Por Redação, g1 RS


A expedição aconteceu entre dezembro e janeiro — Foto: Centro Polar e Climático/UFRGS/Divulgação

Uma expedição que durou 36 dias no interior da Antártica e contou com pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) chegou ao fim em janeiro. O grupo, liderado pelo professor da UFRGS e pesquisador do Programa Antártico Brasileiro Jefferson Cardia Simões, tinha objetivo de coletar amostras, montar laboratório e fazer manutenção de instalações.

"Todos os estudos são realizados para nós entendermos o papel da Antártica no sistema do clima, principalmente do Atlântico Sul e da América do Sul", explica o pesquisador.

A expedição foi a mais de 2 mil quilômetros ao sul da Estação Antártica Comandante Ferraz, em um deserto polar. No interior do manto de gelo da Antártica, "a temperatura, mesmo no verão, cai abaixo de 25 graus" e a sensação térmica "chega a -40 graus." Esse foi o cenário enfrentado pelos pesquisadores que ficaram acampados de 4 de dezembro a 9 de janeiro.

"A Antártica é o lugar do mundo que preserva os melhores registros das mudanças do clima do passado e também da química da atmosfera."

Professor da UFRGS fala sobre expedição Programa Antártico Brasileiro

Professor da UFRGS fala sobre expedição Programa Antártico Brasileiro

O primeiro objetivo citado por Simões foi coletar amostras de neve e gelo do passado. Ele explica que o grande manto de gelo pode chegar a até 5 quilômetros de espessura com a neve que caiu ao longo do tempo.

"Nós vamos lá, coletamos amostras que caíram há 100, 200 anos atrás e fazemos uma bateria de dados ambientais, na verdade, de análises químicas, que nos contam como é que foi o clima, por exemplo, na época do descobrimento do Brasil, na época do nascimento de Cristo, ou há 10 mil, 20 mil anos atrás. Com isso, eu posso reconstruir a história do clima do planeta e fazer cenários para o futuro, tentar responder como se passa essas variações e quais são cenários."

Mapa mostra a localização da região das pesquisas da expedição — Foto: Centro Polar e Climático/UFRGS/Divulgação.

A instalação do módulo Criosfera 2, laboratório automatizado para coleta de dados ambientais, foi o segundo e principal objetivo da missão, aponta o professor. Ele está localizado em uma calota de gelo - Skytrain Ice Rise (de 600 m de espessura de gelo), ao sul do mar de Weddell.

Segundo Simões, o módulo é "automatizado e sustentável, porque usa só energia solar e eólica para funcionar 365 dias no ano, 24 horas por dia, coletando dados, tanto dados da meteorologia local, mas também da composição química da atmosfera."

O Criosfera 2 é ligado a uma rede de dados ambientais entre a Amazônia e a Antártica, importante para investigar as origens e a intensificação de eventos extremos como tempestades severas, estiagens, ondas de calor e frio, no atual cenário de mudanças climáticas.

Conforme o professor, o módulo foi construído com tecnologia nacional, já está coletando dados e armazenando em computador. A partir do ano que vem, as informações poderão serão acessadas de forma online, a cada dez minutos. Sobre o resultado da análise das amostras coletadas, a previsão é dois anos.

O terceiro objetivo da expedição foi fazer a manutenção do módulo Criosfera 1, situado pouco mais ao Sul, a 640 quilômetros do Polo Sul geográfico, "para manter a coleta de dados", explica o professor. O Criosfera I foi instalado há 10 anos, segundo Simões.

O módulo Criosfera 2 foi instalado durante a missão — Foto: Centro Polar e Climático/UFRGS/Divulgação

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) informou que investiu R$ 3,5 milhões na operação, que contou 12 pesquisadores. Eles se dividiram em três acampamentos instalados sobre o manto de gelo: na geleira da Ilha de Pine, onde foram coletadas amostras de neve e gelo, próximo das montanhas Ellsworth, e junto ao módulo Criosfera 1.

O grupo era formado ainda por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O projeto também faz parte do Programa Antártico Brasileiro, que é coordenado pela Secretaria Interministerial para os Recursos do Mar. Além do MCTI, a expedição teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul.

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