Bomba de drenagem da Sabesp instalada no bairro Humaitá, em Porto Alegre
O Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) de Porto Alegre iniciou, nesta segunda-feira (27), a instalação de uma bomba de água para drenar uma das regiões mais afetadas pelos alagamentos na capital. Mais cedo, moradores dos bairros Farrapos e Humaitá, na Zona Norte, trancaram a BR-290 em protesto, cobrando uma ação das autoridades.
Apesar da chuva que atinge a Região Metropolitana, o nível do Guaíba voltou a cair. O lago ficou abaixo dos 4 metros de altura, alcançando 3,90 metros na tarde desta segunda.
Em Canoas, a Base Aérea recebeu o primeiro voo comercial. A instalação militar e um shopping, que serve de área de embarque, substituem o Aeroporto Internacional Salgado Filho, ainda alagado em Porto Alegre. A operação provisória permitiu reencontros de famílias afastadas desde o início das cheias.
Também em Canoas, o Exército Brasileiro afastou de suas funções militares que divulgaram um informação falsa de que um dique havia rompido em Canoas. O alerta infundado motivou a evacuação do bairro Mathias Velho, um dos mais atingidos pelas enchentes.
No Sul do estado, o Canal São Gonçalo, que liga as lagoas Mirim e dos Patos, atingiu a maior marca da história, chegando a 3,06 metros em Pelotas.
Em Rio Grande, a Ilha dos Marinheiros completou 20 dias de isolamento com a cheia da Lagoa dos Patos, onde sedimentos como barro, argila e areia e outros resíduos, incluindo esgoto, chegaram ao Oceano Atlântico.
Na Serra, o vice-presidente Geraldo Alckmim (PSB) visitou Caxias do Sul, para conhecer as demandas de indústrias afetadas pela cheia. O também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços projetou a abertura de uma linha de crédito de R$ 15 bilhões para grandes empresas do estado.
O RS chegou a 169 vítimas dos temporais e cheias que afetam diversas regiões desde o final de abril. Ainda há 53 pessoas desaparecidas e 637 mil fora de casa.
Confira, nesta reportagem, um resumo do que ocorreu durante o dia no Rio Grande do Sul.
Moradores protestam na Freeway — Foto: Jonathan Heckler/Agencia RBS
Bomba de água após protesto
O DMAE iniciou a instalação de uma bomba de água emprestada pela Sabesp para drenar o alagamento nos bairros Humaitá e Farrapos, na Zona Norte. O equipamento ainda não começou a operar.
A região, próxima ao Rio Gravataí e ao Delta do Jacuí, está inundada há 24 dias. Os dois bairros somam 30 mil habitantes e reúnem mais de 3,5 mil empresas, além da Arena do Grêmio.
Bomba sendo instalada no bairro Humaitá, em Porto Alegre — Foto: DMAE/Divulgação
Durante a manhã, moradores retiraram água de suas casas com baldes e jogaram na BR-290, a Freeway, em protesto. Alguns residentes tiveram suas casas totalmente inundadas ou até mesmo levadas pela força da água.
Sem providências da prefeitura, a população decidiu agir por conta própria nos fundos da Estação de Bombeamento 5, bloqueando o trânsito no local. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) precisou intervir para a liberação parcial de pistas.
Moradores tiram água de balde e jogam em rodovia
Elisandro Cichelero, comerciante na região, teve o seu comércio totalmente coberto pela água. De acordo com ele, "ninguém traz uma solução".
"Se continuar do jeito que está, nós vamos ficar mais um mês fora das nossas casas", desabafou o comerciante.
Das 23 casas de bombas, 11 estão em funcionamento na capital. Além disso, três estruturas móveis estão drenando a água acumulada no bairro Sarandi, também na Zona Norte. No bairro, moradores do Sarandi trancam Avenida Assis Brasil em razão dos alagamentos.
Encanamento de bomba no bairro Humaitá, em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV
Chuva e baixa do Guaíba
O Guaíba recuou, mesmo com a chuva que atingiu Porto Alegre durante esta segunda. O nível do lago estava em 3,90 metros no meio da tarde. O índice ainda está distante da cota de inundação, de 3 metros.
"Os cenários de previsão indicam recessão da cheia, com níveis ainda elevados, mas em declínio lento nos próximos dias em resultado dos volumes afluentes dos rios pelas chuvas da semana passada", projeta o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS.
A formação de um ciclone extratropical no oceano atingiu região litorânea do RS nesta segunda-feira (27), segundo a Climatempo. O fenômeno deixa o tempo instável e traz fortes chuvas para grande parte do estado. As temperaturas não devem passar de 15ºC em Porto Alegre até a terça-feira (28).
O ciclone favorece a formação de nuvens carregadas com possibilidade de temporais a qualquer hora com raios e rajadas de vento intensas no litoral gaúcho, em Porto Alegre e na Serra. Contudo, não há indicativo de volumes extremos de chuva.
A Defesa Civil Municipal emitiu um comunicado para o risco de ventos intensos, entre 40 km/h e 60 km/h, podendo acarretar elevação do nível do Guaíba, corte de energia elétrica e queda de postes e árvores. O aviso vale até o final da manhã de terça-feira.
Diante desse previsão, a Prefeitura de Porto Alegre havia anunciado a suspensão das aulas nas redes públicas e privada na segunda e na terça. Contudo, após pressão do Sindicato do Ensino Privado, o prefeito Sebastião Melo (MDB) liberou as atividades nas escolas particulares já a partir da tarde desta segunda.
"Com divisão de responsabilidades e entendendo as ponderações, atualizamos o decreto para que as escolas privadas atuem da forma como acharem mais adequado", disse o prefeito.
Na rede estadual, o governo anunciou a retomada das aulas na terça em Porto Alegre. As aulas na rede municipal seguem suspensas.
Novo corredor humanitário
É aguardada ainda para esta segunda em Porto Alegre a abertura de um terceiro corredor de acesso, ou "corredor humanitário", na Avenida Assis Brasil, que vai permitir o ingresso na Freeway pelo bairro Sarandi, um dos mais afetados pela cheia.
A via de 300 metros será aberta a partir da Av. Bernardino Silveira Amorim, em direção à rodovia. O acesso à Cachoeirinha, na sequência da Av. Assis Brasil, continua bloqueado. O uso do caminho é preferencial para veículos de emergência, mas poderá ser utilizado por carros de passeio, afirmou a prefeitura.
Segunda-feira (27) de chuva em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV
Aeroporto em Canoas
A Base Aérea de Canoas recebeu, na manhã desta segunda, o primeiro voo comercial da história da unidade. Enquanto isso, um shopping da cidade serviu de ponto de embarque e desembarque para passageiros.
A operação na base ocorre por causa das enchentes que alagaram o Aeroporto Salgado Filho, impossibilitando a operação em Porto Alegre desde o dia 3 de maio.
Para facilitar o deslocamento dos passageiros, um ônibus realiza a conexão entre o ParkShopping e a base aérea. Segundo Edgar Nogueira, vice-presidente de operações da Fraport, o acesso principal dos passageiros e o check-in acontece diretamente no shopping.
"A base é uma operação militar. Nós estamos usando a infraestrutura de pista da base, mas o check-in, o translado, o acesso do passageiro é pelo ParkShopping", explicou Nogueira.
Base aérea em Canoas faz 1º voo comercial após inundação no aeroporto da Capital
O início da operação de voos comerciais na Base Aérea de Canoas possibilitou o reencontro de mãe e filha após três semanas separadas. Isabela Duarte, de 15 anos, estava em São Paulo e não conseguia retornar ao estado desde o início das enchentes que atingem o RS.
A adolescente chegou a Canoas e conseguiu reencontrar a mãe após desembarcar do primeiro voo comercial da história da unidade na base aérea.
"Agora eu 'tô' feliz", diz mãe de Isabela após se reencontrar com a filha.
Embarque e desembarque de passageiros no ParkShopping de Canoas — Foto: Ronaldo Bernardi/ Agencia RBS
Militares afastados
Também em Canoas, o Exército afastou militares que divulgaram uma informação falsa de que um dique havia rompido na cidade. O comunicado, na noite de domingo (26), motivou a evacuação do bairro Mathias Velho, um dos mais atingidos pelas enchentes.
Moradores de Canoas foram orientados por militares a evacuar imediatamente o bairro por conta do suposto rompimento do dique, o que inundaria a região – mas a estrutura não rompeu. Vídeos e relatos sobre o alerta circularam nas redes sociais, assustando moradores e tirando pessoas de casa.
A própria prefeitura de Canoas desmentiu a informação, e o Exército admitiu que errou e pediu "sinceras desculpas pelo ocorrido".
"Militares que atuavam no Bairro Mathias Velho, souberam, sem confirmação, que um dique havia se rompido e imediatamente passaram a comunicar erradamente aos moradores da necessidade de evacuação das áreas consideradas em risco. O Exército Brasileiro esclarece que tal situação decorreu de um grave erro de procedimento", disse, em nota.
Casas inundadas no bairro Mathias Velho, em Canoas (RS) — Foto: REUTERS via BBC
Canal São Gonçalo
O nível do Canal São Gonçalo, que liga a Lagoa dos Patos à Lagoa Mirim, em Pelotas, atingiu 3,08 metros nesta segunda-feira – marca recorde, que nunca havia chegado na história. A altura da enchente histórica de 1941 foi de 2,88 metros.
De acordo com a prefeitura da cidade, o aumento do nível ocorre pela descida da água da Lagoa Mirim depois da chuva registrada na Região Sul. Foram 180 milímetros em 48 horas.
Entenda onde fica o Canal de São Gonçalo, Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim — Foto: Reprodução/JN
Com isso, áreas na cidade de Pelotas, que até então não haviam sido diretamente atingidas pela enchente, alagaram, como a Vila Farroupilha, no bairro Fragata. A Praia do Laranjal, onde a água da Lagoa dos Patos havia recuado, voltou a inundar. Na sexta-feira (24), a Defesa Civil aumentou a abrangência da área de risco da cidade. Isso fez com que moradores fossem retirados de casa.
A prefeitura afirma que tem usado uma bomba de água para retirar água do canal para jogar de volta para o lago São Gonçalo. Além disso, diques foram reforçados para tentar conter a água, mas rachaduras apareceram no concreto de um, razão pela qual mergulhadores são usados para o conserto da proteção.
Canal São Gonçalo invade novas áreas em Pelotas, RS
Lagoa dos Patos
Novas imagens de satélite mostram que os sedimentos que os rios do RS carregaram após os temporais cruzaram a Lagoa dos Patos e chegaram ao oceano. Na área destacada em vermelho (veja abaixo), a mancha marrom aparece ingressando na costa pelos Molhes da Barra, em Rio Grande.
As imagens comparam a situação em 25 de abril, antes dos temporais, e domingo (26). O registro foi captado pelo Sentinel-3 e analisado por cientistas do Laboratório de Oceanografia Dinâmica e por Satélites (LODS), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Os sedimentos são partículas de terra, argila e areia suspensas na água e carregadas pela correnteza. Segundo o coordenador do LODS, Fabricio Sanguinetti, a mancha já havia chegado ao município de Rio Grande no dia 23 de maio. No entanto, as nuvens que provocaram chuva na região impediram a visualização do local por satélite.
"A gente consegue ver, basicamente, a pluma de sedimento ao longo de toda a extensão da Lagoa dos Patos e também consegue ver já ela alcançando o oceano", diz.
Imagens de satélite comparam Lagoa dos Patos em abril e maio — Foto: LODS/FURG/Divulgação
O nível da Lagoa dos Patos subiu tanto que moradores da Ilha dos Marinheiros, em Rio Grande, ficaram isolados. Desde 6 de maio, o deslocamento do Porto de Rio Grande até a ilha só pode ser feito por água ou por ar. O trajeto leva cerca de 40 minutos.
São 1,5 mil habitantes no local, principalmente pescadores e suas famílias. A ajuda, com mantimentos, remédios e atendimento, chegou com a Marinha.
Centenas de casas foram tomadas pela água e parte das moradas está sem energia elétrica. O pescador Laurício Farias já enfrentou três enchentes na ilha, mas nenhuma foi parecida com a deste ano, quando a água invadiu a casa dele.
"Essa aí veio para liquidar com as coisas. O pouco que a gente tem. Tantos anos passou para adquirir umas coisas e, em poucos dias, foi isso tudo. Foi isso tudo. O que eu vou fazer? Tendo saúde, vai se levando. Esperança é a última que morre", diz.
1.500 pessoas estão isoladas na Ilha dos Marinheiros
Alckmin em Caxias do Sul
O vice-presidente Geraldo Alckmin ouviu a demanda de empresários dos setores industrial e agrícola durante uma viagem a Caxias do Sul. O governador Eduardo Leite (PSDB) e o ministro de Apoio à Reconstrução do RS, Paulo Pimenta (PT), acompanharam a agenda na Serra.
Alckmin afirmou que uma linha de crédito de R$ 15 bilhões, voltada para as grandes empresas afetadas pelos temporais e cheias deve ser definida nesta segunda pelo governo federal. O auxílio será por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
"O presidente vai definir com o ministro da Fazenda, está praticamente elaborada a medida provisória e deve definir a questão desse crédito para as grandes empresas", disse Alckmin.
A região relata problemas, principalmente, nas estradas que fazem o escoamento da produção econômica do estado. De acordo com o sindicato que representa a indústria metalmecânica, o transporte de produtos destinados à exportação ficou 25% mais caro.
Vice-presidente Geraldo Alckmin em Caxias do Sul — Foto: Mauricio Tonetto/Secom