A 25 dias do primeiro jogo da Copa em Porto Alegre, a chegada do Mundial divide opiniões entre comerciantes vizinhos ao Estádio Beira-Rio. Para alguns, o clima é de animação com a perspectiva de aumento nas vendas. Para outros, porém, a realidade é bem diferente: o torneio da Fifa é sinônimo de prejuízos e dores de cabeça.
(Desde a quinta-feira (15), o G1 RS faz uma contagem regressiva da preparação de Porto Alegre para receber os cinco jogos da Copa do Mundo. De estruturas temporárias, passando pelas obras do entorno, as condições do Beira-Rio, o trânsito, a preparação nas áreas de turismo, serviço e infraestrutura serão tema de reportagens, com acompanhamento diário. Se você tiver alguma sugestão de assunto, envie por meio do VC no G1).
Os motivos para o pessimismo generalizado dos lojistas da região são variados. Começam com os transtornos causados pela demora para a conclusão das obras de mobilidade urbana, passam pela restrição ao fluxo de veículos em dias de jogos anunciada pela prefeitura e vão até supostas regras de publicidade impostas pela Fifa.
Proprietária de um salão de beleza na Avenida Padre Cacique há 33 anos, Jussara Ribeiro é um exemplo de quem não está feliz com a Copa. Ela calcula que, desde novembro do ano passado, o movimento teve queda de 60%. Isso porque a região foi transformada em um grande canteiro de obras. A avenida onde fica o estabelecimento recebe obras de alargamento e de um corredor de ônibus, ainda não concluídas.
Das seis funcionárias que trabalhavam no salão, três pediram demissão por conta da falta de clientes. Na tentativa de virar o jogo, Jussara contratou uma maquiadora que fala inglês. A empreendedora, porém, ainda tem dúvidas se a situação vai mesmo melhorar com a chegada dos turistas.
“Para mim, está péssimo. Com o cadastro dos carros, muitas das minhas clientes não poderão acessar a área. Só fica o pessoal da região. Eu contratei uma profissional que sabe falar inglês e que pode fazer maquiagens temáticas da Copa. Mas eu não tenho nem como colocar um manequim para fazer propaganda na calçada, porque é proibido. Então não sei se vai adiantar”, lamenta.
A opinião é compartilhada pelos trabalhadores do ramo de veículos. Sandro Costa é gerente de uma concessionária localizada em frente ao Beira-Rio e diz que também contabiliza as perdas com as obras nas vias e a realização da Copa. Ele calcula que a redução nas vendas foi de 40% do final de 2013 até agora.
“Para quem vive da venda de veículos, a situação é inviável. Teve uma época em que até a entrada da loja sofreu alteração. Você iria comprar um carro em um local que estivesse assim?”, questiona Sandro, apontando para as obras em frente à revenda.
com tapume, diz dono (Foto: Paula Menezes/G1)
Polêmica com propagandas
Segundo o gerente da revenda , há cerca de um mês o estabelecimento recebeu uma notificação da prefeitura para a retirada do letreiro da loja onde constava a marca do fabricante de veículos. A concessionária já acionou a Justiça para manter a fachada, mas ainda não há definição sobre o que deverá ser feito.
Na mesma região, uma borracharia e loja de pneus enfrenta situação parecida. O empresário Igor Peres Dummer, 34 anos, reclama que teve de tapar a fachada do local por determinação da prefeitura. O objetivo seria esconder propaganda não autorizada nos arredores do estádio. Ele pretende retirar o tapume preto quando a Copa terminar.
O Executivo municipal, no entanto, nega que a determinação tenha relação com a Copa. Segundo o assessor técnico da Procuradoria-Geral do Município (PGM), Cauê Vieira, as solicitações para esses casos foram feitas por conta da própria legislação de Porto Alegre.
“Nós temos normas quanto à poluição visual e uma série de regras sobre o tamanho da fachada. O comércio continua funcionando normalmente durante o torneio. O que não pode, por exemplo, é o marketing de emboscada. A concessionária não pode colocar um banner e prometer um ingresso da Copa para quem comprar o veículo lá se ela não é patrocinadora do evento”, explica.
Bares e restaurantes comemoram
Ao contrário dos outros estabelecimentos, os donos de bares, restaurantes e lancherias próximos ao Beira-Rio estão otimistas com a realização da Copa em Porto Alegre. Os comerciantes esperam que a presença de turistas ajude a incrementar a renda. Cogitam, inclusive, aumentar os preços para lucrar mais.
De olho no evento, Irineu Severo dos Santos, 52 anos, alugou um novo espaço para receber os clientes. Desde 1994, ele atendia em um imóvel onde cabiam pouco mais de 40 pessoas, na Avenida Padre Cacique. Em fevereiro de 2013, inaugurou o novo restaurante, com capacidade para cerca de 100 pessoas.
O empreendimento de Irineu também se prepara de outras formas para a Copa. Ele quer qualificar os serviços com a contratação de uma nutricionista e de um intérprete. O horário de atendimento, normalmente das 7h às 21h, deve ser ampliado. O comerciante pretende abrir as portas uma hora mais cedo e fechar só após a meia-noite.
“Eu vi uma boa oportunidade com a Copa. Consegui locar o espaço maior e a resposta tem sido muito positiva até agora. O jogo que eu mais espero movimento é o da Argentina (contra a Nigéria, em 25 de junho). Acho que vai ‘bombar’. Eu até quero contratar uma nutricionista para me dar dicas de cardápio. E um intérprete que fale inglês, que possa auxiliar no atendimento na fila, por exemplo”, conta.
A animação Irineu é compartilhada por outros estabelecimentos do ramo de alimentação da região. Afinal de contas, quem frequenta estádios de futebol sabe que, quando a fome aperta, qualquer lanche rápido ou petisco ganhe ares de iguaria. Mas é bom preparar o bolso: comer ou beber perto do Beira-Rio vai ficar mais caro.
“Com certeza esperamos que vamos ter maior movimento. Os argentinos moram aqui pertinho, vão vir vários deles. Acredito que, para o período, a gente vá subir o preço da cerveja. Tem que subir, né”, conclui Valdori Maciel, sócio-proprietário de uma lancheria em frente ao estádio.