Por Fabrício Araújo, G1 RR — Boa Vista


Com área equivalente à de Portugal, Terra Indígena Yanomami ocupa partes dos Estados de Roraima e Amazonas e fica na fronteira do Brasil com a Venezuela — Foto: Victor Moriyama / ISA/Arquivo

O Ministério Público Federal (MPF) pediu nesta quarta-feira (15) que o governo federal seja multado após deixar de cumprir determinação do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) para retirar garimpeiros da Terra Yanomami como forma de combate à pandemia de coronavírus.

Em 3 de julho, o desembargador federal Jirair Aram Meguerian determinou que um plano emergencial para conter a disseminação do novo coronavírus fosse elaborado em cinco dias. Após a apresentação, as medidas precisariam ser postas em prática em até 10 dias.

Procurada pelo G1, a Advocacia Geral da União afirma que o governo foi notificado em 13 de julho e ainda está dentro do prazo estabelecido. Informou também que no mesmo dia um parecer foi encaminhado aos Ministérios da Defesa, do Meio Ambiente e da Justiça e Segurança Pública para cumprimento da decisão.

O procurador Alisson Marugal argumenta, em seu pedido, que não houve manifestação das partes processadas e pede à Justiça que determine o valor da multa pelo descumprimento da decisão.

"As partes requeridas quedaram-se inertes, não havendo notícia sequer de elaboração do plano de ações", diz trecho do pedido do MPF.

O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi-Y), Junior Yanomami, afirma que garimpeiros levaram o coronavírus à Terra Yanomami em Roraima e 118 indígenas testaram positivo para Covid-19 até esta quarta-feira (15).

Também deveriam participar da elaboração do plano a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio).

A estratégia elaborada pelos órgãos deveria conter obrigatoriamente as seguintes medidas para garantir a proteção dos Yanomami diante da pandemia:

  • Equipes fixas para combate dos ilícitos em pontos estratégicos onde há garimpo na Terra Yanomami;
  • Efetivo adequado para ações de repressão e investigações;
  • Disponibilização alimentos, insumos, serviços e equipamentos;
  • Relatórios a cada 15 dias para comprovar que a determinação judicial está sendo cumprida;
  • Garantia de imediata retirada de todos os garimpeiros não indígenas;
  • Medidas para não agravar o risco de contaminação na região, as equipes de atuação devem adotar as medidas sanitárias necessárias.

Coronavírus em Terra Yanomami

Cerca de 27 mil indígenas vivem na Terra Indígena Yanomami — Foto: Reprodução/Hutukara Associação Yanomami/Arquivo

Há oito comunidades atingidas pela pandemia na Terra Yanomami, de acordo com boletim divulgado pelo Condisi-Y na tarde desta quarta.

São 54 infectados na comunidade Maturaca; 44 na comunidade Waikás; seis na comunidade Maia; quatro na comunidade Inambu; As comunidades Missão Catrimani e Apiaú têm três cada; e dois na Maloca Paapiu.

O procurador de justiça de Roraima, Edson Damas, acredita que doença pode causar um grande dano a população aos indígenas e causar um terceiro ciclo de genocídio dos Yanomami.

Um estudo elaborado pelo Instituto Socioambiental (Isa) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que Terra Yanomami é a mais vulnerável ao coronavírus entre as regiões indígenas da Amazônia.

A Terra Yanomami é a maior do Brasil, com mais de 9 mil hectares distribuídos entre os estados de Roraima e Amazonas, a terra abriga 26.780 indígenas.

Estima-se que cerca de 20 mil garimpeiros estejam infiltrados no território. Roraima não possui garimpos legalizados.

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