Mulheres e crianças correm ao ouvir disparos — Foto: Reprodução
A Terra Indígena Yanomami, maior reserva indígena em extensão territorial do Brasil, registra desde o dia 10 de maio uma série de conflitos armados entre garimpeiros e indígenas na comunidade Palimiú. A região, que fica no município de Alto Alegre, é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. Mas, nos últimos anos, essa busca pelo minério se intensificou, causando degradação da floresta e ameaçando a saúde dos moradores.
Com quase 10 milhões de hectares, a Terra Yanomami fica entre os estados de Roraima e Amazonas além de parte da Venezuela. Cerca de 27 mil indígenas – incluindo grupos isolados – vivem em cerca de 360 aldeias. O G1 explica em três pontos o motivo da tensão.
1. Como começou o conflito em Palimiú?
Vídeo mostra momento do conflito armado na Terra Yanomami em RR
O estopim da tensão em Palimiú foi na última segunda-feira (10), quando garimpeiros à bordo de barcos abriram fogo contra a comunidade. Não foi a primeira vez que houve disparos contra os indígenas. Em 24 e 27 de abril, os garimpeiros atiraram contra a comunidade.
No novo conflito, os indígenas revidaram e houve trocas de tiros. O resultado foi três garimpeiros mortos e cinco feridos, além de um yanomami baleado de raspão na cabeça, sem risco de morrer. Um vídeo feito pelos indígenas flagrou a correria de mulheres e crianças no momento em que os tiros foram disparados.
Em 11 de maio, sete agentes da PF foram enviados a Palimiú para investigar o conflito e foram alvos de tiros efetuados por garimpeiros. A PF deixou a região no mesmo dia e ainda não retornou e a tensão segue. "O tiroteio não parou, o clima não aliviou. Os garimpeiros querem atacar novamente", disse Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara, e filho de Davi Kopenawa, líder Yanomami conhecido mundialmente.
Garimpeiros trocaram tiros com a PF na terça-feira (11) na Terra Yanomami
O Exército chegou a enviar militares para Palimiú nessa quarta-feira (12), mas eles ficaram somente 2 horas na região, conforme a Hutukara. O motivo da saída da tropa não foi informado.
2. Qual o motivo do conflito?
Embarcações de garimpeiros passando em frente a Comunidade do Palimiú — Foto: Júnior Hekurari Yanomami/Condisi-YY/Divulgação
A Hutukara e o Condisi-YY afirmam que garimpeiros têm atacado a comunidade porque indígenas de Palimiú montaram uma espécie de barreira sanitária no rio Uraricoera para evitar a contaminação por Covid-19 e o avanço do garimpo ilegal na Terra Yanomami.
Nessa barreira, conforme as duas instituições, indígenas têm apreendido materiais que seriam levados pelos invasores até os acampamentos de exploração ilegal no meio da floresta. "É um local de passagem dos garimpeiros, onde levam gasolina e alimentam todos os locais dos garimpos", comentou Júnior Yanomami.
De acordo com Júnior Yanomami, na manhã do dia 24 de abril, os indígenas apreenderam 250 galões de diesel, dois quadriciclos e um barco grande. Cerca de meia hora depois, os garimpeiros voltaram atirando contra a comunidade, que revidou. Desde então ocorreram os demais confrontos armados.
3. Há reforço na segurança da comunidade?
Em meio à tensão em Palimiú, a 2ª Vara da Justiça Federal determinou nesta quinta-feira (13) que a União envie, imediatamente, tropa policial ou militar para comunidade indígena. Foi dado prazo de 24 horas para o governo federal informar e comprovar o envio das tropas, sob pena de multa. O pedido foi feito pelo Ministério Público Federal (MPF).
Sete agentes da Polícia Federal foram enviados à região para investigar conflito armado no dia 11 de maio — Foto: Divulgação/Polícia Federal
A solicitação do MPF está dentro de ação civil pública em andamento desde o ano passado, onde o órgão pediu a total "desintrusão de garimpeiros" que atuam ilegalmente na exploração de ouro na Terra Yanomami. Esta ação está em fase de execução na Justiça Federal e os autos estão sob sigilo.
No processo, o MPF pede que a Justiça determine à União a retirada dos garimpeiros, pois a presença deles Terra Yanomami implicava em riscos como a disseminação do coronavírus, por serem o "principal vetor de disseminação da doença", além dos ilícitos ambientais.
Em 2020, o ano da pandemia, o garimpo ilegal avançou 30% na Terra Yanomami. Só o rio Uraricoera concentra 52% de todo o dano causado pela atividade ilegal. Ao passo que o garimpo avançou, os registros de Covid-19 também aumentaram 250% em três meses na região.