Congestionamento no 'corredor humanitário' em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV
A cidade de Porto Alegre registrou um congestionamento de 7 km neste sábado (25) no chamado "corredor humanitário", aberto para que veículos de emergência e de passeio possam acessar ou sair do Centro Histórico.
O Guaíba voltou a recuar durante o dia, mas ainda não baixou dos 4 metros, marca alcançada após os temporais de quinta-feira (23). Com a chuva, a água subiu por bueiros. A prefeitura ainda decidiu fechar comportas com sacos de areia, para evitar que a água do lago voltasse para dentro da cidade.
Também neste sábado, a prefeitura determinou a realização de uma investigação sobre eventuais problemas nas estações de bombeamento, que servem para retirar a água acumulada nas ruas. Relatórios de engenheiros enviados em 2018 e 2023 alertavam para a necessidade de reparos no sistema anticheias.
Vista aérea de Porto Alegre após alagamentos — Foto: Reprodução/TV Globo
No Sul do estado, a Lagoa dos Patos voltou a subir em Pelotas. O município reparou rachaduras em um dique de contenção no Canal São Gonçalo, para evitar alagamentos na área urbana.
Já no Vale do Taquari, moradores de Cruzeiro do Sul seguem apreensivos com o risco de deslizamento de terra em um bairro da cidade. O município tem mais da metade da população de 11,6 mil habitantes fora de casa, seja pela cheia do Rio Taquari, seja pelos impactos no solo.
O Rio Grande do Sul informou mais duas mortes em razão dos temporais e cheias, chegando a 166 vítimas do desastre. Outras quatro pessoas morreram de leptospirose, após contato com água contaminada – há 800 casos suspeitos da doença no estado.
Além disso, são 806 pessoas feridas e 637,4 mil pessoas fora de casa, somando quem está em abrigos e quem está desalojado, ou seja, está na casa de parentes ou amigos.
Congestionamento em 'corredor humanitário' aberto em Porto Alegre — Foto: Reprodução/TV Globo
Congestionamento
A via provisória aberta em um ponto alagado no Centro de Porto Alegre registrou congestionamentos durante este sábado. O chamado "corredor humanitário" permite tanto a chegada quando a saída da região central através da Avenida Castelo Branco, em direção à BR-290, a Freeway.
As filas se estenderam por 7 km. Os motoristas levaram até 1 hora para chegar até a rodovia – trajeto que, em situações normais, não levaria mais de 10 minutos.
Atualmente, a capital têm dois corredores: um pela rua da Conceição (entrada) e outro pelo Largo Vespasiano Veppo, na Rodoviária (saída).
Congestionamento no 'corredor humanitário' em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV
O município iniciou a construção de um terceiro acesso, na Zona Norte. O "corredor humanitário" da Avenida Assis Brasil vai permitir o ingresso na Freeway pelo bairro Sarandi, um dos mais afetados pela cheia. A via de 300 metros deve ser liberada até segunda (27).
O trecho será aberto a partir da Av. Bernardino Silveira Amorim, em direção à rodovia. O acesso à Cachoeirinha, na sequência da Av. Assis Brasil, continua bloqueado.
O uso do caminho é preferencial para veículos de emergência, mas poderá ser utilizado por carros de passeio, afirma a prefeitura.
Obras de construção de novo 'corredor humanitário' em Porto Alegre — Foto: SMSURB/PMPA/Divulgação
Problemas com a água
O Guaíba chegou a 4,09 metros na tarde de sábado. O nível do lago recuou mais de 20 centímetros, após alcançar 4,32 metros na noite de sexta (24). A cota de inundação do Guaíba é de 3 metros, ou seja, a água ainda não recuou e permanece alagando o perímetro urbano de Porto Alegre.
Cientistas do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS afirmam que "os cenários de previsão indicam cheia duradoura, com manutenção dos níveis elevados nos próximos dias".
"O nível do Guaíba deve manter-se elevado na casa dos 4 metros nos próximos dias, devido à persistência do vento sul no final de semana e pelos volumes afluentes dos rios na próxima semana em resultado das chuvas ocorridas e previstas, prolongando a cheia", destaca o IPH.
Uma adutora, tubulação que transporta água potável, rompeu na Zona Norte, interrompendo o fornecimento para 14 bairros da região. O Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) afirma que a obra deve ser concluída ainda neste sábado, e que o abastecimento de água seja retomado até a manhã de domingo (26) nos locais afetados.
No bairro Sarandi, moradores acompanham um novo vazamento no dique que contém as águas do Rio Gravataí e do Arroio Feijó. A água voltou a transbordar pela barreira na sexta-feira. Um conjunto de bombas da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) foi instalado na região para retirar a água acumulada.
No domingo, as bombas devem chegar na região dos bairros Farrapos e Humaitá, também na Zona Norte, onde fica a Arena do Grêmio.
Inundação na Zona Norte de Porto Alegre, perto da Arena do Grêmio — Foto: Reprodução/TV Globo
Investigação
A Prefeitura de Porto Alegre determinou que o DMAE abra uma investigação preliminar sumária (IPS) para apurar eventuais problemas no sistema de bombeamento de água da cidade. A apuração tem caráter de urgência.
O caso foi revelado após a divulgação de documentos de 2018 e de 2023, em que engenheiros da prefeitura alertaram para a necessidade de reparos em ao menos três casas de bombas. Uma reportagem do Grupo de Investigação da RBS mostrou que os problemas apontados nunca foram solucionados (veja abaixo).
Engenheiros alertaram sobre deficiências em casas de bombas em Porto Alegre
Um outro documento, assinado por mais de 40 engenheiros e técnicos de saneamento, afirma que o sistema de proteção contra inundações de Porto Alegre falhou porque não recebeu a manutenção necessária.
Neste sábado, apenas 11 das 23 casas de bombas estavam funcionando. Segundo o DMAE, muitos motores foram levados para lavagem e secagem, retornando no decorrer da próxima semana.
Sistema de proteção falhou porque não recebeu a manutenção necessária, segundo especialistas
Lagoa dos Patos
O nível da Lagoa dos Patos, que havia baixado, voltou a subir no Sul do estado. Em Pelotas, a última medição apontou para 2,12 metros. À meia-noite, o índice era de 1,76 metros. A cota de inundação no município é de 1,40 metro.
Na Praia do Laranjal, a área próxima ao trapiche está alagada. A empresa de saneamento do município abriu canais para empurrar a água das ruas de volta para a lagoa.
Abertura de canais para escoar água na Praia do Laranjal, em Pelotas — Foto: Reprodução/RBS TV
A prefeitura não conseguiu religar a casa de bombas, pois a região ainda está sem energia elétrica. A orientação é para que os moradores em áreas de risco ainda não voltem para casa.
O Canal São Gonçalo, que liga as lagoas dos Patos e Mirim, está em 2,88 metros – 13 centímetros a mais do que no início do dia. Mergulhadores fizeram reparos em rachaduras que surgiram em um dique para evitar alagamentos na região do Quadrado.
Mergulhadores reparam dique no Canal São Gonçalo, em Pelotas — Foto: Reprodução/RBS TV
Vale do Taquari
Cerca de 300 moradores de Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, estão sem saber quando vão poder voltar para casa. Eles vivem no bairro no Morro da Toca dos Corvos, no centro da cidade, e precisaram deixar a região após um aviso de risco de deslizamento emitido na madrugada de sexta. Sirenes de viaturas policiais foram acionadas para alertar a população dos riscos e recomendar a evacuação da área.
"Foi um susto. Meia-noite, por aí, todo mundo precisou sair da casa. Pegar o principal e sair da casa", relata Jonas Loeblein, professor de educação física.
O município é um dos mais afetados pelo desastre dos temporais e cheias. Das 165 vítimas do desastre em todo o Rio Grande do Sul, 12 viviam em Cruzeiro do Sul, segundo o governo do estado.
O coordenador da Defesa Civil, Adeildo Melo, diz que 60 casas apresentaram rachaduras nas imediações. Autoridades afirmam que é necessário esperar o fim da chuva para que geólogos possam avaliar as condições do solo.
Durante o fim de semana, a polícia passou a controlar o acesso de pessoas em parte do centro que foi interditada.
Cruzeiro do Sul tem área sob risco de deslizamento