Por Pedro Bassan , RJ2


Família com roupa do candomblé acusa motorista de aplicativo de preconceito religioso — Foto: Reprodução TV Globo

Policiais da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) analisaram as imagens das câmeras de segurança que registraram o momento em que uma família é impedida de entrar em um carro de aplicativo, no sábado (29), na Baixada Fluminense, e agora tenta localizar o motorista.

De acordo com Taís Fraga, ela, suas duas filhas, e sua sogra foram impedidas de entrar no carro por estarem com roupas do candomblé, em um episódio de preconceito religioso.

“Quando ele viu que minha nora e as meninas estavam com a roupa e se aproximando do carro, não deixou. Olhou para as meninas de cima a baixo e não deixou. E eu achei que isso foi um preconceito grande”, diz Vera Lúcia da Rocha, sogra de Taís que não estava usando as roupas religiosas e, até então, não havia sido impedida de entrar no veículo.

“Ele não precisou nem falar. O olhar dele já disse tudo. Ele olhou a gente e simplesmente falou que a gente não ia entrar no carro. Não precisava nem dizer mais nada. Quando ele vira para o lado e vê a gente com roupa de santo, ele fala que a gente não pode entrar no carro. “Vocês não vão entrar no meu carro. Não levo vocês’”, relembrou.

Delegada quer ouvir a família novamente

O episódio causou dor e constrangimento na família.

“Um constrangimento, um preconceito nunca vivido. Foi doído e ainda foi mais doído ter que entrar e ver minha filha não querendo entrar em outro carro com medo de o motorista se recusar de deixar a gente entrar por conta da nossa religião, por conta da nossa fé”, disse.

Taís Fraga registrou ocorrência na 59ª DP, em Duque de Caxias, mas o caso foi transferido para a especializada em crimes de intolerância.

Família com roupa do candomblé acusa motorista de aplicativo de preconceito religioso — Foto: Reprodução TV Globo

A delegada Rita Salim, afirmou ao g1 nesta segunda-feira (1), que, além do motorista, quer ouvir a família mais uma vez.

“Já fizemos contato com a família e esperamos ouvi-las amanhã, novamente. Queremos entender mais detalhes sobre o que esse motorista disse, se proferiu algum tipo de ofensa e etc. Se isso aconteceu, a tipificação do crime poderá ser mudada", completou a delegada.

'Vou continuar usando a minha roupa'

“Se eu tiver que pegar um Uber com a minha roupa, vou pegar. Se eu tiver que sair pra fazer alguma coisa, vou continuar saindo e seu eu tiver que reportar às autoridades, vou continuar reportando, como todo mundo deve fazer, pra gente tentar acabar com esse preconceito”, disse Taís.

Desde o início deste ano, uma nova lei tornou mais severas as penas para os crimes de intolerância religiosa. Agora, as penas agora vão de 2 a 5 anos de reclusão.

Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, os ataques contra religiões de matriz africana aumentaram 45% no ano passado, em relação aos últimos dados disponíveis, de 2020.

A Uber afirmou que não tolera qualquer forma de discriminação, e que desativou temporariamente a conta do motorista enquanto aguarda as investigações.

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