'Cometa do Século' indo 'na direção' do Pão de Açúcar — Foto: Marcello Cavalcanti
O "Cometa do Século", como vem sendo chamado o C/2023 A3 (Tsuchinshan–ATLAS), foi flagrado "passeando" por um dos principais cartões postais do Rio na madrugada desta terça-feira (1º).
Especialista em fotografia de paisagem e astrofotografia, o fotógrafo Marcello Cavalcanti montou seu planejamento e clicou o corpo celeste deixando seu rastro no céu do Rio com uma trajetória como se estivesse na direção do Pão de Açúcar.
A foto foi feita do Mirante Dona Marta, de frente para a Enseada de Botafogo.
"Na semana que o 'Cometa do Século' ficou mais visível, eu estava no Pantanal fotografando vida selvagem, porém o céu lá estava com bastante fumaça, o que atrapalhou muito a visualização do cometa. Voltei ao Rio ontem [segunda], já pensando em tentar essa foto aqui, mesmo com a forte poluição luminosa que a cidade emite à noite", contou Cavalcanti.
O fotógrafo diz que usou um aplicativo (veja dicas abaixo) para descobrir a posição exata do cometa e que horas ele estaria visível no céu do Rio.
"Com esses dados pude planejar a foto dele passando 'por cima' do Pão de Açúcar. Essa madrugada, fui até o Mirante Dona Marta em Botafogo e, de lá pude flagrar o cometa na posição exata. O céu estava bem limpo, as fotos ficaram incríveis!"
Cavalcanti conta que já havia clicado outros dois cometas en paisagens do Rio – o Neowise no interior do estado, e o Leonard passando ao lado do Cristo Redentor.
"Mas o Atlas realmente é o mais brilhante", diz o fotógrafo.
O 'Cometa do Século'
Desde a metade deste mês de setembro, os entusiastas da astronomia têm a oportunidade de observar o C/2023 A3 (Tsuchinshan–ATLAS), que está se tornando cada vez mais visível no céu noturno.
Atualmente, o "Cometa do Século" está ficando mais próximo do Sol, o que o torna mais visível para os observadores.
Na última sexta-feira (27), foi justamente o seu "periélio", quando o cometa ficou com um brilho intenso devido à proximidade com o nosso astro.
'Cometa do Século' indo 'na direção' do Pão de Açúcar — Foto: Marcello Cavalcanti
Dicas de observação do C/2023 A3
Para observar o cometa, é preciso lembrar que as dicas de visualização mudam ao longo dos dias por conta de sua trajetória em relação ao Sol e à Terra, mas ele poderá ser visto em TODO o país (dependendo das condições climáticas, claro).
Simulação mostra a posição do cometa no céu de São Paulo às 5h30 da manhã (horário local) do dia 28 de setembro. — Foto: The Sky Live/Reprodução
Essas variações são causadas pelo movimento do cometa em sua órbita, que altera sua posição em relação ao nosso planeta e ao Sol ao longo do tempo.
Por isso, para localizar o C/2023 A3 no céu, aplicativos de observação de estrelas para celular como o Star Walk 2 ou o Sky Tonight podem ser bastante úteis, já que permitem a identificação de diversos objetos astronômicos, além de cometas.
Basta procurar pelo C/2023 A3 na ferramenta de busca desses apps e apontar o celular para o céu perto do melhor horário de observação (que vai variar ao longo dos próximos dias).
Tendo isso em vista, siga as DICAS ESSENCIAIS separadas pelo g1:
- Até 7 de outubro, o cometa está se aproximando do Sol e da Terra, o que faz com que ele apareça nas primeiras horas da manhã, no leste, pouco antes do nascer do sol.
- Entre 7 e 11 de outubro, o cometa vai ficar muito perto do Sol no céu (na visão relativa daqui do nosso planeta), o que dificulta sua visualização, já que o brilho solar ofusca sua imagem.
- Após 12 de outubro, o cometa começa a se afastar novamente, e a posição no céu muda. Ele se torna visível logo após o pôr do sol, no oeste, perto do horizonte, exigindo novos horários e direções de observação.
Além disso, por conta na sua maior aproximação à Terra, perto do dia 13 de outubro o cometa alcançará seu brilho máximo, potencialmente chegando a uma magnitude de 3,0 ou 2,0 (quanto menor esse número, mais brilhante é o objeto), de acordo com plataformas especializadas de medição.
O C/2023 A3, também conhecido como Tsuchinshan-ATLAS, em imagem feita em 10 de junho de 2024. — Foto: Wikimedia
Por que o apelido de cometa do século?
A expectativa é que em torno dessa data seu aparecimento traga um brilho tão intenso como o do cometa Hale-Bopp (a magnitude do Hale-Bopp também foi perto de 3), que passou pela Terra em 1997 e foi um dos mais brilhantes da segunda metade do século XX. Por isso, o apelido de "Cometa do Século".
"[Sua passagem] vai ser bem brilhante devido à combinação da proximidade da Terra e do Sol, além de efeitos relacionados à geometria da órbita desse cometa, que criarão condições óticas ideais para intensificar seu brilho", explica ao g1 o astrônomo brasileiro Pedro Bernardinelli, um dos responsáveis por descobrir o maior cometa já registrado na história da astronomia.
"O Hale-Bopp também contou com uma série de condições ideais para aumentar sua visibilidade. Ao que tudo indica, vamos ter sorte novamente", diz Bernardinelli.
O C/2023 A3 foi descoberto em janeiro de 2023 de forma independente, por dois observatórios, o Observatório de Tsuchinshan (ou Purple Mountain) na China e o projeto ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) no Havaí.
Cometas mais brilhantes do ano ☄️
Os cometas são grandes objetos feitos de poeira e gelo que orbitam o Sol. Neste ano, os destaques de observação ficaram com os seguintes astros:
- C/2021 S3 (PANSTARRS). Período de visibilidade: de janeiro a junho. Brilho Máximo: março. Visibilidade: por meio de binóculos, em céus escuros, durante a madrugada.
- C/2023 A3 (Tsuchinschan-ATLAS). Período de visibilidade: de setembro a novembro. Brilho Máximo: outubro. Visibilidade: final da madrugada (começo de outubro) e começo da noite (final de outubro), por meio de binóculos.
- 12P/Pons-Brooks (ou Cometa do Diabo). Período de visibilidade: de fevereiro a junho. Brilho Máximo: abril. Visibilidade: por meio de binóculos, no começo da noite.
- 13P/Olbers. Período de visibilidade: de junho a agosto. Brilho Máximo: julho. Visibilidade: por meio de binóculos, no começo da noite.
- 62P/ Tsuchinschan 1. Período de visibilidade: de janeiro a março. Brilho Máximo: janeiro. Visibilidade: por meio de binóculos, durante a madrugada.
- 144P/Kushida. Período de visibilidade: de janeiro a fevereiro. Brilho Máximo: janeiro. Visibilidade: por meio de pequenos telescópios, em céus escuros, durante o começo da noite.
A poluição deixa mesmo o céu mais bonito?