Planta símbolo de felicidade, o girassol será usado para representar solidariedade aos familiares das vítimas do incêndio na boate Kiss nesta segunda-feira (27), em Santa Maria. No dia que a tragédia completa quatro meses, 242 flores serão distribuídas na cidade em memória de cada uma das pessoas que morreram em decorrência do incêndio do dia 27 de janeiro.
“O girassol gira para o Sol quando vê o Sol. Quando não vê, um gira para o lado do outro. Isso mostra solidariedade”, explica o presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Adherbal Alves Ferreira.
Como nos meses anteriores, o dia 27 será de várias homenagens às vítimas da tragédia. Elas começam às 9h, com a Caminhada dos Girassóis, que parte da Avenida Roraima em direção ao campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde estudavam grande parte das vítimas. A AVTSM participará do evento a convite do Projeto Girassol, idealizado por entidades locais após o incêndio.
Às 9h20, será realizada uma apresentação musical com o músico Beto Pires e o grupo de percussão Cuíca, que cedeu sua sede para a organização do evento. Será executada a música “Santa Maria”, considerada um hino informal da cidade gaúcha. Depois da apresentação, serão distribuídos os girassóis. A entidade pede a quem for participar da atividade que use roupas brancas e leve cartazes com frases de apoio e balões brancos.
As homenagens prosseguem às 13h30 com o “barulhaço” organizado pela AVTSM. Em todos os dias 27 depois da tragédia, familiares e amigos de vítimas se reúnem e batem palmas na Praça Saldanha Marinho, próxima ao prédio onde funcionava a Kiss, no centro da cidade. Os carros que passam pelas proximidades buzinam, e as igrejas badalam os sinos.
Essa será a primeira vez que o “barulhaço” será realizado à tarde e não no início do dia. “De manhã é muito frio agora no inverno. Vamos fazer às 13h30, aí pegamos o Centro cheio”, justifica Adherbal.
Um ato ecumênico em memória das vítimas será realizado às 16h30 na capela do Centro Universitário Franciscano (Unifra). A celebração contará com religiosos de diferentes crenças. “Aceitamos todas as manifestações religiosas e não priorizamos nenhuma”, diz o presidente da AVTSM. As homenagens terminam às 19h, com uma missa na Basílica da Medianeira.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, resultou em 242 mortes. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco.
O inquérito policial indiciou 16 pessoas criminalmente e responsabilizou outras 12. Já o MP denunciou oito pessoas, sendo quatro por homicídio, duas por fraude processual e duas por falso testemunho. A Justiça aceitou a denúncia. Com isso, os envolvidos no caso viram réus e serão julgados. Dois proprietários da casa noturna e dois integrantes da banda permanecem presos desde os dias seguinte à tragédia.
Veja as conclusões da investigação
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso no palco
- As faíscas atingiram a espuma do teto e deram início ao fogo
- O extintor de incêndio do lado do palco não funcionou
- A Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás
- Havia superlotação no dia da tragédia, com no mínimo 864 pessoas
- A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular
- As grades de contenção (guarda-corpos) obstruíram a saída de vítimas
- A casa noturna tinha apenas uma porta de entrada e saída
- Não havia rotas adequadas e sinalizadas de saída em casos de emergência
- As portas tinham menos unidades de passagem do que o necessário
- Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas