Manifestantes voltaram a ocupar ruas e avenidas da região central de São Paulo nesta terça-feira (11) em protesto contra o aumento da tarifa de ônibus. Eles quebraram ônibus, agências bancárias e uma estação do Metrô e picharam veículos e prédios públicos. Houve confronto com a polícia, que utilizou balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e gás pimenta. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, 20 pessoas foram presas – 18 foram levadas ao 78º Distrito Policial, nos Jardins, e duas ao 1º DP, na Liberdade. A fiança foi arbitrada em R$ 20 mil para cada um dos presos.
Ao menos dois PMs ficaram feridos, de acordo com a SSP. Outras duas pessoas foram atropeladas por um automóvel que forçou a passagem após o bloqueio de uma das vias. O atropelador fugiu.
A PM estima que 5 mil tenham participado dos protestos. Cerca de 400 homens da corporação foram destacados para a região central da cidade. Este é o terceiro dia de manifestações convocadas pelo Movimento Passe Livre. Na semana passada, os protestos também terminaram em vandalismo, confronto com a polícia e prisões.
A manifestação teve início por volta das 17h na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista. Os manifestantes desceram a Rua da Consolação em direção ao Centro. Eles tentaram fechar o Corredor Norte-Sul, uma das principais vias da cidade, mas a Polícia Militar impediu o avanço do grupo em direção à Avenida 23 de Maio. O grupo, então, se dirigiu à Praça da Sé e ao Parque Dom Pedro. Segundo a PM, houve confronto quando manifestantes tentaram entrar no terminal de ônibus para depredar veículos. A polícia atirou bombas para dispersar manifestantes na Praça da Sé. Apesar da ação da polícia, a multidão deixou um rastro de pichações e destruição em agências bancárias, ônibus, prédios públicos e privados. O grupo de manifestantes se dividiu e passou a realizar protestos simultaneamente na região da Paulista e na região central. Foram quase seis horas de protesto nesta terça. Os manifestantes só dispersaram pouco antes das 23h, quando houve um último confronto com a PM e começou a chover na região da Paulista.
"Acredito que foi o dia mais violento, pela intensidade e pela animosidade dos manifestantes, o ânimo deles, desde o início, de insultar os policiais", afirmou o tenente-coronel Marcelo Pignatari, da PM. Segundo o oficial, os manifestantes atiraram fogos de artifício e coqueteis molotov contra os policiais. "Pessoas que querem defender uma ideia contra o aumento da tarifa não trazem esses acessórios", disse.
Um integrante do Movimento Passe Livre que se identifica apenas como Marcelo disse que os ataques começaram após a repressão policial contra os manifestantes no Parque Dom Pedro. "Antes disso, houve alguns pequenos focos de conflito sem importância. Não teve nada disso antes de a polícia iniciar a repressão", afirmou. De acordo com ele, o movimento se dividiu em vários grupos e passou a atuar sem um comando central. Ele disse que O MPL não assume a responsabilidade pelos ataques a ônibus e prédios públicos. "Com mais de 15 mil pessoas, não dá para controlar."
Reunião
O MPL, que já programou um novo protesto para quinta (13) em frente ao Theatro Municipal, disse ter protocolado um pedido de reunião com a prefeita em exercício nesta quarta-feira (12), com pauta única: a revogação do aumento da tarifa de ônibus, que em 2 de junho passou de R$ 3 para R$ 3,20.
Já o Ministério Público de São Paulo informou que organiza também nesta quarta uma reunião com representantes do grupo que faz atos contra o aumento das tarifas. A Secretaria Municipal de Transportes (SMT) disse que vai enviar um representante, já que o secretário Jilmar Tatto não irá comparecer.
Segundo o MPL, “todo aumento de tarifa é injusto e aumenta a exclusão social”. O aumento de 6,7%, no entanto, ficou abaixo da inflação no período – a tarifa dos ônibus, por exemplo, custava R$ 3 desde janeiro de 2011. Caso fosse aplicado o reajuste da inflação acumulada no período pelo IPC/Fipe, o novo valor seria de R$ 3,40, segundo a Prefeitura.
Antes do anúncio da nova tarifa, o prefeito Haddad disse que fez "um esforço para o menor reajuste possível".
Rafael Stedile)
'Caso de polícia'
Alckmin criticou os recentes protestos durante entrevista na manhã desta terça à Rádio França Internacional (RFI), em Paris, onde defende a candidatura de São Paulo para a Expo 2020. Ele afirmou que interromper o trânsito em vias importantes é “caso de polícia.”
“Uma coisa é movimento, tem que ser respeitado, ouvido, dialogado. Outra coisa é vandalismo, é você interromper artérias importantes da cidade, tirar o direito de ir e vir das pessoas, depredar o patrimônio público que é de todos. Isso não é possível, aí é caso de polícia e a polícia tem o dever de garantir a segurança das pessoas”, declarou.
Apesar da distância, Alckmin e o prefeito Fernando Haddad prometeram acompanhar os protestos.
Rastro de destruição
Na quinta e na sexta passadas, com o lema “Se a tarifa na baixar, a cidade vai parar”, o grupo percorreu diversas vias importantes e prejudicou o trânsito na cidade.
Segundo informações do Metrô, os atos de vandalismo da semana passada resultaram em um prejuízo avaliado em R$ 73 mil, quando 16 pessoas foram presas por conta dos protestos. Na sexta, de acordo com a CET, a capital chegou a registrar 226 km de vias congestionadas.
Em nota, o Movimento Passe Livre afirmou que “não incentiva a violência em momento algum de suas manifestações, mas é impossível controlar a frustração e a revolta de milhares de pessoas com o poder público e com a violência da Polícia Militar”.
Julia Basso Viana/G1)
O movimento é composto em sua maioria por estudantes e defende o transporte público gratuito. As primeiras manifestações do grupo em São Paulo contra reajustes ocorreram em dezembro de 2006. À época, a passagem dos ônibus tinha aumentado de R$ 2 para R$ 2,30, e a do Metrô de R$ 2,10 para R$ 2,30.
O Ministério Público de São Paulo informou que irá instaurar inquérito civil público contra os responsáveis pelo quebra-quebra na capital durante os protestos. A Promotoria pretende identificar e responsabilizar legalmente os manifestantes que depredaram patrimônios públicos e privados e causaram congestionamentos.
Dia de protestos
Mais cedo, nesta terça, policiais civis realizaram um protesto por aumento salarial e melhores condições de trabalho no vão livre do Masp. De acordo com o Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo (Sipesp), os policiais reivindicaram a reestruturação das carreiras policiais e o cumprimento da lei promulgada em 2008 que garante o salário base de um concursado de nível superior.
Participaram também do protesto desta tarde servidores estaduais da Saúde, que assim como os policiais civis pedem aumento salarial. Uma assembleia geral deve acontecer em julho com outras entidades da categoria para a unificação da pauta de reivindicações, que será entregue a Alckmin. Caso não cheguem a um acordo até o fim do mês de julho, os policiais ameaçam entrar em greve a partir de agosto.