Um documento que comprova a entrada do preso político Rubens Paiva no Departamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro, durante a ditadura militar no Brasil, foi encontrado pela Polícia Civil na casa do coronel reformado do Exército Júlio Miguel Molinas Dias, de 78 anos, assassinado no dia 1º de novembro em Porto Alegre. Ele atuou no DOI-Codi depois do desaparecimento do político, e mantinha um acervo com material da época.
Em contato com o G1 na manhã desta quinta-feira (22), o delegado Luís Fernando Martins de Oliveira disse que, em breve, a polícia deve se manifestar sobre o arquivo que foi encontrado após o crime. “A chefia de polícia está tratando do assunto com o governo do estado, e entre hoje e amanhã deve haver uma manifestação em entrevista coletiva para falar do conteúdo desse documento.”
Rubens é um dos 183 desaparecidos políticos com o paradeiro a ser investigado pela Comissão Nacional da Verdade, criada pelo governo federal para examinar e esclarecer violações de direitos humanos praticadas durante o regime que vigorou entre 1964 e 1985. Integrantes do grupo estiveram na 14ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre para solicitar uma cópia do documento.
Segundo o delegado Luís Fernando, ainda não foi decidido se os integrantes da Comissão da Verdade receberão a cópia, mas eles já foram informados sobre o conteúdo do documento. “Fizemos uma reunião, foi dito a eles o conteúdo, eles solicitaram a cópia e ainda estamos tratando”, comentou.
De acordo com reportagem do jornal Zero Hora, no documento há registro da entrada de Rubens Paiva no QG-3, no Rio de Janeiro, e dos documentos e pertences pessoais que ele portava no momento da prisão. Na margem do documento, havia uma assinatura, possivelmente de Rubens Paiva.
O deputado Rubens Paiva foi preso em 20 de janeiro de 1971. Em março de 2012, a reportagem especialRubens Paiva - Uma história inacabada, veiculada pelo canal Globo News (veja o vídeo ao lado), contou a história do desaparecimento do político, sequestrado em frente à família e levado para órgãos de segurança, onde, segundo testemunhas, foi barbaramente torturado.
Sobre a morte do coronel
O coronel Molinas Dias foi morto por volta das 21h de quinta-feira (1) em frente à casa onde morava, no Bairro Chácara das Pedras, na Zona Norte de Porto Alegre. Segundo a Brigada Militar, o corpo foi encontrado pela polícia com marcas de disparos com armas de fogo.
O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e pela 14ª Delegacia de Polícia, onde atua o delegado Luís Fernando. De acordo com ele, a relação do crime com os arquivos que o coronel guardava em sua casa é a mais fraca entre as hipóteses. “Isso está praticamente descartado. Trabalhamos com crime passional, tentativa de homicídio, ou tentativa de latrocínio", destacou.
Molinas Dias fez parte na década de 1980 do DOI-Codi do Rio de Janeiro.
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