Repórter do G1 faz resumo dos últimos dias em que ficou em casas com pouca água
Desde quarta-feira (4) estou circulando por regiões de São Paulo que vivem as dificuldades com a escassez de água.
Nos últimos dias eu passei a morar em duas casas no Bairro do Limão. Também circulei pelo Parque Edu Chaves, tudo na Zona Norte de São Paulo, uma das primeiras regiões a enfrentar a redução do fornecimento de água.
No terceiro dia dessa jornada, passei a morar na casa da dona Teresa Prudêncio, uma imigrante portuguesa que dá aula de música. Ela mora com o filho e ambos chegaram a ficar quatro dias consecutivos sem água em casa. Dona Teresa armazena água da chuva e tenta economizar o máximo de água da caixa e ainda guarda o que consegue de água da chuva em garrafas pet e galões.
Aproveitei para mostrar como é possível lavar um carro com pouco mais de meio litro de água e também aproveitando a água da chuva. Conheci o Alexandre, um escoteiro de 16 anos que ensinou a fazer um filtro para tratar a água da chuva.
Repeti a experiência de tomar banho de caneca. Da primeira vez, na casa da Vanessa e do Marcelo, usei pouco mais de três litros de água. Na casa de dona Teresa, onde ela consegue armazenar mais água, usei seis litros para o banho.
No meu quarto dia de estadia em casas de família com pouca água, me mudei para a casa de Alexandre e Ana, também no Limão. Eles não conseguem saber exatamente quanto tempo de água eles recebem por dia, pois moram em um ponto mais alto da rua e a pressão da água é bem mais fraca do que na casa dos vizinhos.
Eles conseguem se manter com água porque têm um sítio em Tapiraí, no Vale do Ribeira, onde existe uma nascente. É a água dessa nascente que eles usam para distribuir aos vizinhos locais e até trazer para os vizinhos no Bairro do Limão.
Andei pelo Parque Edu Chaves, onde ouvi o relato da Andressa, que mora com o marido e a filha, mas recebem menos de três horas de água por dia. Ela tem sentido dores de estômago e acredita que seja por causa da má qualidade da água que está chegando à sua caixa d’água. A filha leva essa mesma água, que ela considera ruim, para tomar durante a aula, porque a escola também sofre com a falta de água.
A comerciante Lucimar, que tem um bar, dorme apenas duas horas por dia para conseguir pegar água no horário que a Sabesp fornece na região, das 8h às 11h.
Perto dali, o costureiro Sabino está preocupado com a qualidade da água, pois usa para dar banho nos três filhos e, principalmente, para fazer o leite das crianças. O dono do imóvel até comprou um tambor para ajudar a família de inquilinos.
Este cenário todo é vivido por moradores do Limão e do Parque Edu Chaves há mais de um ano.