Davi Kopenawa Yanomami é um dos líderes mais conhecidos no país pela luta de proteção à floresta — Foto: Victor Moriyama/ISA
O xamã Davi Kopenawa, principal liderança indígena Yanomami, recebeu a aprovação do Conselho Universitário da Universidade Federal de Roraima (UFRR) para ser agraciado com a máxima distinção acadêmica concedida pela instituição: o título de Doutor Honoris Causa. A informação foi divulgada no sábado (6).
A titulação será concedida por sua "liderança e contribuição na luta pelos direitos indígenas, reconhecidas tanto nacional como internacionalmente". A decisão, aprovada na última sexta-feira (5), pode ser acessada no site.
Nas redes sociais, o filho do xamã, Dario Kopenawa, parabenizou o pai, destacando a contribuição dele na luta Yanomami. "Parabéns meu pai, cada vez mais tô ficando orgulhoso!", escreveu.
A trajetória de Kopenawa
Nascido por volta de 1955 (a data é incerta), Kopenawa é xamã e porta-voz dos yanomami, que vivem isolados na Amazônia, perto da fronteira com a Venezuela.
Há mais de 30 anos, ele viaja pelo mundo em defesa do seu povo. Recebeu o apelido de "Dalai Lama da Floresta Tropical" e foi chave para o reconhecimento oficial do território yanomami na Amazônia em 1992, depois de quase dez anos de luta.
O território é duas vezes maior que a Suíça — sendo a maior área indígena coberta por floresta do mundo, de acordo com a organização Survival International.
Nos anos 1950 e 1960, o contato intensificado com homens brancos levou ao surgimento de doenças que praticamente eliminaram os yanomami. Foi assim que Kopenawa viu os pais morrerem.
E, na década de 1980, milhares de garimpeiros invadiram seu território em busca de ouro, resultando em violência e novas doenças, o que reduziu a população nativa em 20%, segundo a Survival International.
Kopenawa diz que não morreu por ser "protegido pelo pajé". Em 1989, ele recebeu um prêmio da ONU pela defesa do seu povo.
É diante deste contexto que o líder indígena — cofundador e presidente da Hutukara Associação Yanomami, criada em 2004 — tem dedicado sua vida a proteger os direitos indígenas e o território do seu povo na floresta tropical.
Kopenawa, que aprendeu português já adulto, é autor do primeiro livro escrito por um yanomami, "A queda do céu". A obra, publicada em 2010, narra a trajetória dele e do seu povo, além de suas visões sobre o "homem branco".
Estrelou o filme "A Última Floresta", lançado em 2021. A obra mistura documentário e ficção, denunciando garimpos ilegais e o desmatamento da floresta. O roteiro foi coassinado pelo xamã e ativista. Os atores foram os próprios indígenas.