Por Bette Lucchese, Lucas Soares, Lucas Von Seehausen, Tiago de Melo, RJ1


Além da Emusa, candidatos que não se elegeram em Niterói foram nomeados na Clin

Além da Emusa, candidatos que não se elegeram em Niterói foram nomeados na Clin

Cinquenta e quatro pessoas foram exoneradas da Empresa Municipal de Niterói (Emusa) nesta sexta-feira (31). Antes, outras 42 pessoas também foram obrigadas a deixar os cargos na quarta (29), entre elas políticos e parentes de políticos. O órgão é responsável por obras de saneamento e urbanismo na cidade da Região Metropolitana.

A empresa é alvo de dez investigações do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ). Há suspeitas de nepotismo e contratação de funcionários-fantasma.

A Emusa não foi a única a abrigar aliados políticos da Prefeitura de Niterói. Segundo as investigações, a Companhia de Limpeza Urbana de Niterói (Clin) também foi loteada com candidatos a vereador que não se elegeram.

Parentes

Fachada da Prefeitura de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/ TV Globo

O número de comissionados, que são os funcionários não-concursados, dobrou nos últimos dois anos. Vereadores, secretários, políticos aliados empregaram parentes na Emusa.

Flávia Chagas Marques é esposa do presidente da Câmara de Vereadores, Milton Cal, com salário de R$ 9.555,21.

Mariza Neves Gama, prima do ex-prefeito de Niterói e atual secretário-executivo do município, Rodrigo Neves, recebe R$ 9.961,72 por mês.

Os cunhados do vice-prefeito de Niterói, Paulo Bagueira, ganhavam cerca de R$ 10 mil: Michel Machado Jorge com salário de R$ 9.698,48 e Ivan Oliveira Jorge Júnior recebendo R$ 10.020,99.

Transparência

A falta de transparência chamou a atenção do MPRJ. Entre os investigados está o prefeito do município, Axel Grael.

Dois dias após as denúncias do RJ1, Paulo César Carrera, presidente da Emusa, foi exonerado. Outros 42 funcionários perderam os cargos. O Diário Oficial de Niterói, no entanto, não tinha os nomes dos exonerados, mas apenas números. A lista secreta contava com políticos e parentes.

Como Aldemar Tadeu Costa Furtado, dirigente partidário e Ricardo Evangelista Lírio, ex-vereador e candidato derrotado na última eleição municipal.

Nova lista

Na lista divulgada nesta sexta, saiu uma nova lista de exonerados com 54 nomes. Entre eles a esposa do presidente da Câmara de Vereadores de Niterói, Flávia Chagas Marques.

Outro nome que está na listagem é o de Camila Andrade Pires, esposa do ex-prefeito de Itaperuna, Marcus Vinícius de Oliveira Pinto, que é réu por improbidade administrativa em um processo que investiga enriquecimento ilícito e foi afastado do cargo antes de terminar o mandato.

Foi exonerado também Luciano Wan Meyl, candidato derrotado a vereador pelo PV em 2020.

Clin

MPRJ investiga as nomeações da Companhia de Limpeza Urbana de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/ TV Globo

A Emusa não foi a única empresa pública que abrigou aliados. Este também é o caso da Clin. Pelo menos 11 candidatos que não se elegeram para a Câmara Municipal de Niterói ganharam um emprego.

O levantamento foi feito pelo vereador Professor Túlio (PSOL-RJ), que mostra que quase todos são do Cidadania e um dos PC do B, partidos da base aliada do prefeito Axel Grael.

Todos são comissionados, com cargo de chefia e nomeados em 2021.

“Infelizmente, é uma prática comum da prefeitura nomear candidatos a vereador derrotados para cumprir tarefas. E isso, na nossa visão, é muito ruim. Porque nós queremos pessoas mais qualificadas para promover serviços públicos para população. Todos esses recursos, Niterói está usando para comprar apoio político. E nós queríamos tivesse sido investido, por exemplo, em educação, saúde e transporte. Ou até mesmo na Emusa, na Clin, mas com pessoas qualificadas, concursadas para exercer suas funções”, afirmou Professor Túlio.

A Prefeitura de Niterói afirmou que o portal da transparência possui informação sobre os funcionários e que todos cumprem a carga horária de acordo com as funções. (Veja a nota completa no fim da reportagem.)

Salários

Os maiores salários são os que têm cargo de chefe de divisão. Bernardo Medeiros e Rodrigo Ferreira ganham cerca de R$ 15,8 mil e João Victor de Souza Teixeira recebe R$ 13,8 mil.

Depois vêm os chefes de serviço. Carlos Alberto Bruno ganha R$ 11,8 mil. Fabiano Roale de Oliveira possui salário de R$ 7 mil. Flavio de Araújo Silva ganha R$ 6,3 mil e Selma Maria Rodrigues da Silva recebe R$ 4,7 mil.

Há ainda os encarregados. Marcelo Ramalho de Freitas com salário de R$ 7,8 mil. Já Andreia Aleixo Bittencourt e Wagner da Silva Cortez ganham cerca de R$ 5 mil. E José Carlos Araújo Monte, com salário de R$ 4,4 mil.

CPI

O RJ1 solicitou uma entrevista com o prefeito Axel Grael, mas a assessoria de comunicação da Prefeitura de Niterói afirma que ele não vai falar.

Niterói tem 21 vereadores. Para a abertura de uma CPI são necessárias 7 assinaturas. Até a última atualização desta reportagem, apenas 5 eram favoráveis.

“Nós já assinamos a CPI. Faltam duas assinaturas. O prefeito precisa sinalizar para a população que ele não concorda mais com esse tipo de gestão”, afirmou o vereador Professor Túlio.

MPRJ

O MPRJ divulgou nota sobre as investigações e as dispensas de funcionários.

“Saiu um decreto que causa um certo espanto porque determina que não seja ampliado o quadro, mas permite que sejam substituídos os dispensados, já que não foram extintas essas vagas. Então fica a pergunta sobre a motivação das dispensas e ainda sobre a efetiva intenção de enxugar os quadros”, afirmou o MPRJ.

Nota da Prefeitura de Niterói

"A Companhia de Limpeza de Niterói ( CLIN) informa que no portal da transparência consta tudo relacionado aos funcionários da empresa , cargos e funções que desempenham e que , todos cumprem carga horária de acordo com suas funções".

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