Greve na UFRRJ — Foto: Sintur-RJ
Em greve há mais de 2 meses, servidores das universidades e institutos federais do Rio permanecem com as atividades paralisadas. Segundo sindicatos dos trabalhadores, continuavam em greve no Rio de Janeiro na tarde desta terça-feira (28): UFRRJ, UFF, IFRJ, UNIRIO e o Colégio Pedro II.
Já a situação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é um pouco diferente, pois apenas os técnicos administrativos estão em greve, sem adesão dos professores. As aulas na unidade seguem normalmente.
Reajuste salarial e reestruturação de carreira são algumas das reivindicações. Como consequência, estudantes e responsáveis relatam que tem sofrido adiamento de aulas, prejuízo na aprendizagem e evasão de servidores .
As reitorias estão se reunindo com as associações de funcionários para reorganizar o calendário letivo e oferecendo apoio às reivindicações dos sindicatos das categorias.
Enquanto as universidades federais estão em greve desde o dia 11 de março, o Instituto Federal do Rio de Janeiro e Colégio Pedro II estão em greve desde o dia 3 de abril.
O que dizem as instituições federais?
Procurada pelo g1, a reitoria do Colégio Pedro II informou que existe uma evasão de funcionários em razão dos baixos salários, afetando diretamente a qualidade da educação.
“Os baixos salários e a desvalorização das carreiras afetam o cotidiano escolar e, portanto, a qualidade do ensino e demais serviços ofertados”, diz a nota do colégio.
Um acordo foi assinado entre funcionários e reitoria para garantir a reposição das atividades no período em greve para garantir a formação dos estudantes.
Com mais de 12 mil alunos sem aula, a suspensão do calendário acadêmico e de atividades acadêmicas e administrativas prejudicam o aprendizado
O Conselho Nacional dos Institutos Federais (Conif) emitiu uma nota, assinada pelo IFRJ e Pedro II, em apoio às reivindicações de servidoras e servidores da rede federal de educação.
Posicionamento das Universidades Federais
UNIRIO
A Reitoria da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) manteve uma série de reuniões na última semana, com os comandos locais de greve (CLGs) dos três segmentos — técnico-administrativo, docente e discente. A decisão foi pela suspensão do calendário acadêmico.
O reitor José da Costa Filho decidiu pela convocação do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) na última segunda-feira (27) a fim de deliberar sobre o calendário.
UFRRJ
A instituição informa que servidores técnicos e docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) estão em greve pela recomposição salarial dos servidores Técnico-Administrativos em Educação (TAEs) e pela recomposição do orçamento das universidades.
A greve dos técnicos, que foi deflagrada em 11 de março, já é sentida pela universidade nos mais variados setores administrativos. Já a greve dos docentes, iniciada dia 23 de maio, reflete impacto para as atividades de ensino, pesquisa e extensão.
“Além de ser um direito constitucional, é uma ferramenta de luta da categoria pela valorização do trabalho docente e de defesa da universidade pública, por meio de propostas de recomposição salarial e reestruturação da carreira, mas também das exigências de recomposição do orçamento das universidades e todas as ações correlatas”, diz a nota oficial.
IFRJ
O Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) assegura que, assim que a greve for encerrada, será alinhada a retomada dos calendários acadêmicos com a garantia da reposição de todo o conteúdo acadêmico dos cursos ministrados em nossas 15 unidades.
O g1 perguntou sobre o impacto da greve no instituto, mas não obteve retorno.
UFF
A Administração Central da Universidade Federal Fluminense (UFF) reforça o respeito aos movimentos grevistas, em especial à luta por melhores salários e pela garantia de condições financeiras necessárias ao pleno funcionamento da universidade. Ratifica, ainda, que é inadmissível qualquer tentativa de impedir a livre circulação nos campi de professores, técnicos administrativos e estudantes que não aderiram à greve.
A universidade disse que qualquer alteração no calendário letivo, como ampliação dos dias de aula, ajustes ou flexibilização, é uma atribuição exclusiva do Conselho de Ensino e Pesquisa (Cepex) e será considerada em caso de necessidade.
UFRJ
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) não se pronunciou, alegando que os servidores de cargos técnico-administrativos em educação estão em greve.
O que dizem os sindicatos
Sindscope (Colégio Pedro II)
Segundo o Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II (Sindscope), a greve afeta todos que compõem a comunidade escolar, tanto servidores, quanto estudantes e responsáveis.
“É muito trabalhoso construir uma greve e sabemos que como é ruim para os estudantes ficarem sem aula. Porém, se entramos em greve é porque a situação é muito grave! Há poucas semanas, a reitora do Pedro II deu uma entrevista falando sobre o campus Centro. A qualquer momento [o campus] pode ter um incêndio devido às péssimas condições infraestruturais e isso se deve à falta de orçamento”, relata Sandro Justo, coordenador geral do Sindscope.
Para ele, a greve significa defesa de uma educação pública de qualidade, desejando aulas, mas com os servidores valorizados.
Confira as reivindicações:
- Concessão do regime de Dedicação Exclusiva aos docentes que entraram no último concurso sem este regime;
- Valorização do CREIR (Educação Infantil) enquanto campus autônomo;
- Melhor estrutura aos cursos de graduação, pós-graduação e Proeja (Educação para jovens e adultos voltada à educação profissional);
- Debate sobre o fim de concursos para ingresso de estudantes sendo apenas por sorteio para de diminuir a elitização da escola;
- Resolução urgente das condições infraestruturais do campus Centro;
- Fim da sobrecarga de trabalho das servidoras e servidores dos Anos Iniciais;
- Luta por mais códigos de vagas e mais concursos.
SINTUFRJ (UFRJ)
O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação da UFRJ (SINTUFRJ) informou que a greve continua. Na última segunda-feira (27), os servidores técnico-administrativos em educação da UFRJ tiveram nova assembleia, às 14h, para avaliação e definição dos rumos da greve.
Confira as reivindicações:
- Recomposição de perdas salariais acumuladas desde 2010 — mais de 50% segundo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA);
- Reestruturação Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação (PCCTAE);
- Recompor orçamento das instituições federais de ensino, que sofreu cortes desde 2013 e ficou congelado nos anos de governo de Temer e Bolsonaro, segundo a SINTUFRJ.
Em entrevista ao g1, Esteban Crescente, coordenador-geral do SINTUFRJ, disse que o PCCTAE está há 18 anos defasado, sendo a pior média salarial dos trabalhadores do serviço público federal.
“Somos a maior categoria com 18% da força de trabalho, estamos nas universidades e institutos. Esta situação implica em forte evasão de nosso segmento profissional, atrapalhando o funcionamento das universidades e institutos federais, que perdem bons quadros”, relata.
Ele conta ainda que a UFRJ tem, em 2024, metade do orçamento nominal de 2012, e que o resultado disso são prédios com desabamento, contas atrasadas, trabalhadores terceirizados sem pagamento e estudantes com bolsas de assistência insuficientes.
Sintuff (UFF)
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFF (Sintuff) disse em nota que a forma como o governo está conduzindo as negociações aumenta o abismo entre as categorias remuneradas e menos remuneradas.
“Antes de falar dos ‘impactos da greve’ isoladamente, é preciso verificar que a greve desnuda situações de debilidade que são parte do cotidiano. O Restaurante Universitário, considerado pela reitoria da UFF um serviço essencial por exemplo, já atende uma quantidade de refeições que transcende amplamente sua capacidade adequada. Há elevadores parados sem manutenção em vários prédios. Antes de falar dos impactos da greve, o Sintuff alerta para falarmos dos impactos causados pelo bloqueio orçamentário, que é muito maior”, afirmou Lucyene Brito, coordenadora-geral do sindicato.
O Sintuff encara a proposta do governo muito inferior aos acordos de diversas categorias do serviço público federal, ligadas às áreas de arrecadação, segurança pública e órgãos de controle.
Confira as reivindicações:
- Reajuste salarial, com recomposição de perdas salariais que ultrapassam 53% após vários anos de congelamento;
- Reestruturação da carreira;
- Recomposição orçamentárias das universidades.
Sintur-RJ (UFRRJ)
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da UFRRJ (Sintur-RJ), os técnico-administrativos continuam em greve já que a proposta apresentada pelo Governo não atendeu as demandas de reestruturação da carreira e recomposição salarial.
“Por isto mantemos a greve e apresentaremos uma contraproposta. Na terça (28), faremos uma panfletagem na entrada da Universidade para informar da continuidade da nossa greve. Estamos em diálogo com os professores para fazer junto esta atividade”, informou Ivanilda Reis, coordenadora-geral do Sintur-RJ e da FASUBRA (Federação dos Sindicatos das Instituições Federais de Ensino do Brasil).
SINTIFRJ (IFRJ)
O Sindicato dos Trabalhadores do Instituto Federal do Rio de Janeiro (SINTIFRJ) afirma que o segmento de trabalhadores(as) vem numa crescente mobilização pela reestruturação e a valorização da carreira desde 2023.
Para o SINTIFRJ, a categoria representa um dos piores rendimentos de todo o serviço público federal, sendo assim um dos fatores decisivos para a deflagração da greve que tem caráter nacional e unificado.
Confira as reivindicações:
- Reestruturação de carreira para técnicos e para docentes;
- Recomposição salarial com reposição de perdas inflacionária sobre os salários de servidores técnicos e docentes (técnicos, 2017-2024, docentes, 2019-2024);
- Recomposição dos orçamentos dos institutos federais que desde 2016 vem sofrendo drásticos cortes ainda que tenham aumentado o número de matrículas e abertos novos cursos e unidades da Rede;
- Revogação do Novo Ensino Médio;
- “Revogaço”: Revogação de uma série de normas infralegais (portarias, decretos e etc) aprovadas nos governos Temer e Bolsonaro que prejudicam a Educação Federal como é o caso da portaria 983/2020 e da Instrução Normativa 49/2023 (que alterou a IN 54/2021 do governo Bolsonaro) que fere o direito constitucional à greve.
Asunirio (UNIRIO)
Rodrigo Ribeiro, coordenador-geral da Associação dos Trabalhadores em Educação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Asunirio), enfatizou sobre a importância da greve. Segundo ele, os técnicos têm o menor piso do governo federal, significando que muitos profissionais estão em situação de insegurança alimentar.
“Cada vez mais a nossa greve se justifica mais porque hoje a gente está fazendo greve para trabalhar e atender melhor. Sem a recomposição, a gente vai continuar tendo — como tem hoje — banheiros sem privadas, falta papel higiênico, falta detergente nos banheiros... a questão da assistência estudantil está cada vez pior, o estudante não consegue se manter na universidade. Hoje a garantia do estudante é sobreviver”, disse Rodrigo Ribeiro, coordenador-geral a Associação dos Trabalhadores em Educação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Asunirio).
O atendimento do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle também está sendo prejudicado pela paralisação com a suspensão das cirurgias agendadas pela ausência de servidores.
Confira as reivindicações:
- Recomposição da receita da universidade;
- Recomposição das perdas inflacionárias;
- Reestruturação da carreira (que é de 2005 e que contém diversos cargos extintos).