A comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami, sofreu um novo ataque a tiros na noite dessa quarta-feira (12). A Hutukara, principal associação que representa o povo que vive na região, informou na manhã desta quinta-feira (13) que cerca de 40 barcos com garimpeiros armados dispararam contra os indígenas. Não há relatos de feridos.
De acordo com a associação, o tiroteio ocorreu por volta das 22h45 da noite de quarta, horas depois que o Exército esteve na região. Os militares ficaram cerca de 2 horas na comunidade. Palimiú registra pelo quarto dia consecutivo ataques a tiros feitos por garimpeiros. Neste período, até agentes da Polícia Federal enviados para investigar o conflito armado foram alvos dos invasores.
"É uma situação muito tensa. Os indígenas estão muito vulneráveis. Eles me relataram que é muita gente e que estão fortemente armados. Os Yanomami estão sem segurança. O Exército fez somente um bate e volta e isso não corresponde à segurança total", disse Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara.
Indígenas da Comunidade Palimiu, na Terra Indígena Yanomami — Foto: Condisi-YY/Divulgação
Além do tiroteio da noite, o líder indígena e presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuanna (Condisi-Y), Júnior Hekurari Yanomami, informou ao G1 nesta quarta que também recebeu relatos de novos disparos nesta manhã.
"Chegaram com tudo, atiraram com tudo. Tinha muita gente ontem à noite e hoje de manhã. Estão assustados porque não tem Polícia Federal lá, nem Exército. O Exército foi ontem, mas não dormiu na comunidade e retornou. Ele só foram, olharam e retornaram ontem mesmo", disse Júnior Hekurari.
A assessoria da 1ª Brigada em Boa Vista confirmou que as equipes já retornaram de Palimiú, mas o motivo não foi explicado. Não há previsão de quando a tropa retorna à região de conflito. A Polícia Federal também foi questionada se vai enviar agentes, mas a corporação ainda não se manifestou.
Dário Kopenawa afirmou que desde a segunda-feira o movimento de barcos com garimpeiros é intenso no trecho do rio Uraricoera que passa por Palimiú. Os invasores, segundo ele, têm feito disparos, possivelmente, para intimidar os indígenas.
"Ontem quando o Exército chegou, os garimpeiros deram uns cinco tiros ainda. Não parou o tiroteio e não vai parar", afirmou.
Conflito na TI Yanomami — Foto: Arte/G1
Diante da constante tensão, a Hutukara fez um novo ofício destinado ao Exército relatando a urgência e cobrando o envio de segurança - este foi o segundo documento em menos de um dia. O pedido cita "a necessidade urgentíssima da presença permanente do poder público no local para garantir a segurança das comunidades indígenas e impedir a livre perpetuação dos crimes associados à presença do garimpo ilegal na região."
"Na Terra Yanomami tem mais de 20 mil garimpeiros, isso significa que o tiroteio não vai parar. Estou preocupado porque nossos parentes vão morrer lá, sem segurança. É uma guerra. Cadê o Estado brasileiro? Os órgãos públicos? O governo federal?", disse Dário Kopenawa.
Também nessa quarta, o Ministério Público Federal entrou na Justiça com pedido de liminar para que a União envie, imediatamente, tropa policial ou militar à comunidade indígena Palimiú. O pedido exige permanência policial ininterrupta, 24 horas por dia, na região.
"A comunidade está querendo fugir para o mato, para longe de Palimiú. Se não tiver segurança, hoje ou amanhã eles vão fugir", afirmou Júnior Hekurari.
Confrontos em Palimiú
Sete agentes da Polícia Federal foram enviados à região para investigar conflito armado — Foto: Divulgação/Polícia Federal
A comunidade fica às margens do rio Uraricorera, em Alto Alegre, ao Norte de Roraima, onde garimpeiros exploram o ouro ilegalmente. Na segunda-feira (10), um conflito armado na região resultou na morte de três garimpeiros e cinco feridos, além de um indígena baleado de raspão na cabeça. Um vídeo compartilhado pela HAY mostrou o momento em que tiros foram disparados.
Garimpeiros trocaram tiros com a PF na terça-feira (11) na Terra Yanomami
A informação dos óbitos foi repassada ao Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuanna (Condisi-Y) pelos indígenas da região, mas a PF não confirma as mortes.
Na terça (11), garimpeiros atiraram contra policiais federais que estavam no local para levantar informações sobre o conflito. O tiroteio durou cerca de cinco minutos. Segundo a PF, não houve feridos.
Os conflitos acirraram a tensão na região e ocorrem porque indígenas montaram uma barreira sanitária no rio Uraricoera e têm retido materiais de invasores que seriam levados à garimpos ilegais, de acordo com a Hutukara e com o líder indígena e presidente do Condisi-Y, Júnior Hekurari Yanomami.
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas. Cerca de 27 mil indígenas vivem na região, alvo de garimpeiros que invadem a terra em busca da extração ilegal de ouro.
O território também contém a referência confirmada de um povo indígena isolado, além de seis outras reportadas em estudo, segundo a Funai.