Trabalho da UFRGS, IFRS e Secretaria de Saúde traz dados inéditos sobre o atendimento a vítimas de violência — Foto: Reprodução/RBS TV
Dados de uma pesquisa realizada com os registros de atendimento médico de vítimas de violência evidenciam os índices de agressão a negros, indígenas, mulheres e moradores de rua. Entre 2014 a 2017, o Rio Grande do Sul registrou 76.478 atendimentos de saúde em consequência de violência, de acordo com dados compilados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Desde total, 19.962 registros são casos de vítimas pertencentes a grupos sociais vulneráveis. Veja os dados abaixo:
- 12.749 casos eram de vítimas autodeclaradas negras
- 4.355 das notificações eram de vítimas mulheres
- 399 casos eram de vítimas identificadas como indígenas
- 983 casos as vítimas eram homossexuais e bissexuais
- 577 casos, vítimas travestis, mulheres ou homens trans
- 899 notificações referentes à violência como população em situação de rua
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e da Secretaria Estadual de Saúde levantaram os dados de atendimentos a públicos vulneráveis.
Os registros são do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que integra o SUS, a partir dos dados informados em estabelecimentos de saúde públicos e privados do estado.
Para um dos coordenadores da pesquisa, o professor Maurício Polidoro, do Campus Restinga do IFRS, os números são alarmantes, principalmente ao considerar que o Sinan registra apenas as violências que implicaram em demanda de atendimento do profissional da saúde (ou seja, apenas uma parcela dos casos são registrados).
“As imagens que temos presenciado indicam que sofremos uma epidemia de violência contra as mulheres”, analisa.
Os dados levantados na pesquisa devem ser publicados em um atlas, além de basear capacitações de profissionais da saúde, educação e assistência social.
“Outra ação prevista é a aplicação de um projeto piloto no Campus Restinga do IFRS em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. Apesar de a violência ser relevante no bairro, as notificações que verificamos são ínfimas”, aponta Polidoro.
Dados inéditos
O Sinam é um dos índices da saúde pública, que monitora doenças transmissíveis e, desde 2014, passou a agregar também informações sobre casos de violência.
De acordo com o professor de saúde pública da UFRGS, Daniel Canavese, esses dados têm impacto na área da saúde. "É a primeira vez que, no RS, a gente toma contato com esse banco de dados", diz.
O Sinam é alimentado com dados preenchidos na ficha de notificação de cada paciente. Ela é padronizada nacionalmente. Todos os estabelecimentos de saúde, seja na rede privada ou pública, entram no levantamento.
"Esse estudo tem recorte para minorias que demandam políticas específicas, para tratar da violência que sofre a população negra, indígena, em situação de rua. [essas pessoas] Estão sofrendo uma série de vulnerabilidades, privações materiais que o grupo já sofre. A gente tá fazendo o olhar de saúde para a violência", destaca Daniel Canavese.
117 mulheres mortas
Outro dado que mostra a violência contra uma população minoritária no país é o levantamento anual da Secretaria de Segurança Pública (SSP), divulgado no último dia 9. O índice de feminicídios chegou a 117 em 2018, conforme o levantamento.
O número é 40,9% maior do que o registrado no ano anterior, quando foram registrados 83 ocorrências deste tipo.