Última Floresta filme — Foto: Divulgação
Incorporando a mitologia e os costumes Yanomami em um contexto de denúncia dos efeitos negativos da ação de garimpeiros ilegais, o longa-metragem “A Última Floresta”, do brasileiro Luiz Bolognesi ganhou o prêmio Platino 2022 de melhor documentário.
Considerada pelo próprio diretor do longa como "O Oscar Latino", a premiação é dedicada a reconhecer as melhores produções ibero-americanas de 23 países e teve a sua 9ª edição em 2022. A cerimônia ocorreu no dia 1º de maio em Madri, na Espanha, no IFEMA Palacio Municipal.
Além de "A Última Floresta", o filme brasileiro "7 Prisioneiros" estrelado por Rodrigo Santoro e dirigido por Germano de Oliveira, também levou para casa o prêmio de melhor montagem na edição.
“A Última Floresta” mistura documentário e ficção, denunciando garimpos ilegais e o desmatamento da floresta. O roteiro foi coassinado pelo xamã e ativista Davi Kopenawa Yanomami. Os atores foram os próprios indígenas.
O vencedor do prêmio principal da noite foi o espanhol "O Bom Patrão", dirigido por Fernando León de Aranoa e estrelado por Javier Barden. O longa levou o título de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro e melhor ator, para Barden.
Davi Kopenawa Yanomami é um líder indígena que há 49 anos luta pelo povo Yanomami e Yekuana e é conhecido internacionalmente e uma das mais respeitadas lideranças no país. Ele também já recebeu um prêmio Right Livelihood Award, mais conhecido "Nobel Alternativo".
Nas redes sociais, o diretor do filme comemorou a conquista e dedicou o prêmio ao povo Yanomami e a Davi Kopenawa. Com hashtags, pediu a retirada do garimpo na maior reserva indígena do país.
"Ganhamos o Oscar latino de Melhor Documentário! Viva o Cinema Yanomami. #foragarimpo Importante porque foi votado por centenas de artistas ibero-americanos, sendo menos de 5% de língua portuguesa. Fomos escolhidos entre grandes documentários espanhóis, mexicanos, argentinos, brasileiros e de toda América Latina. É a força e a beleza do povo Yanomami encantando o mundo. Viva o xamã e líder #davikopenawayanomami Obrigado povo Yanomami por nos permitir conviver e aprender com vocês. Obrigado equipe maravilhosa!".
Nos comentários da postagem, a diretora do documentário brasileiro "Democracia em Vertigem", Petra Costa, que concorreu ao Oscar em 2020, parabenizou a conquista do diretor.
A premiação ocorre em meio ao avanço do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. A região é explorada por garimpeiros há décadas, que buscam minérios como ouro e cassiterita, usada na fabricação do estanho. Estima-se que 20 mil invasores estejam no território.
Além de enfrentar o aumento desenfreado da exploração ilegal, os indígenas também lutam contra a destruição dos rios e a floresta, a disseminação de doenças e a falta de segurança das comunidades.
O relatório da Hutukara também expôs como garimpeiros têm recrutado jovens ianomâmi entregando armas e comida a eles em troca de segurança na floresta, a violência sexual contra meninas e a destruição ambiental. As novas informações são acompanhadas pelo Ministério Público Federal (MPF), que pediu ao governo federal novas ações policiais na reserva.
A trajetória de Kopenawa
Davi Kopenawa Yanomami é um dos líderes mais conhecidos no país pela luta de proteção à floresta — Foto: Victor Moriyama/ISA
Nascido por volta de 1955 (a data é incerta), Kopenawa é xamã e porta-voz dos yanomami, que vivem isolados na Amazônia, perto da fronteira com a Venezuela.
Há mais de 30 anos, ele viaja pelo mundo em defesa do seu povo. Recebeu o apelido de "Dalai Lama da Floresta Tropical" e foi chave para o reconhecimento oficial do território yanomami na Amazônia em 1992, depois de quase dez anos de luta.
O território é duas vezes maior que a Suíça — sendo a maior área indígena coberta por floresta do mundo, de acordo com a organização Survival International.
Nos anos 1950 e 1960, o contato intensificado com homens brancos levou ao surgimento de doenças que praticamente eliminaram os yanomami. Foi assim que Kopenawa viu os pais morrerem.
E, na década de 1980, milhares de garimpeiros invadiram seu território em busca de ouro, resultando em violência e novas doenças, o que reduziu a população nativa em 20%, segundo a Survival International.
Kopenawa diz que não morreu por ser "protegido pelo pajé". Em 1989, ele recebeu um prêmio da ONU pela defesa do seu povo.
É diante deste contexto que o líder indígena — cofundador e presidente da Hutukara Associação Yanomami, criada em 2004 — tem dedicado sua vida a proteger os direitos indígenas e o território do seu povo na floresta tropical.
Kopenawa, que aprendeu português já adulto, é autor ainda do primeiro livro escrito por um yanomami, "A queda do céu". A obra, publicada em 2010, narra a trajetória dele e do seu povo, além de suas visões sobre o "homem branco".
Terra Yanomami
A Terra Indígena Yanomami é a maior do país, com cerca de 10 milhões de hectares distribuídos entre os estados de Roraima, onde fica a maior parte, e Amazonas. São mais de 28,1 mil indígenas que vivem na região, incluindo os isolados, em 371 comunidades.
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