Corpos chegaram em dois rabecões do IML sob forte esquema de segurança — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR
Os corpos dos oito garimpeiros encontrados na Terra Yanomami chegaram no Instituto Médico Legal (IML) em Boa Vista, por volta das 19h30 desta quarta-feira (3). Os cadáveres chegaram em dois rabecões, escoltados sob forte esquema de segurança.
Os corpos foram recolhidos da cratera onde estavam por uma equipe da Polícia Federal com apoio de militares do Corpo de Bombeiros.
Os cadáveres chegaram na Base Aérea de Boa Vista de helicóptero e depois foram levados ao IML. Ao menos quatro viaturas e 15 agentes, entre policiais civis e federais, fizeram a segurança dos carros.
A força-tarefa que buscou os mortos embarcou pela manhã de Boa Vista rumo a Uxiu. Agora, no IML, todos devem passar por exames cadavéricos que vão identificar como foram mortos e as causas dos óbitos.
Os corpos foram encontrados durante um sobrevoo, estão dentro de uma cratera e têm marcas de tiros. Uma flecha foi encontrada no local. De Boa Vista a região são cerca de 1 hora de voo.
Saco — Foto: Arquivo Pessoal
Uxiu fica na região do rio Alto Mucajaí, uma das rotas usadas por garimpeiros ilegais no território Yanomami. No último sábado (29), garimpeiros armados atiraram em três Yanomami - um deles era agente de saúde e morreu baleado na cabeça. Os outros dois passaram por cirurgia e estão internados no Hospital Geral de Roraima (HGR), na capital.
Os corpos dos garimpeiros foram encontrados numa área de exploração ilegal do minério próximo à comunidade. A suspeita da PF é que as mortes tenham relação com o ataque aos indígenas da comunidade Uxiu.
Equipe do Corpo de Bombeiros auxiliou na remoção dos cadáveres — Foto: Arquivo Pessoal
A Associação Hutukara Yanomami já havia alertado para o risco de um revide na região após o ataque dos garimpeiros aos indígenas. Em um comunicado, assinado com Texoli Associação Ninam estado, as duas organizações disseram que poderia ocorrer "a qualquer momento mais uma tragédia naquela região"
"As lideranças indígenas da comunidade Uxiu informaram que se organizaram e estão preparados para atacar qualquer barco de garimpeiros que passarem próximos às comunidades às margens do Rio Mucajaí, isso significa que pode ocorrer a qualquer momento mais uma tragédia naquela região".
Com mais estes oito corpos, chegou a 13 o número de mortos na Terra Yanomami desde o último sábado: o indígena Ilson Xiriana, de 36 anos, que atuava como agente de saúde em Uxiu, além de outros quatro garimpeiros que morreram em confronto com a Polícia Rodoviária Federal e o Ibama - um desses mortos era o chefe de facção identificado como Sandro Moraes de Carvalho, que comandava facção que domina garimpos no território.
Mapa mostra regiões de conflito na Terra Yanomami nas regiões de Uxiu e Waikás — Foto: arte g1
Reforço na segurança
Após o ataque aos indígenas e o confronto com os agentes federais, o governo federal anunciou reforço nas equipes que atuam contra garimpeiros na Terra Yanomami. No entanto, ainda não foi detalhado como e quando vai ocorrer o esse reforço.
Em nota, o Ministério da Defesa informou que haverá uma reunião por volta das 17h (horário de Brasília) desta quarta-feira (3) na Casa Civil da Presidência da República para tratar sobre o tema.
"O Ministério da Defesa e as Forças Armadas se mantêm de prontidão para o atendimento de novas demandas frente aos ataques contra indígenas em Território Yanomami", completou o órgão.
O g1 também procurou os Ministérios da Justiça e Meio Ambiente para saber detalhes desse reforço na segurança, mas nenhum respondeu até a última atualização da reportagem.
A PRF, que atua em ações conjuntas com o Ibama e Força Nacional dentro do território contra os garimpeiros, disse em nota que "está em análise pela Polícia Rodoviária Federal, por meio da Diretoria de Operações, o reforço de policiamento para atuação na TI Yanomami".
Atualmente, segundo a PRF, a corporação conta com 53 policiais no local, dentre táticos especializados em combate aos crimes ambientais, Choque, Operações Aéreas e Operações Especiais. A PRF também conta, no momento, com dois helicópteros dedicados ao apoio operacional.
Em coletiva à imprensa em Boa Vista, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva disse que o governo vai manter as ações contra os garimpeiros.
"O estado brasileiro não vai recuar face à criminalidade. As ações vão ser intensificadas. Vamos reforçar as equipes do Ibama, da PRF, da Polícia Federal, com as Forças Armadas, que é fundamental o suporte logístico, e toda parte operacional para que a gente possa dar uma respostas a altura".
Maior território indígena do país, a Terra Yanomami enfrenta uma das piores crises sanitárias da história em três décadas de demarcação e está sob emergência em saúde desde janeiro, quando Lula (PT) assumiu a presidência do país. Devido ao avanço do garimpo ilegal na região - que aumentou 54% em um ano, crianças e adultos enfrentam casos severos de desnutrição e malária.
Além de Marina, estiveram em Roraima as ministras dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e da Saúde, Nísia Trindade. Também integrou a comitiva o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, a presidente da Funai, Joenia Wapichana, o secretário nacional de Segurança Pública, Francisco Tadeu de Alencar, o diretor para Amazônia da Polícia Federal, Humberto Freire, o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Jair Schmitt, e o secretário especial de Saúde Indígena, Weibe Tapeba.
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