Por G1 RS


Mantenedora da universidade alega crise no setor para realizar reajuste no quadro docente, mas não informa número de demissões — Foto: Divulgação/Ulbra

Cerca de 200 professores foram demitidos pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) nos campi do Rio Grande do Sul, de acordo com estimativa do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS). O número exato não foi divulgado pela universidade.

O G1 questionou a Ulbra sobre os deligamentos. Por nota, a Associação Educacional Luterana do Brasil, mantenedora da universidade, afirmou que "realizou nesta quinta-feira (10) um ajuste em seu quadro de professores". Disse ainda que "a medida tem o objetivo de reduzir os impactos causados pela crise que atinge o setor de Ensino Superior nos últimos anos" (confira a nota completa abaixo).

De acordo com a universidade, a rotina acadêmica permanecerá inalterada, e os alunos não serão afetados. No entanto, a presidente do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Ulbra, Vivian Sales, que representa 37 mil estudantes, afirma que os universitários estão "perdidos" e sem informação sobre os impactos gerados por essas demissões.

"Fizemos um ofício junto com mais de 25 centros acadêmicos solicitando informações sobre o que está acontecendo", disse.

Em ofício, Diretório de Estudantes da universidade pede esclarecimentos à reitoria — Foto: Reprodução/Diretório Central dos Estudantes da Ulbra

Segundo ela, tanto funcionários da área administrativa, quanto professores estão sendo desligados. O curso de graduação em administração de Porto Alegre teria tido todos os professores demitidos, conforme Vivian, que é estudante do curso. A Ulbra não passou detalhes sobre os desligamentos.

"Não sabemos se eles vão nos transferir para outro lugar", comentou a estudante, preocupada com o início do semestre.

Na próxima segunda feira (14), a direção do Sinpro/RS terá reunião com a mantenedora da instituição para esclarecimentos e discussão sobre as demissões e a garantia do pagamento das verbas rescisórias e do FGTS.

De acordo com o sindicato, além dos atrasos salariais, a instituição não tem recolhido regularmente o Fundo de Garantia de seus empregados.

Trabalham na Ulbra 1.332 professores na educação superior e 287 professores na educação básica, conforme o sindicato.

"Não apresentaram justificativa"

Na manhã desta quinta-feira (10), o professor Marcos Machado recebeu a notícia de que seria demitido, depois de 26 anos como professor da Ulbra. Há 13, ele ocupava o cargo de coordenador do curso de Ciências Biológicas do campus Canoas.

"Não apresentaram justificativa. Me chamaram e informaram que eu estava sendo desligado", relata o professor, que é especialista em paleontologia.

Junto com ele, outros quatro professores da graduação foram demitidos, relata. No ano passado, já haviam ocorrido outras duas demissões. "O curso tinha 18 professores, agora tá com, no máximo, 11", estima.

O professor observa que foram dispensados professores que eram os únicos especialistas em suas áreas dentro do curso. Ele acredita que, com isso, o ensino será prejudicado.

"Tem determinadas áreas, como zoologia, paleontologia, botânica, que são específicas. Não tem outros professores com formação necessária ao conteúdo. Não é uma questão de remanejar", comenta ele.

"Efetivamente, o tratamento dos professores [pela universidade] é autoritário. Não são ouvidos, as decisões são à revelia do cuidado com a qualidade dos professores e dos alunos", observa Marcos.

Nota da Ulbra

COMUNICADO À IMPRENSA

A AELBRA (Associação Educacional Luterana do Brasil), mantenedora da Ulbra, comunica que realizou nesta quinta-feira (10) um ajuste em seu quadro de professores. A medida tem o objetivo de reduzir os impactos causados pela crise que atinge o setor de Ensino Superior nos últimos anos.

A Instituição afirma que a rotina acadêmica segue normalmente e reforça o compromisso com a qualidade de ensino aos seus mais de 35 mil alunos no Rio Grande do Sul.

Crise na universidade

Extrato de funcionário, de 2013, mostra sequência de depósitos que explicita a crise financeira da Ulbra na época — Foto: Cátia Moraes / Divulgação

Em janeiro de 2018, o ex-reitor da Ulbra Ruben Eugen Becker, de 81 anos, foi condenado pelo crime de lavagem de dinheiro. A filha dele também foi condenada no mesmo processo.

Ruben Becker foi indiciado em 2010 no inquérito da Operação Kollektor, da Polícia Federal, que investigou o desvio de recursos da Ulbra, deflagrada em dezembro do ano anterior. Por decisão da Comunidade Luterana Evangélica (Celsp), Becker foi afastado do comando da instituição.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o grupo, liderado por Becker, teria usado diversos artifícios para ocultar ou tentar regularizar a origem de valores desviados da Ulbra, como movimentações financeiras por meio de uma conta bancária em nome de uma neta do ex-reitor, compra e venda de uma fazenda e aquisição de dois veículos de luxo e um motor home.

A investigação desencadeou uma crise na universidade. Em 2013, a Ulbra chegou a parcelar o pagamento do salário dos funcionários, provocando uma paralisação de 24h. Parcelas de R$ 40 chegaram a ser depositadas. A crise também gerou o fechamento de hospitais que eram mantidos pela instituição e elevou a dificuldade do Sistema Único de Saúde em absorver a demanda de pacientes na Região Metropolitana.

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