29/01/2013 19h30 - Atualizado em 29/01/2013 19h51

Empresa entrega gravador e diz que não foram feitas imagens do incêndio

Equipamento que registra imagens estaria em manutenção há 1 semana.
Delegado disse que perícia vai comprovar se dados não foram apagados.

Tahiane StocheroDo G1, em Santa Maria

Uma empresa que presta serviços de manutenção para câmeras de segurança entregou à polícia, na tarde desta terça-feira (29), um gravador que seria usado para registrar imagens na boate Kiss, que pegou fogo na madrugada de domingo (27), provocando a morte de mais de 230 pessoas. A firma informou que recebeu o equipamento há uma semana para ser consertado e que, nesse período, ele não esteve em funcionamento.

De acordo com o delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, a informação reforça a tese de que não há imagens do interior da casa noturna no dia do incêndio. Ele ponderou, no entanto, que uma perícia foi solicitada para comprovar que o equipamento não fez registros nos últimos dias e que imagens não foram apagadas.

Também na tarde desta terça, outras informações importantes sobre o caso foram divulgadas:
1- Segundo a polícia, a banda Gurizada Fandangueira utilizou um sinalizador mais barato, impróprio para ambientes fechados;
2- há diversos indicativos de que a boate não deveria estar funcionando;
3- a Prefeitura de Santa Maria se eximiu de responsabilidade pelo incêndio; e
4- o chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, major Gerson Pereira, recebeu uma ligação do governo do Estado e disse que foi "orientado a não falar com a imprensa".

'Sumiço' de câmeras gerou prisões
O suposto sumiço dos equipamentos de segurança motivou o pedido de prisão dos sócios da casa noturna, segundo o Ministério Público do Rio Grande do Sul, que deu parecer favorável às prisões temporárias do dono da boate, Elissandro Calegaro Spohr, e de um sócio, Mauro Hoffmann.

"A prisão foi decretada para que a investigação criminal não sofresse nenhum revés, nada conturbasse [a apuração]. Principalmente, em razão da notícia de que aparelhos de filmagem do circuito interno sumiram do local", afirmou na segunda-feira ao G1 a promotora Waleska Agostini, que acompanha o caso desde o início.

No dia da tragédia, a polícia informou que não foram localizados na boate os gravadores que armazenam as imagens. Na ocasião, o delegado Sandro Meinerz disse que "parecia que os fios tinham sido arrancados", mas não soube dizer se isso havia sido feito recentemente ou não e que peritos ainda iriam analisar o caso.

Na noite de domingo, policiais cumpriram mandados de busca e apreensão na casa dos sócios da boate, mas não localizaram qualquer material relacionado com os equipamentos de registro de imagens.

Em depoimento prestado à Polícia Civil na segunda, Elissandro Calegaro Spohr negou ter retirado do local o computador que armazenava as imagens gravadas pelas câmeras de segurança da boate. Ele disse que o sistema não estava funcionando há três meses e que, por isso, o computador não estava mais na boate.

Segundo o delegado Marcelo Arigony, se a perícia comprovar que o equipamento não estava operante, pode ser descartada a hipótese de que o dono do estabelecimento tenha mentido em seu depoimento.

Polícia apura origem do incêndio
As causas do incêndio, que provocou a morte de mais de 230 pessoas no domingo (27), em Santa Maria (RS), são investigadas pela polícia. Testemunhas relataram que o fogo começou depois que o vocalista da banda Gurizada Fandangueira acendeu uma espécie de sinalizador, e faíscas atingiram o teto da casa noturna. Delegados aguardam o resultado da perícia para verificar o que ocorreu e onde as chamas começaram.

O vocalista do grupo, Marcelo Santos, admitiu em seu depoimento à Polícia Civil que segurou um sinalizador aceso durante o show na boate Kiss, de acordo com o promotor criminal Joel Oliveira Dutra, que acompanha o caso. O músico disse, no entanto, que não acredita que as faíscas do artefato tenham provocado o incêndio e afirmou que já havia manipulado esse tipo de sinalizador por diversas vezes em outras apresentações.

"Ele confirmou que usou e que era algo frequente nas apresentações dele, mas ele acredita que isso não tenha provocado o fogo", afirmou ao G1 Oliveira Dutra.

Sinalizador proibido
O delegado Marcelo Arigony afirmou, em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira, que a banda Gurizada Fandangueira utilizou um sinalizador mais barato, próprio para ambientes abertos e que não deveria ser usado em local fechado, durante o show na boate Kiss.

"Eles compraram um sinalizador de pirotecnia mais barato, que sabiam que era exclusivamente para ambientes abertos, porque falaram que era mais barato. O sinalizador para ambiente aberto custava R$ 2,50 a unidade e, para ambiente fechado, R$ 70. Eles sabiam disso, usaram este modelo para economizar. Usaram o equipamento para ambiente aberto porque era mais barato", disse o delegado.

Delegado vê 'soma de fatores'
O delegado Marcos Vianna, responsável pelo inquérito, disse ao G1 que uma soma de quatro fatores contribuiu para a tragédia: 1) o fato de a boate ter apenas uma saída e a porta ser de tamanho reduzido; 2) o uso de um artefato sinalizador em um local fechado; 3) o excesso de pessoas no local e 4) a espuma usada no revestimento do teto, que pode não ter sido a mais indicada e ter influenciado na formação de gás tóxico, contribuindo para as mortes.

ARTE ESTATICA (resumo do caso) 620 (Foto: Editoria de Arte / G1)

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