Por Lucas Machado, Marcelo Gomes, Júnior Alves e Flávia Freitas


Corpo de vítima não chegou ao IML em tragédia de Petrópolis, diz família

Corpo de vítima não chegou ao IML em tragédia de Petrópolis, diz família

O pai de uma das 235 pessoas que morreram na tragédia de Petrópolis no ano passado afirma que não sabe o paradeiro do corpo do filho, recolhido de escombros no Morro da Oficina.

“Eles começaram a colocar muitas fitas nos corpos que estavam achando lá em cima. Juntou Ricardo, Kiko, Bim e mais seis pessoas, porque ele tinha quase 2 metros de altura e pesava quase 100 quilos. Bombeiros deram um saco a eles, e eles desceram com o corpo. Aqui embaixo, passaram pros bombeiros, que botaram o corpo na lona e o levaram. Quando eu cheguei aqui, encontrei com eles, que disseram que já tinham levado o Lucas. Fui para o IML e passei quatro dias procurando o Lucas lá. Identifiquei minha filha, minha esposa, e fiquei esperando o Lucas para poder enterrar todos juntos”, desabafa Adalto Vieira da Silva, de 51 anos.

Lucas Rufino, de 20 anos, desapareceu no Morro da Oficina após chuva em Petrópolis — Foto: Portal dos Desaparecidos/Polícia Civil

Ele perdeu a esposa, Eliane, a filha Ana Clara, de 6 anos, e o filho Lucas Rufino, de 21, no deslizamento no Morro da Oficina, no temporal que 15 de fevereiro do ano passado. A maior tragédia climática da história de Petrópolis, que completa 1 ano nesta quarta-feira, deixou, além dos 235 mortos, 4 mil desabrigados ou desalojados.

Desde aquele dia, Adalto diz que nunca mais teve notícias do corpo do filho. Ele diz que não há como as pessoas que retiraram o corpo dos escombros terem confundido outra pessoa com Lucas.

“Meu filho era diferenciado, pela altura dele. Tinha 1 metro e 95. Os dois tios que pegaram ele, puxaram ele, tiveram contato com ele não têm como confundir com outra pessoa. Os dois tios puxaram ele, colocaram no chão. E mais dois vizinhos que tiveram contato quando ele foi achado e desceram com ele lá de cima”, afirma.

Adalto Vieira da Silva, pai de Lucas Rufino, vive angústia de não saber onde está o filho, vítima da tragédia em Petrópolis — Foto: Reprodução Inter TV RJ

“Meu filho estava perfeito. O delegado perguntou: “você tem certeza que seu filho foi tirado inteiro? Porque sobrou um corpo lá amputado’. Nós temos certeza que o Lucas saiu inteiro. Os parentes que tiraram ele de lá”.

Desesperado para encontrar o corpo do filho, Adalto começou a buscar provas por conta própria.

“Tinha um fotógrafo tirando as fotos lá de cima. Se não fossem essas fotos, hoje eu estaria falando sem ter provas. Porque ninguém sabe o que é você chegar, passar quatro dias no IML, o delegado chegar pra você e falar ‘desculpa pai. Mas o Lucas não tá aqui. Não veio’. Como que não veio? Quando ele falou isso pra mim, eu enterrei minha esposa e a minha filhinha, e retornei pra buscar o Lucas. (...) Aí comecei a buscar prova. Foi quando eu encontrei esse repórter que tirou essas fotos lá de cima do morro. Tem foto do meu cunhado dando entrevista, e o corpo do Lucas no chão”.

A falta de informações faz com que a dor da perda do filho vire um sofrimento sem fim.

“Fico pensando toda noite ‘meu Deus, o que fizeram com meu filho?. Será que extraviaram? Será que levaram pra fazer alguma coisa? Será que enterraram errado?’. A gente não tem como saber. Só as autoridades sabem disso, mas eles não te passam, não te chamam. Simplesmente eles dizem pra você ficar em casa aguardando”.

Em nota, a Polícia Civil do Rio informou que concluiu o inquérito sobre o sumiço de Lucas, e o encaminhou ao Ministério Público.

“De acordo com a 105ª DP (Petrópolis), o inquérito foi concluído e encaminhado ao Ministério Público. Diversas diligências foram realizadas a fim de localizá-lo, assim como foram ouvidos os parentes, testemunhas e profissionais que trabalharam no resgate. O corpo reclamado pelos familiares passou por exame necropapiloscópico, que comprovou se tratar de outra vítima, tendo esta, inclusive, 15 centímetros a menos do que Lucas Rufino.

A Superintendência de Perícia Técnico-Científica da Polícia Civil reforça que todas as vítimas liberadas foram identificadas por meio de métodos cientificamente comprovados.

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Em relação à bermuda usada por um familiar - que alega ter retirado o corpo de Lucas do local da tragédia -, a peça de roupa foi entregue à Defensoria Pública, que confrontou o material com o sangue de familiares, tendo resultado negativo.

Quanto ao confronto de material genético de familiares com despojos encontrados, o Instituto de Pesquisa e Perícia em Genética Forense (IPPGF) da Polícia Civil coletou amostras de DNA de familiares de todas as vítimas, porém não houve compatibilidade confirmada até o momento. Os despojos já tiveram os perfis genéticos traçados. Todos os dados foram incluídos no Banco Nacional de Perfis Genéticos, que permite uma busca constante por meio de variáveis do cruzamento dos materiais coletados”, diz o comunicado da polícia.

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