A cidade de São Paulo registrou, em média, o roubo e o furto de cerca de 460 celulares por dia nos três primeiros meses deste ano, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) aos quais o G1 teve acesso.
De acordo com levantamento feito a partir de informações em boletins de ocorrências da Polícia Civil, foram registrados na capital paulista, de 1º de janeiro a 31 de março, roubos de 26.656 celulares. Outros 14.623 telefones foram furtados na cidade.
Somando roubos e furtos, 41.279 celulares foram levados de janeiro a março – 458,6 por dia. Se feita uma relação com o total da população apontada pelo censo 2010, foi registrado um furto ou roubo para cada 273 paulistanos nos três primeiros meses do ano.
“O aparelho celular tem grande liquidez e por isso ele aparece como o item mais roubado e furtado. Tem grande potencial de circulação e negociação. Se torna uma moeda de troca nas mãos dos criminosos”, afirma Fábio Bechara, coordenador do Centro de Inteligência da SSP.
Na semana passada, o G1 flagrou a venda de aparelhos sem indicação de origem no Centro de São Paulo (veja vídeo acima).
Os números registrados em São Paulo são superiores aos verificados, por exemplo, no Rio de Janeiro. A capital fluminense faz a divulgação mensal do número de roubos de aparelhos. O dado mais recente é o de janeiro, quando houve 314 registros na cidade.
Especialistas da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo ponderam que os casos podem não representar o total de celulares roubados e furtados na cidade. A ressalva é que crimes cometidos em outras cidades podem acabar entrando nas estatísticas se a denúncia for feita em uma delegacia na capital. Além disso, existem outras possibilidades como, por exemplo, uma vítima ter feito mais de uma queixa (pela internet e também em um distrito policial).
Os aparelhos são alvo tanto de grupos que atuam nas ruas da cidade quanto em grandes eventos. Neste fim de semana, a Delegacia Especializada em Atendimento ao Turista (Deatur) manteve um posto dentro do festival Lollapalooza e registrou 10 queixas de furtos de celulares e carteiras, além de um roubo. Os números podem ser maiores, já que o registro pode ser feito via internet ou em outras delegacias. No ano passado, foram registradas mais de 80 casos.
Esquema do roubo e venda
De acordo com policiais, os celulares roubados e furtados na cidade têm quase sempre o mesmo destino: a Cracolândia, no Centro, o Rio de Janeiro e o Paraguai. São nesses locais que eles são comercializados ilegalmente. Quando não são desmanchados para a revenda de peças, têm as “carcaças” reaproveitadas com a troca dos chips.
Com o recurso de uma microcâmera, o G1 flagrou a venda desses telefones na região central na semana passada. Na Avenida Rio Branco, um homem com óculos escuros e boné oferecia dois aparelhos, um Nokia e um Samsung, bastante avariados, de origem desconhecida e sem nota fiscal, por R$ 150. Depois reduziu o valor para R$ 100, R$ 70 e por fim, R$ 50 pelos celulares, que não foram comprados.
Questionado sobre onde adquire os aparelhos e quanto paga por eles, o homem respondeu que os compra por R$ 30 na "feira do rolo"(comércio informal e itinerante no Centro de São Paulo) e depois os revende nas ruas. Ele negou, no entanto, que os itens sejam produtos de crime. Alegou que eram peças que estavam no conserto, mas os donos não retiraram.
ROUBOS* | FURTOS* | ||
---|---|---|---|
1 – celular | 26.656 | 1 - celular | 14.623 |
2 – RG | 14.686 | 2 - RG | 10.976 |
3 – outros | 11.992 | 3 – cartão de banco | 5.959 |
4 – dinheiro (R$) | 11.608 (cédulas) | 4 – outros documentos | 5.182 |
5 - cartão de banco | 8.671 | 5 – CNH | 5.009 |
6 – CNH | 6.993 | 6 – CIC | 4.987 |
7 – CIC | 6.917 | 7 – dinheiro (R$) | 3.985 (cédulas) |
8 – outros documentos | 6.600 | 8 – outros | 3.725 |
9 – cartão de crédito | 4.984 | 9 – cartão de crédito | 3.265 |
10 – moedas (outras) | 4.113 | 10 – carteira de plano de saúde
| 3.185 |
* Casos registrados entre janeiro e março 2014, por unidade |
Os números de celulares roubados e furtados superam os de outros itens levados, como identidades, dinheiro, cartões bancários, carteira nacional de habilitação e documentos pessoais, de acordo com os dados consolidados pelo Sistema de Informações Criminais (Infocrim) da SSP.
A secretaria não divulga em seu site estatísticas oficiais de crimes envolvendo celulares, mas PM e Polícia Civil têm acesso aos dados.
A SSP informou que não está descartada a possibilidade de incluir dados mensais sobre os aparelhos levados, assim como já o faz com a apresentação dos dados específicos de roubo e furto de veículos.
Como agem
Roubos e furtos de telefones móveis ocorrem geralmente em vias públicas, com pedestres ou motoristas parados no trânsito, pontos de ônibus, bares, restaurantes, casas noturnas ou grandes eventos. Há mais de um ano, criminosos levaram mais de 80 celulares de fãs durante os três dias do festival de música Lollapalooza, no Jockey Club, segundo a Deatur.
Em abril de 2013, a Deatur prendeu 27 membros de quadrilhas de criminosos estrangeiros e de outros estados que tomaram aparelhos de fãs que tinham ido ao evento. A maior parte dos telefones foi recuperada e devolvida aos donos. Os suspeitos foram indiciados em flagrante por furto e formação de quadrilha. Alguns deles, suspeitos de furto, acabaram soltos pela Justiça dias depois após pagarem fiança. Ficaram presos os detidos por formação de quadrilha.
Estratégia dos criminosos
Veja como agiam os criminosos, segundo as informações da polícia e do delegado Osvaldo Nico Gonçalves, da Deatur:
*Os ladrões aproveitaram a aglomeração e a distração. Um comparsa tirava a atenção da vítima com um empurrão, o ladrão enfiava a mão na bolsa, blusa ou calça da pessoa e retirava o aparelho, que era repassado para outro criminoso, que saía de perto.
*Celulares furtados eram etiquetados - para identificar posteriormente quem furtou - e entregavam para mulheres, que escondiam os aparelhos por debaixo da roupa.
*As quadrilhas compravam ingressos para o show a R$ 300 e repassavam um iPhone ou um Galaxy a R$ 500.
*Os telefones eram revendidos nas “feiras do rolo” ou na Cracolândia. Também eram levados para o Bom Retiro e Santa Ifigênia, em lojas de galerias que comercializam celulares.
*Nem sempre é possível localizar os aparelhos por meio do rastreador porque alguns técnicos conseguem desabilitar o aplicativo
*Outra estratégia dos criminosos é levar os celulares a prédios altos na região central. Mesmo com o localizador indicando o ponto da rua onde o aparelho foi achado, a polícia não pode entrar em cada um dos apartamentos sem mandado de busca e apreensão.
Como se prevenir
Segundo o delegado José Mariano Araújo Filho, especialista em cibercrimes e professor em crimes eletrônicos da Academia de Polícia de São Paulo (Acadepol), da Escola Paulista de Direito e da Faculdade Impacta, os donos dos celulares podem ajudar a reduzir o índice de roubos e furtos de celulares.
“Para vítima a primeira coisa a fazer é saber qual é e onde verificar o recurso de localização que o aparelho permite. Como acionar geolocalização, identificar a identidade do aparelho para constar num BO”, disse o delegado Araújo Filho. “O que vai ficar bloqueado é o EMei do aparelho. Tem muito mercado negro que faz adulteração. Ele é vendido como se fosse BlackBerry novo com preço embaixo, mas é usado. Coloca caixa de BlackBerry, fio, mas tudo usado.”
Segundo a Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações (ABR Telecom), a Central de Estações Móveis Impedidas (Cemi) registra celulares roubados, extraviados e furtados. O órgão informou não ser possível saber quantos celulares somem na capital paulista, mas divulgou números nacionais. No dia 25 de março, o total de telefones móveis bloqueados no Brasil era de 4,3 milhões. A Cemi foi criada em 13 de novembro de 2000, com o objetivo de impedir que aparelhos roubados, furtados ou extraviados sejam habilitados de forma indevida.