
Um dos estudantes investigados, Cauê Seignemartin Ameni disse que as acusações são falsas e que houve perseguição política por parte da instituição. Ele negou que o grupo tenha feito apologia às drogas. Ameni afirmou ainda que a PUC-SP "misturou as coisas" ao citar como estopim para a invasão a proibição de festas e a investigação dos alunos. "A gente não tem nada a ver com ocupação", defendeu. Ele concluiu o curso de Ciências Sociais em 2014.
Cauê Ameni afirmou que, após a confirmação do arquivamento, o grupo tomará as medidas cabíveis. O aluno do curso de relações internacionais Akira Pinto Medeiros e a estudante de ciências sociais Aline Mandeli também foram investigados. Eles gravaram um vídeo na noite da invasão para usarem como prova de que estavam reunidos no Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CACS) e que não participavam do ato.
Ao G1, Medeiros também negou que tenha feito qualquer apologia às drogas e que aguarda o arquivamento para definir quais providências serão tomadas. A aluna Aline Mandeli relatou ter crises de ansiedade constantes após o ocorrido que a atrapalham a dar continuidade no curso. "Fora as acusações caluniosas, é um investimento de vida que fazemos para pagar a faculdade e não sei se vou conseguir terminar o curso porque não consigo ir às aulas", disse.
Festas
Nesta quarta-feira (18), a PUC disse que o “estopim” para a ocupação da reitoria por estudantes foi o trabalho contra “a realização de festas e consumo de substâncias ilícitas dentro do campus".
"A invasão da reitoria é ilegal, é inapropriada, porque é uma invasão de domicílio. Entendemos que o estopim da invasão ocorra do trabalho duro da reitoria de impedir festas e da presença de alunos no interior da universidade após o seu horário de funcionamento", diz Jarbas Vargas Nascimento, pró-reitor de cultura e relações comunitária da PUC-SP.
Um estudante que participou da ocupação disse que o argumento sobre as festas é "falacioso". “Essa acusação visa desacreditar o movimento. Nós lutamos pela melhoria na qualidade do ensino e por melhores condições de trabalho aos professores e funcionários”, afirmou ao G1, com a condição de que seu nome fosse preservado.
Segundo os alunos, os motivos da ocupação são o aumento dos preços do restaurante universitário - que subiu de R$ 5,60 para R$ 10,34, de acordo com os manifestantes - e o reajuste das mensalidades, além do número reduzido de bolsas de estudo. Eles disseram também que querem uma audiência com a reitora, Anna Cintra.
Em um manifesto divulgado pelos estudantes, eles pedem ainda creche para os filhos de estudantes, professores e funcionários; reabertura de turmas nos cursos de filosofia, geografia, serviço social, história e ciências sociais.
Em fevereiro, a universidade publicou um ato sobre a proibição das festas, mas os eventos nunca foram permitidos, segundo a direção da PUC, principalmente no período após o fechamento do campus e com consumo de bebida alcoólica.
A PUC-SP diz que as festas no campus têm provocado muitas reclamações de vizinhos. A universidade recebeu três multas de R$ 35 mil por excesso de barulho. "Essa atitude de festas e barulho ocasionou problemas na comunidade, atrapalhando o andamento das aulas, e trouxe dificuldades em relação aos vizinhos, que têm reclamado muito do barulho que tem ocorrido dentro da universidade", diz o pró-reitor.
Reivindicaçõesdos alunos
Uma das reivindicações dos alunos é a "reabertura de turmas nos cursos de filosofia, geografia, serviço social, história e ciências sociais". A PUC-SP diz que é necessário um número mínimo de alunos para manter as turmas.
"A universidade gostaria de manter todos os cursos, mas é preciso ter um número mínimo de 20 alunos", explicou o assessor institucional da PUC-SP, Claudio Junqueira.
A universidade diz que as mensalidades foram reajustadas em 10%, “acompanhando a margem das instituições privadas de ensino”. A PUC-SP nega o aumento do preço no restaurante e afirma que concedeu bolsas de alimentação de 100% para alunos do Prouni e que ainda há subsídio de 50% para estudantes com necessidade socioeconômica.
Os alunos também reclamam de “demissões sumárias de professores e funcionários”. Em relação a isso, a universidade afirma que “rescindiu, no final de 2014, o contrato de trabalho com 50 professores(as), cerca de 3% do seu total.” Além disso, 40 funcionários deixaram a instituição no início de 2015, ou 2,5% do quadro administrativo, ainda de acordo com a PUC.