Por Gabriel Barreira, RJ2


TCE investiga uso político dos programas da Uerj

TCE investiga uso político dos programas da Uerj

O Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) identificou que candidatos por diferentes partidos constam na "folha secreta" de pagamentos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) – um suposto esquema de contratações com pouca transparência.

O RJ2 obteve uma lista com 375 pessoas que concorreram nas últimas eleições, perderam e acabaram nomeadas nos projetos sem transparência. Um número que reforça as suspeitas de uso político dos programas.

No fim do ano passado, o caso já tinha sido denunciado como abuso de poder pelo Ministério Público Federal. O Ministério Público do RJ e o Tribunal de Contas também investigam.

Entre as centenas de nomes, há 32 partidos pelos quais concorreram nas eleições de 2018 e de 2020. E o número pode ser maior: o levantamento do TCE – que cruzou os dados dos candidatos com os beneficiados pela “folha secreta” da Uerj – não incluiu os candidatos à eleição mais recente, a de 2022, enquanto os projetos estavam a pleno vapor.

Só com pessoal, foram gastos R$ 640 milhões em 21 projetos entre o ano passado e o retrasado.

‘Ratinho Eletrecista’

Jose Carlos Jopes de Jesus é mais conhecido pelo apelido: Ratinho. Candidato a vereador em Cachoeiras de Macacu há três anos, levou o nome pra urna com um erro ortográfico: Ratinho eletrecista — com ‘e’, ao invés de ‘i’.

Assim mesmo concorreu. Teve apenas 380 votos e perdeu a eleição. Mas, logo depois, ganhou um cargo secreto na Uerj. Foi nomeado na Universidade do Mar, um programa para valorizar o empreendedorismo sustentável na atividade pesqueira.

O RJ2 ligou para Ratinho, que atendeu, mas desligou quando perguntado sobre a folha secreta. Depois, não atendeu mais.

A profissão declarada pelos candidatos pode ajudar os investigadores a esclarecer outra suspeita: se houve ou não processo seletivo.

Almir Lanterneiro foi candidato a vereador por Paty do Alferes. O nome de urna indicava sua profissão. Com apenas 35 votos, não chegou nem perto de se eleger.

Pouco tempo depois, já estava trabalhando no programa Escola Criativa. Ele, que declarou ter ensino fundamental, deveria atuar num projeto universitário para evitar a evasão escolar.

O RJ2 tentou ligar para perguntar o que fazia, mas ele não atendeu e nem respondeu as mensagens.

A listagem de ex-candidatos nomeados na universidade expõe ainda outra relação da vida política com a suposta vida acadêmica.

Vinte e uma pessoas que ocupavam cargos em direção partidária também receberam cargos na folha secreta da Uerj. Entre eles, estão sete presidentes municipais de partido.

Fabio Dalmasso Coutinho era presidente do PL de Niterói. Ele já foi condenado por falsificar a assinatura da mãe em um cheque.

No fim de 2021, a revelação da condenação pelo RJ2 fez com que Dalmasso perdesse o cargo de secretário de Habitação da prefeitura. Ele havia acabado de ser nomeado, mas pediu exoneração.

A entrada do nome dele na folha secreta da Uerj ocorreu pouco tempo depois.

Dirigentes de partido nomeados na Uerj eram todos partidos da base aliada do governo estadual — Foto: Reprodução

Os 21 dirigentes de partido nomeados na universidade eram dos seguintes partidos - todos partidos da base aliada do governo estadual:

  • 7 PL
  • 2 PRTB
  • 6 PTB
  • 5 Republicanos
  • 1 Solidariedade

O que dizem os citados

A Uerj afirmou que qualquer cidadão tem direito de participar de extensão universitária, desde que obedecidos os requisitos da impessoalidade e regras vigentes para contratação, que estabeleceu este ano regras mais rigorosas e e que tomaria providências caso notificada a respeito de pessoas legalmente impedidas de participar dos programas.

Fábio Dalmasso Coutinho disse que foi selecionado por análise de currículo e que desenvolveu atividades pertinentes à sua formação acadêmica e experiência em gestão pública.

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