Por Juliana Lisboa, g1 RS


Crânio de Prozostrodon brasiliensis encontrado no RS — Foto: Leonardo Kerber/Divulgação

Um novo fóssil de cinodonte, que viveu há cerca de 233 milhões de anos, durante o Período Triássico, foi encontrado em São João do Polêsine, na região central do RS. Pesquisadores apontam ser o mais completo espécime de Prozostrodon brasiliensis. O animal pertence ao grupo dos cinodontes derivados, linhagem que inclui ancestrais dos mamíferos atuais.

A boa preservação do material, apresentando a região posterior do crânio preservada, até então desconhecida, permite maior compreensão das transformações anatômicas cranianas ocorridas nesses animais, antes do desenvolvimento das características mamalianas.

"Além de poder conhecer melhor a espécie (Prozostrodon brasiliensis), a gente consegue ter uma maior compreensão a respeito das principais transformações anatômicas cranianas que ocorreram no grupo dos cinodontes, antes do estabelecimento das principais características presentes nos mamíferos atuais", explica a pesquisadora Micheli Stefanello.

Novo fóssil de ancestrais dos mamíferos é encontrado no RS

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A pesquisa faz parte da tese de doutorado de Stefanello, com orientação do paleontólogo Leonardo Kerber, e contribuição técnica de pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da UFSM e do Museu Argentino de Ciencias Naturales Bernardino Rivadavia.

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Este é o quarto espécime de Prozostrodon brasiliensis conhecido. O primeiro material fóssil da espécie foi coletado na década de 1980, em Santa Maria. Originalmente, foi nomeado de Thrinaxodon brasiliensis, mas novo estudo reavaliou o fóssil em gênero diferente, passando a ser chamado de Prozostrodon brasiliensis. O segundo registro foi descrito em 2017, encontrado em São João do Polêsine, e o terceiro, registrado em 2020, encontrado no mesmo sítio do primeiro, em Santa Maria.

Características da descoberta

O novo registro foi encontrado em São João do Polêsine, no território do Geoparque Quarta Colônia Aspirante UNESCO, durante a preparação de um grande bloco rochoso, com aproximadamente 1 tonelada, contendo o esqueleto quase completo do dinossauro predador Gnathovorax cabreirai e espécimes de rincossauros, um réptil herbívoro. Inicialmente, era conhecida apenas a presença de materiais fósseis desses répteis dentro do bloco rochoso.

O crânio foi o mais completo encontrado — Foto: Leonardo Kerber/Divulgação

Entretanto, no decorrer dos trabalhos, em meados de 2016, foi encontrado o segundo espécime de Prozostrodon brasiliensis, representado por uma mandíbula direita com dentes. Mais tarde, em 2017, foi encontrado o quarto fóssil conhecido, um dos mais completo e, segundo os pesquisadores, provavelmente o melhor preservado, representado pelo crânio e mandíbulas.

"Com base nesses quatro materiais fósseis conhecidos para a espécie Prozostrodon brasiliensis, podemos estimar o tamanho corporal do animal, provavelmente tinha uma média corporal pequena, pesando pouco mais de 1 quilo e com aproximadamente 40 centímetros de comprimento (do focinho até a ponta da calda) quando adulto", explica a pesquisadora.

Devido à sua dentição, é provável que tivesse uma dieta alimentar predominantemente carnívora/insetívora, alimentando-se de insetos e de animais menores. Possivelmente, tinha hábitos noturnos, sendo presa de predadores maiores, como dinossauros, encontrados ao lado no bloco rochoso.

Stefanello destaca ainda que com base nos três animais encontrados no mesmo bloco rochoso, um dinossauro grande, de topo de cadeia, rincossauros herbívoros e cinodontes carnívoros/insetívoros, é possível "ter uma noção de como era esse ecossistema há 233 milhões de anos".

Animal pesava pouco mais de um quilo e tinha cerca de 40 centímetros — Foto: Leonardo Kerber/ Divulgação

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