Por Thaís Espírito Santo, Fernanda Graell, Leslie Leitão, Guilherme Santos, g1 Rio e RJ2


Mãe de menino de 4 anos morto na Penha diz que tinha medo do ex-marido

Mãe de menino de 4 anos morto na Penha diz que tinha medo do ex-marido

A mãe do menino Davi Delgado Magno disse, em entrevista ao RJ2, que tinha medo de voltar para casa e o ex-marido André Rosa Magno cometer algo contra ela. Raquel Delgado tinha conseguido uma medida protetiva de urgência nesta semana contra o ex por violência doméstica e injúria. Ela também fez um boletim de ocorrência por ameaça.

"Eu tava com medo de voltar para casa, dele fazer alguma coisa comigo. Falei com a família toda dele, pedi 'tira meu filho de lá'. Eu só queria meu filho, dormir com meu filho", afirma a mãe.

Raquel tinha ido até a casa do ex na noite desta quinta (12) na tentativa de pegar o filho, que afirma que não via desde segunda (9). O garoto, de 4 anos, morreu baleado na cabeça depois que um traficante atirou contra o carro que ele estava com o pai.

"Abriram a porta [do carro], o André estava no volante, com uma arma na mão, segurando o Davi assim [na frente do corpo]. O cara falou 'entrega ele pra mãe, deixa a mãe pegar'. Era só ele dar o Davi pra mim. Ele ligou o carro e saiu. Arrombou a porta da garagem, tinha um cara em frente ao carro dele e ele passou por cima do cara. O cara levantou e deu um tiro", conta Raquel.

"Ele fez tudo premeditado, ele falava que eu ia sentir dor, que eu ia sofrer", completa ela.

Inicialmente, o pai disse que Raquel chamou os traficantes da comunidade para resolver uma briga de casal. No entanto, Raquel contou ao g1 que tem um medida protetiva de urgência contra André e tentava se divorciar de forma amigável dele há 1 ano, mas o homem não aceitava.

Em conversas por um aplicativo de mensagens, André enviou prints da conversa com a Delegacia da Mulher que mostravam que ele tinha sido comunicado da medida protetiva. A decisão da Justiça impedia que ele entrasse em contato com Raquel e intimava que ele saísse do lar de convívio da família.

Segundo a mulher, na hora da briga e no momento que a criança foi baleada, André estava armado. Ao deferir a medida protetiva, a Justiça expediu ainda um mandado de busca e apreensão de arma de fogo contra o homem.

Ela afirma que o homem buscou a criança na creche e enviou mensagens pedindo que ela fosse para casa e retirasse a queixa contra ele na polícia.

"Você vai acabar com minha vida, você sabe que vou preso. Você vai conseguir o que você queria, me ver preso. Esfria sua cabeça e volta para casa, não faz isso, vai lá e retira [a medida]. Não precisa ser hoje, vai outro dia, esfria sua cabeça, você agiu por impulso, vamos sentar e conversar", dizem as mensagens do homem, guardadas por Rachel.

Logo depois, ele enviou uma foto com o garoto uniformizado. Para a mulher, ele fez isso de forma intencional para atraí-la para casa.

Nas mensagens, ele diz: "Você vê o que é melhor para o nosso filho, ficar longe da mãe ou perto da mãe e do pai dele. Não falo mais nada, você está fazendo sua escolha, afastando o filho do pai e da família. Se você quiser vir pra casa as portas estão abertas, independente de qualquer coisa só quero o melhor para gente".

Cerca de 30 minutos depois, ele envia mais uma mensagem: "Nosso filho está falando para você vir para casa, ouve o áudio".

A versão de André

Em depoimento, André Rosa Magno deu outra versão. Ele disse que estava separado há uma semana e que Raquel saiu de casa na noite de quinta, mas voltou para buscar o filho. Ele afirmou que os dois brigaram e que a mulher chamou criminosos para ajudá-la. Já Raquel diz que estava desde segunda, data em que a medida protetiva foi deferida, sem ver o filho.

Segundo André, com medo, ele pegou o filho, colocou no banco traseiro do carro e saiu em disparada, derrubando o portão da garagem. Na fuga, André acabou atropelando um dos criminosos, que atiraram várias vezes contra o veículo, atingindo o menino na cabeça.

Ela nega que tenha chamado bandidos e diz que eles ouviram a briga e foram até o local para resolver.

Carro onde criança foi baleada na Penha — Foto: Reprodução/TV Globo

Ao ver o filho ferido, o pai dirigiu até o Hospital Estadual Getúlio Vargas, também na Penha, onde a criança acabou morrendo.

A Polícia Civil foi acionada e periciou o veículo ainda na porta da unidade hospitalar. No início da tarde, agentes fizeram uma perícia no Morro da Fé.

André e a mãe do menino foram ouvidos na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que assumiu as investigações do caso.

Em 2024, o Instituto Fogo Cruzado registrou 25 crianças baleadas na Região Metropolitana do Rio: 21 ficaram feridas e 4 morreram.

Davi, de 4 anos, foi baleado e morto na Penha — Foto: Reprodução/TV Globo

Outros casos de violência

Rio de Janeiro registrou casos diários de vítimas da guerra urbana nesta semana

Rio de Janeiro registrou casos diários de vítimas da guerra urbana nesta semana

Nesta quinta-feira (12), o Em Pauta, da GloboNews, destacou a rotina de violência no Rio de Janeiro. Somente nesta semana, o Rio registrou casos diários de vítimas da guerra urbana. Veja no vídeo acima.

  • Nesta quinta-feira (12), um turista foi baleado a caminho do Cristo Redentor, e um policial militar foi morto em tentativa de assalto.
  • Na terça-feira (10), a médica Gisele perdeu a vida ao ser atingida por uma bala perdida dentro de um hospital da Marinha.
  • Na segunda-feira (9), as amigas Alessa e Evelyn foram baleadas quando saíam para o trabalho. Alessa não resistiu.
  • No domingo (8), Steve levou um tiro na cabeça durante um assalto.
  • Na sexta-feira (7), os irmãos Caique e Mirella foram atingidos por balas perdidas em um tiroteio e sobreviveram.
  • No dia 5, a menina Kamilla Vitória morreu ao ser atingida por um tiro enquanto brincava.
  • No dia 3, o policial militar Marco Antônio foi morto com um tiro de fuzil por criminosos.

Rio de Janeiro registrou casos diários de vítimas da guerra urbana nesta semana — Foto: Reprodução/GloboNews

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