15/10/2016 14h30 - Atualizado em 15/10/2016 14h30

Baixa procura faz universidades do RS cortarem vagas de licenciatura

Salário baixo e desvalorização contribuem para desistência de professores.
Inscritos em licenciaturas na UFRGS diminuíram pela metade em 10 anos.

Neste sábado (15) é comemorado o Dia do Professor em todo o Brasil. No entanto, não são muitos os motivos para celebrar. Com salários aquém do trabalho e consequente desvalorização profissional, atuais ou futuros professores estão desistindo da carreira.

Refletindo este momento, o número de inscritos em cursos de licenciatura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) caiu quase pela metade nos últimos 10 anos. Em 2006 foram 2807 alunos inscritos, enquanto em 2016 foram 1614. Uma queda de 43%.

Com isso, a UFRGS também acabou reduzindo o número de vagas oferecidas. As 495 vagas ofertadas em 2006 caíram para 410 em 2016, reduzindo em quase vinte por cento.

Antes mesmo de entrarem nas faculdades, alunas de magistério em Erechim, Região Norte do estado, sabem das dificuldades que encontrarão nas salas de aula. Ana Paula Folador, de 16 anos, se prepara para os desafios, mas crê em mudança.

O professor é muito desvalorizado e desrespeitado. Então é por isso que, não só eu, mas todas nós alunas estamos aqui: pra tentar mudar esse contexto atual"
Ana Paula Folador, estudante

“O professor é muito desvalorizado e desrespeitado. Então é por isso que, não só eu, mas todas nós alunas estamos aqui: pra tentar mudar esse contexto atual”, encoraja-se.

Também aluna, Jéssica Fabian, 17 anos, concorda com a colega, mas ainda vê beleza na ocupação.

“É uma profissão que eu admiro muito e eu considero que ela seja uma das mais gratificantes que existem porque ver o sorriso das crianças, o abraço que eles te dão, é uma coisa que não tem preço”, alegra-se.

Mesmo com a boa vontade, muitos alunos abandonam o curso e apostam em outras profissões. Deise Meneguello, coordenadora de magistério da Escola José Bonifácio, é testemunha da desilusão de alguns estudantes. “Eles dizem: professora, nós provavelmente não vamos seguir. A exigência é muito grande, eles têm normas e regras a serem seguidas pra sua formação”, relata.

A falta de um plano de carreira, salários baixos e pouca valorização tornam a decisão de ser professor uma escolha cada vez mais rara. Na escola de Deise, a procura pelo magistério caiu mais de 30% nos últimos oito anos e esse desinteresse tem sido cada vez maior. Segundo o Ministério da Educação, apenas 2% dos alunos do ensino médio querem seguir na Pedagogia.

A situação se reflete na sala de aula das universidades. No campus da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), em Erechim, dos oito cursos de licenciatura já ofertados, apenas três continuam. Cinco foram extintos: Letras, Matemática, Geografia, História e Filosofia.

Elizabete (Foto: Reprodução RBS TV)Elizabete Zanin, diretora da URI Erechim, lamenta
cursos esvaziados (Foto: Reprodução RBS TV)

Para Elisabete Maria Zanin, diretora acadêmica da URI, a baixa procura é resultado da desvalorização da imagem social do professor. Nem mesmo a oferta de programas como o Prouni e o FIES atraem os estudantes. “Mesmo com esses e outros financiamentos que a instituição propõe não foi possível manter alguns cursos por falta de pessoas que realmente estivessem interessadas na profissão”, lamenta.

A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), também em Erechim, segue incentivando a formação de novos professores. Seis dos nove cursos da universidade são de licenciatura. Mas, na maioria das vezes, as vagas ofertadas não são preenchidas. Anderson Ribeiro, diretor da UFFS, critica as recentes mudanças do governo federal na educação.

“A medida provisória que altera a estrutura do ensino médio, de certa forma, desvaloriza a formação em licenciatura. A própria medida coloca que você não precisa ter graduação e só o notório mesmo. Então, como a pessoa vai pensar que precisa se graduar e buscar qualificação pra atuar como docente?”, questiona Ribeiro.

Que tenham ânimo, vontade e amor à profissão, porque é isso que conta"
Claudete Mânica, professora

Mesmo com esse cenário, a professora Claudete Mânica, com 30 anos de sala de aula, enfrenta as dificuldades com amor. “Se eu tivesse que voltar no tempo, voltaria e seria professora”, orgulha-se.

Ela também deixa um recado para quem comemora hoje o seu dia. “Um feliz Dia do Professor pra todos os professores. Que tenham ânimo, vontade e amor à profissão, porque é isso que conta”, conclui.

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