Por Samantha Rufino, g1 RR — Terra Indígena Yanomami


Operações contra garimpo ilegal na Terra Yanomami destruíram quase 50 pistas de pouso

Operações contra garimpo ilegal na Terra Yanomami destruíram quase 50 pistas de pouso

As operações contra o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami destruíram 48 pistas de pouso clandestinas, dentro e fora do território, em nove meses. Os dados são do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) e foram divulgados pela Casa de Governo nessa terça-feira (24).

O g1 esteve na Terra Indígena Yanomami para acompanhar o trabalho das Forças Armadas, por meio da Operação Catrimani II, durante a explosão de uma das pistas nessa segunda-feira (23). Conhecida como "pista do Mucuim", a estrutura funcionava às margens do rio Uraricoera, uma das regiões mais atingidas pela atividade ilegal. Ao sobrevoar o local, é possível ver áreas de garimpo inativas próximas a pista.

➡️ O modo aéreo é a principal maneira de acessar o território, que é de difícil acesso. As pistas ilegais são construídas pelos garimpeiros no meio da floresta e são usadas para receber aeronaves clandestinas que transportam os invasores, suprimentos e os minérios extraídos da Terra Yanomami.

Imagem 1ª Brigada de Infantaria de Selva/Divulgação Imagem 1ª Brigada de Infantaria de Selva/Divulgação
Imagens mostram antes e depois da pista do Mucuim — Foto 1: 1ª Brigada de Infantaria de Selva/Divulgação — Foto 2: 1ª Brigada de Infantaria de Selva/Divulgação

A pista destruída tinha 480 metros de extensão. Para destruir o local de pouso, foram usados cerca de 100 kg de explosivos em quatro pontos ao longo da estrutura. Além de realizar a explosão, os militares encontraram 10 sacos de cassiterita, somando uma tonelada, cinco carotes de combustível e um quadriciclo desmontado. Todo o material apreendido foi inutilizado no local.

O número de destruição de pistas é contabilizado desde a instalação da Casa de Governo, órgão criado para concentrar as operações de desintrusão do garimpo e de apoio aos indígenas Yanomami, que enfrentam uma crise devido à desassistência em saúde e avanço da atividade ilegal no território.

"A coordenação da operação se debruçou nessa discussão de fazer o sufocamento do apoio logístico dentro e fora da terra indígena e as pistas de pouso são pontos estratégicos. Então, a gente começou a mapear as de fora e também as dentro que são utilizadas. Com o tempo a gente foi refinando aquelas realmente ainda que continuam sendo utilizadas", explicou Nilton Tubino, diretor do órgão.

Área de garimpo ilegal no rio Uraricoera, — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Operações integradas

A Operação Catrimani II é uma iniciativa do Ministério da Defesa para combater o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, a maior do Brasil. Ela ocorre desde abril deste ano de forma conjunta entre órgãos de Segurança Pública, Agências e Forças Armadas, em coordenação com a Casa de Governo de Roraima.

Na ação, a Catrimani II mobilizou 11 engenheiros do 6º Batalhão do Sexto Batalhão de Engenharia de Construção (6º BEC), do Exército Brasileiro (EB). O efetivo foi levado ao local por uma aeronave H-15, da Marinha Brasileira.

Preparação da pista para explosão — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Em operações de explosão de pista, os militares fazem buracos com um perfurador, depois instalam a estrutura dos explosivos e determinam uma distância de segurança. Isto porque com o impacto da explosão, partes do solo podem voar e atingir os agentes envolvidos. O trabalho no local dura em média uma hora, dependendo da extensão da pista.

Todos os militares envolvidos passam por instruções dias antes de ir à pista, quando são ambientados com o lugar onde deve ocorrer a explosão, além de outras orientações. O trabalho envolve as áreas de inteligência e planejamento das Forças Armadas, como explica o General de Brigada Luciano Bortoluzzi Garcia, Comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva.

"Tudo começa com uma demanda. É passado para o Comando Conjunto, o comando conjunto é uma coisa militar e sob a ótica militar fazem um planejamento e a 1ª Brigada de Infantaria de Selva faz seu planejamento e passa a ser do Exército, mas não quer dizer que a gente não possa ir integrado [com outras forças de segurança] no terreno".

Militares observam pista antes de ser explodida — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Além de ações repressivas, a Catrimani II atua com ações de apoio as agências, de saúde, distribuição de cestas e voos de carga para o território. Atualmente, mais de 360 agentes atuam na operação.

"A gente contribui também não só com braço armado, mas também na ajuda aos povos indígenas. Têm outros órgãos responsáveis, mas a gente contribui com isso", destacou o general.

General de Brigada Luciano Bortoluzzi Garcia, Comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

A pista de mucuim era um importante ponto para a exploração de cassiterita. No local, há uma roça de mandioca plantada pelos Yanomami e é onde eles transitam para pescar. A pista estava sendo utilizada pelos invasores nos últimos dias, segundo relato dos próprios indígenas.

"Por relato das próprias comunidades indígenas, apesar de ter diminuído o número de garimpeiros, ela estava sendo muito utilizada. Então, dentro da lista de prioridades a gente tinha duas do Rangel, que foram explodidas semana passada, e a do Mucuim".

Segundo um levantamento de inteligência da Casa de Governo, ainda restam 12 pistas de apoio ao garimpo ilegal para serem destruídas dentro da terra indígena Yanomami. O modo aéreo é o único dos invasores acessar o território, pois os rios estão bloqueados pelas forças de segurança.

Pista do Mucuim, destruída pela Operação Catrimani II — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Terra Yanomami

Com mais de nove milhões de hectares, a Terra Indígena Yanomami é a maior do Brasil, localizada entre os estados do Amazonas e Roraima, com cerca de 32 mil habitantes, entre os povos Yanomami e Yekwana, divididos em mais de 380 comunidades.

O acesso às comunidades é de 98% via aérea e 2% terrestre. Na terra Yanomami, também existe um grupo de indígenas considerados isolados, os Moxihatëtëma.

O território é alvo de garimpeiros ilegais desde a década de 80, mas nos últimos anos enfrentou o aumento desenfreado da atividade, que causa malária e desnutrição entre os indígenas. Desde 2023, o governo federal implantou ações de combate ao garimpo e apoio a saúde dos indígenas, com forças de segurança na Terra Indígena e distribuição de cestas básicas nas comunidades.

Conheça a Terra Yanomami — Foto: Arte/g1

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