Por Juliana Dama, G1 RR — Boa Vista


Vídeo mostra momento do conflito armado na Terra Yanomami em RR

Vídeo mostra momento do conflito armado na Terra Yanomami em RR

Um vídeo compartilhado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) mostra o momento em que tiros são disparados durante o conflito na comunidade do Palimiú, na Terra Yanomami, localizada em Alto Alegre, ao Norte de Roraima, nessa segunda-feira (10).

A gravação, que também circula nas redes sociais, mostra uma lancha passando no rio Uraricoera, em frente à comunidade. Em seguida, há sons de tiro. Mulheres e crianças que estão no local correm para se refugiar ao ouvir os disparos. Não há informações sobre o momento exato em que as imagens foram registradas.

Durante o confronto, três garimpeiros morreram e quatro ficaram feridos, de acordo com presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuanna (Condisi-Y), Junior Hekurari Yanomami. Um indígena também ficou ferido com um tiro na cabeça, mas sobreviveu.

Ainda na tarde de segunda, o presidente do Condisi-Y foi até a comunidade para acompanhar a situação de perto. O relato é que os indígenas foram atacados após apreenderem materiais que seriam destinados ao garimpo. A Polícia Federal investiga o caso.

Mulheres e crianças correm ao ouvir disparos — Foto: Reprodução

"É um local de passagem dos garimpeiros, onde levam gasolina e alimentam todos os locais dos garimpos. As próprias comunidades fizeram barreiras, estão colocando dificuldade e estão sofrendo retaliação", disse Hekurari.

A comunidade fica às margens do rio Uraricoera, trajeto usado pelos invasores para chegar até os acampamentos no meio da floresta.

Na ida à comunidade, Hekurari, relatou ter encontrado cartuchos de espingardas calibres 12, 28 e 20, além de munições deflagradas de fuzis e de pistolas. Dois quadriciclos foram apreendidos pelos indígenas.

"Está um clima tenso, estão com muito medo. Não sei como vai ficar hoje. Todos estão com medo. Homens vão fazer o possível para manter a segurança deles".

Ainda de acordo com Hekurari, os corpos foram levados pelos próprios garimpeiros. Um dos invasores foi deixado para trás pelo grupo e foi detido pelos indígenas. O homem foi retirado da região pelo Condisi-Y e entregue à PF e a Funai, em Boa Vista.

Cápsulas de munições deflagradas encontradas pelo Condisi-YY após conflito na Terra Yanomami — Foto: Júnior Hekurari Yanomami/Condisi-YY/Divulgação

Relatório ao MPF

Um relatório da visita do Condisi-Y foi enviado ao Ministério Público Federal (MPF), à Fundação Nacional do Índio (Funai) e à Polícia Federal (PF). No documento, Hekurari pede uma ação por parte dos órgãos, após a situação entre indígenas e garimpeiros se agravar "diante da inércia da União, de seus órgãos e autarquias".

"Diante de todos esses danos potenciais e previsíveis, que acabaram por se confirmar com o passar do tempo, e diante da inércia da União, de seus órgãos e autarquias, solicitamos que seja ajuizada alguma ação, uma vez que a situação se agravou de tal forma que o caos social se instalara e a atividade criminosa caminha para sair do controle das forças de segurança", diz trecho do relatório.

Procurado, o procurador do MPF, Alisson Marugal diz que órgão está agindo para apurar o que aconteceu e identificar os responsáveis.

“Apurando as informações e em contato com os órgãos de segurança para as providências cabíveis e urgentes para garantir a segurança das comunidades indígenas e identificar os autores do ataque”, procurador do MPF, Alisson Marugal.

A Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas (FPMDDPI) emitiu uma nota de repúdio ao ataque e também enviou um ofício ao MPF solicitando informações sobre o confronto.

“Como é de conhecimento público e das autoridades, a situação na Terra Indígena Yanomami é gravíssima face à persistentes invasões por garimpeiros. Assim considerando acima relatado, venho solicitar as averiguações e medidas emergenciais que o caso requer para assegurar os direitos constitucionais, em especial à vida e integridade física do Povo Indígena Yanomami”, escreveu a deputada Joenia Wapichana (Rede), coordenadora da FPMDDPI.

Indígenas da Comunidade Palimiu, na Terra Indígena Yanomami — Foto: Condisi-YY/Divulgação

Terceiro conflito

O conflito desta segunda na região do Palimiú, entre garimpeiros e indígenas, foi o terceiro em menos de 15 dias, segundo Hekurari.

Uma dos ataques foi relatado pela HAY em ofício enviado em 30 de abril. Segundo o documento, ocorreu uma troca de tiros entre um grupo de Yanomami e oito garimpeiros no dia 27 do mesmo mês, após os indígenas interceptarem uma carga de 990 litros de combustível. Não houve feridos.

"As lideranças estão indignadas com a continuidade da invasão garimpeira em suas terras e com a violência e ameaça praticada pelos invasores. Temendo que novas retaliações por parte dos garimpeiros resultem em mais conflitos violentos e mortes, os indígenas exigem uma resposta dos órgãos públicos para garantir a segurança das comunidades", cita trecho do ofício da Hutukara.

Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas. Cerca de 27 mil indígenas vivem na região, alvo de garimpeiros que invadem a terra em busca da extração ilegal de ouro.

O território também contém a referência confirmada de um povo indígena isolado, além de seis outras reportadas em estudo, segundo a Funai.

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