Por Jonas Campos, Madu Brito, RBS TV e g1 RS


Joseane de Oliveira Jardim, suspeita de matar a gestante Paula Janaína Ferreira Melo para ficar com o bebê, na última segunda-feira (14) , em Porto Alegre, teria falado com os conhecidos da vítima antes de ser presa na quarta-feira (16).

A suspeita teria enviado um áudio para uma pessoa que procurava por Paula, afirmando que estaria à disposição para ajudar a encontrar a então desaparecida, mas que precisava enterrar o filho primeiro (veja abaixo). De acordo com investigação da Polícia Civil, a investigada teria matado a gestante, retirado o bebê da barriga e simulado ter dado à luz. A criança também não sobreviveu.

"Tá sendo difícil para mim essa situação, tá sendo muito difícil para mim. Assim que der, assim que eu conseguir raciocinar, porque eu não estou conseguindo raciocinar, eu estou à disposição de vocês, estou à disposição da polícia, mas, por favor, deixa eu enterrar meu filho primeiro. Depois eu ajudo vocês a procurar esta menina, mas por favor me deixa enterrar meu filho primeiro", diz Joseane em áudio.

A suspeita está presa preventivamente desde quarta-feira (16).

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Confira, abaixo, o que se sabe sobre o caso até agora:

Como Paula foi morta

Janaína Ferreira Melo, mulher grávida morta em Porto Alegre — Foto: Arquivo pessoal

Segundo a Polícia Civil, Paula foi morta na segunda-feira (14), atraída até a casa da suspeita com a promessa de que ganharia presentes para o bebê. O caso aconteceu em Porto Alegre.

No apartamento, Paula teria sido agredida na região da cabeça. Após o assassinato, a suspeita teria retirado o bebê da barriga e simulado um parto. O corpo da mãe da criança foi encontrado escondido debaixo de uma cama em um dos quartos do imóvel.

"Ela tinha histórico de tentar engravidar e não conseguir. Teria perdido uma criança tempos atrás", disse a delegada Graziela Zanelli.

O corpo de Paula tinha ferimentos na cabeça e um corte profundo na região abdominal. Uma faca foi apreendida no local. A polícia apura a possibilidade de participação de outras pessoas no crime.

"A complexidade da cena do crime que foi encontrada, a forma como a vítima estava disposta, embaixo da cama, envolta em plásticos e em um cobertor, essa cena nos chamou muito a atenção", afirmou o delegado Thiago Carrijo.

Quando o caso começou a ser investigado

Mulher é presa após matar grávida, retirar bebê da barriga e simular ter dado à luz

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O caso começou a ser investigado entre segunda (14) e terça-feira (15), depois que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) levou a suspeita, junto do bebê morto, até o Hospital Conceição. Exames apontaram que ela não podia ser a mãe e a polícia foi chamada em seguida.

"Ela preparou para a criança nascer no mesmo dia do aniversário dela, 14 de outubro. A princípio, inventou para toda a família e amigos que estava grávida", relatou a delegada Graziela Zanelli.

Conforme relato do Samu à polícia, vizinhos da suspeita entraram em contato por telefone para pedir ajuda para ela. No local, a equipe médica encontrou a mulher em um cenário que dava a entender que ela tinha dado à luz. De acordo com a delegada Graziela Zanelli, responsável pela investigação, a suspeita simulou o parto.

"Ela criou uma cena de que ela teria dado a luz, na sala, com sangue e a criança entre as pernas dela", conta a delegada Graziela.

A mulher foi convencida por médicos a fazer exames, o que até então ela vinha se recusando a fazer, que apontaram que ela não podia ser a mãe – levantando suspeitas da equipe hospitalar. A polícia foi chamada em seguida.

Como a investigada agia

Suspeita de matar mulher grávida para ficar com o bebê em Porto Alegre — Foto: Divulgação/Polícia Civil

De acordo com o delegado Thiago Carrijo, a suspeita abordava as possíveis vítimas em redes sociais, com promessas de presentes para os filhos delas. No caso de Paula, a aproximação ocorreu porque a grávida acreditou que receberia um carrinho de bebê. Ela também enviava falsos exames de gravidez, segundo a polícia.

"Fazia contato via redes sociais, dizendo que ela tinha ganhado muitas coisas durante a gravidez dela e queria doar, muito provavelmente buscando outras vítimas", explicou Carrijo.

Não está descartado que haja outras vítimas. Conforme Carrijo, as equipes de investigação estão fazendo uma varredura nas redes sociais.

Em depoimento à polícia, o marido da suspeita sustentou que nos últimos meses acreditava que a esposa realmente estivesse grávida. Segundo o delegado, o homem disse, inclusive, que recebia exames médicos da mulher.

"Muito provavelmente ela conseguia os exames na internet. Exames falsos que ela propagava não só para o marido, mas também no meio dela, colegas de trabalho, vizinhos, para criar toda uma situação de que estaria grávida", pontuou Carrijo.

Suspeita está presa

No mesmo dia, a suspeita passou por audiência de custódia. O juiz André Vorraber Costa manteve a prisão da investigada. Joseane foi acompanhada pela Defensoria Pública do RS. "A partir de agora, caso ela não constitua advogado particular, a Defensoria seguirá atuando na defesa da mulher, conforme previsto na Constituição", informa o órgão.

A Polícia Civil identificou que a suspeita teria adquirido um enxoval para o bebê, com roupas e fraldas. A participação do marido dela no crime é investigada.

A suspeita deve ser indiciada por homicídio, ocultação de cadáver e aborto.

Quando foram os sepultamentos

Os corpos de Paula e do bebê foram sepultados na manhã de quinta-feira (17) no Cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre. A cerimônia foi restrita a amigos e familiares. Em conversa com a RBS TV, Juan Jackson Nunes Rodrigues lamentou a perda da irmã.

"Ninguém tá preparado para um ente querido partir. Se ela tivesse doente, a gente ia assimilar com facilidade. Mas pelo jeito que foi, assim, foi muito cruel", disse.

O corpo de Paula tinha ferimentos na cabeça e um corte profundo na região abdominal. Uma faca foi apreendida no local. A polícia apura a possibilidade de participação de outras pessoas no crime.

Como era a vida de Paula

"Era uma guria muito feliz, vivia rindo", relata o tio Carlos Alberto Lopes.

Nascida em Alvorada, Paula mudou-se para Porto Alegre, onde começou a construir uma nova vida ao lado do companheiro Eduardo, contou Carlos. Eles moravam em uma rua no bairro Mário Quintana, a poucas quadras do apartamento do condomínio onde foi morta.

"Ela estava vivendo o melhor momento da vida dela", lembra o tio.

O casal estaria desenhando um futuro para a família. Os planos envolviam as duas crianças que eles já cuidavam: a primogênita de Paula de nove anos e uma sobrinha de quatro, e o mais novo integrante da família, o pequeno Endrick, que também foi vítima do caso e não sobreviveu.

De acordo com o tio, a imagem da jovem dançando e sorrindo em reuniões familiares é uma memória dolorosa para quem ficou. Ela era a alma das festas de fim de ano: "Natal, Ano Novo, pra nós agora já não tem mais, não existe mais."

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