Moradora de casa alagada pelas enchentes em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, recebe doações — Foto: Amanda Perobelli/Reuters
Os temporais que assolam o Rio Grande do Sul há mais de 10 dias causaram prejuízos em 425 das 497 cidades do estado. No total, 107 pessoas morreram, 136 estão desaparecidas e 232,1 mil foram expulsas de casa. A Defesa Civil estima que foram afetados 1,476 milhão.
Os relatos dessas pessoas são um misto de desamparo e esperança, um verdadeiro impasse. Há aqueles que não sabem o que fazer a partir agora, enquanto há outros que se apoiam, ou buscam onde se apoiar, para seguir em frente a partir daqui.
Confira, ao longo da reportagem, os relatos dessas pessoas.
"A cidade destruída"
Tragédia no Rio Grande do Sul chega a 90 mortos e 131 desaparecidos
A cidade de Eldorado do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, foi praticamente toda inundada pela cheia do Rio Jacuí. A cidade de 38 mil habitantes ficou alagada. Postos de gasolina, casas e lojas estão debaixo d'água. A prefeitura registrou, pelo menos, 600 pedidos de resgate.
O pintor Gilmar Oliveira é uma das pessoas que precisou ser resgatada no município e afirma que, além de auxiliar vários moradores, viu um cenário de destruição.
"Há bastante pessoas em óbito, afogadas. 40 pessoas morreram afogadas, que não conseguiram sair [de casa]. Animais mortos nas estradas, a cidade destruída", disse.
"Terrível, trágico"
Pedro Scooby participa de resgates no RS — Foto: Reprodução/TV Globo
O surfista Pedro Scooby lidera uma equipe de resgates em Porto Alegre. Na terça-feira (7), ele sobrevoou a área de Eldorado do Sul junto com o Corpo de Bombeiros para visualizar áreas que poderiam não estar sendo atendidas.
"Terrível, trágico. Eu acabei de fazer agora uma visita lá com o Corpo de Bombeiros de helicóptero para ver alguns pontos que, de repente, a gente não estava vendo de 'jet ski'. Cara, tragédia", afirmou.
"O que mais falta é a comunicação"
Mulher relata período em abrigo no RS — Foto: Reprodução/TV Globo
No interior do estado, o nível do Rio Taquari voltou a descer e ficou abaixo da cota de inundação, que é de 19 metros, após ter passado dos 30 metros. Um grande trabalho de limpeza e reconstrução iniciou na região. Ainda assim, os resgates continuam. Cerca de 1,2 mil pessoas estão em abrigos no município de Lajeado. É o caso de Itamara Bruna Galvão, que tem três filhos e está em um ginásio.
"Hoje o que mais faz falta no abrigo é a falta de comunicação para saber onde nós vamos, entende? Todo mundo, que não é do abrigo, pergunta 'e agora?' A gente não sabe.", disse, emocionada.
"Aliviar esse trauma"
No mesmo local, a voluntária Micheline Rempel presta apoio realizando atividades com as crianças.
Voluntária realiza atividades com crianças em abrigo no RS — Foto: Reprodução/TV Globo
"Estamos em torno de 20 pessoas, atendendo as crianças, brincando, fazendo desenhos e atividades com elas, para entreter nesse momento tão complicado. Para os pais poderem se organizar, limpar suas casa e pensar na retomada, e as crianças para aliviar esse trauma que elas vêm com bastante dificuldades", afirmou.
"A prioridade agora é a reconstrução das estradas"
Coordenador da Defesa Civil detalha o cenário em Lajeado — Foto: Reprodução/TV Globo
Após as inundações, os focos estão em retomar uma volta mais próxima à normalidade. O Parque do Imigrante é o maior abrigo da cidade, com mais de 600 pessoas. Além disso, se tornou um centro de operações do Exército – tanto para resgates quanto para levar água, comida e mantimentos aos afetados. O coordenador da Defesa Civil detalha o cenário:
"As operações de busca e salvamento praticamente encerraram. A prioridade agora é a reconstrução das estradas para que os insumos cheguem a quem precisa. Nós temos cenários de cidade ilhadas ainda. A prioridade, então, é que esses acessos cheguem até eles para priorizar as pessoa, a comida e alimentação", disse.
"A gente tenta levar a vida da forma mais normal possível"
Moradora de Lajeado afirma que tentar retornar à normalidade — Foto: Reprodução/TV Globo
O abastecimento de água não foi retomado, assim como as aulas da rede municipal e estadual também não. Apesar dos transtornos, a auxiliar de supermercado Helena Barcelos Pereira tenta voltar à rotina no abrigo.
"A gente tenta levar a vida da forma mais normal possível, mas é bem difícil. É bem complicado, a cidade está com bastante caos", disse Helena Barcelos Pereira.