Por Madu Brito, g1 RS


Iara Mallmann (à esquerda) com os pais Valeria Maria Gregory e João Arlindo Gregory — Foto: Arquivo pessoal

Após 59 anos compartilhando uma vida de casados, os agricultores João Arlindo Gregory, de 80 anos, e Valeria Maria Gregory, de 77, tiveram a história de amor interrompida pela enchente que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio. Eles viviam em Cruzeiro do Sul, uma das cidades mais atingidas pelo desastre.

"Acho que Deus levou eles juntos porque viveram a vida inteira um pelo outro", conta a filha Iara Mallmann.

João e Valeria eram conhecidos como pessoas honestas, humildes, lúcidas e ativas, segundo a consultora de moda Iara.

"Eu cheguei a dizer para eles 'pai, do jeito que o senhor anda, o senhor vai chegar aos 100, né? E a mãe também'", relembra.

Cruzeiro do Sul tem 13 mil moradores e fica à beira do rio Taquari, um dos que mais subiu na enchente. Das 176 vítimas do temporal no estado, 12 ocorreram no município, que só fica atrás de Canoas (31) e Roca Sales (13), de acordo com boletim da Defesa Civil.

Iara tem registrada a última ligação de telefone feita pela mãe. Foi na madrugada de quarta-feira do dia 1º de maio, por volta das 4h, que Valeria Maria ligou para a filha pedindo por socorro: "se não vier resgate, nós vamos morrer afogados", disse a agricultora.

"Eu disse 'mãe, eu vou tentar de tudo pra conseguir'. Eu liguei para o meu filho, ele tentou em tudo que é lugar o resgate pro pai e pra mãe, só que não chegou a tempo. Era muita gente para salvarem", lamenta a filha.

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João Arlindo Gregory tinha completado 80 anos em abril — Foto: Arquivo pessoal

A consultora de moda, que mora no bairro Passo de Estrela, em Cruzeiro do Sul, também teve a residência alagada. Ela precisou pedir por ajuda em cima do telhado de sua casa, que ficou parcialmente destruída. Das 850 casas que faziam parte do bairro, 600 foram totalmente destruídas pelas chuvas.

O casal de agricultores não teve a mesma sorte da filha de conseguir um resgate. A família foi até a casa dos pais quando a água baixou e encontrou um cenário de destruição.

"A gente foi lá na casa e é uma coisa surreal. Quando fomos pegar os documentos deles, achamos a santa Nossa Senhora Aparecida intacta. Ela só sujou a mão e a barra. Tudo triturado, destruído e aquilo ficou intacto", relata.

A causa da morte é incerta, apesar da suspeita de afogamento. João e Valeria deixam três filhos, três netos e um bisneto.

Apesar da dor inevitável, Iara disse que está com o "coração leve", pois aproveitou todos os momentos que podia com os pais, já que, para eles, "qualquer data era motivo de comemoração para reunir todo mundo", conta.

"Eu vivi todos os domingos para o meu pai e para a minha mãe. Não tinha um domingo que eu não fosse lá. Eu vivi intensamente isso", lembra.

Vídeos de celular reconstituem enchente que devastou bairro de 850 casas no Rio Grande do Sul

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